Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Quando Agosto Cai em Junho


Eu encontrei quem eu desejo, finalmente, nesta terça-feira.
Desde um longínquo 29 de janeiro de 2010 eu não tinha aquele abraço, aquele contato, aquele sexo (pior: nem aquele nem qualquer outro!). Mas o importante é que aquele é o melhor de todos.
Percebi esta vaidade em mim: quero ter o que desejo. Só me serve o que desejo, não o que me é possível. Talvez por isso não tenho ninguém: vivo, nas festas, avaliando meus pretendentes - observo contornos do corpo, a forma como falam, o riso, o jeito, o que inspiram...e sou uma criteriosa avaliadora que quase sempre reprova aos candidatos.
Construo sempre um pretexto para que minhas exigências e pré-requisitos sejam contemplados. Como não vou achar tudo que quero num só ser humano, fico só, fico sem ninguém. E espero, como esperei, quatro meses para estar com quem, de fato, eu desejo.
Há os que eu desejo, mas que são antipáticos, execráveis,vaidosos, pedantes...mas vou considerar a hipótese de chegarmos a um acordo. Eu estou me referindo a um raro exemplar, um remanescente heterossexual - uma gracinha ele, fofinho...mas antipático ao extremo.
Se ele vai à minha sala de aula, com sua cauda de pavão, omito que fiz graduação em História, e rebato o que ele diz. Ou complemento seus "argumentos brilhantes", já que ele faz isso porque subestima o patrimônio intelectual da turma e lê nas entrelinhas que muitos estão ali menos por capacidade do que por contar com favores de seus padrinhos.
Ah, ele não sabe! e da única vez em que eu estava fazendo uma apresentação e ele discordou de um argumento meu, humildemente concordei com ele. Em seguida, mostrei que ele caiu na armadilha que eu construí, que eu já antevia o rebate. E estrategicamente o conservei no lugarzinho dele: neutro, em explícita submissão a um argumento meu.
Ele olha sempre para mim como quem procura mensagens. Não apenas aquela mensagem que ele pegou numa linha cruzada quando eu, conversando com meu amigo, falei nas tais "aglomerações sexuais", mas aquela outra, do interessado que fica esperando uma "deixa"...ah, L., quem sabe eu deixo, não é?
Mas não é ridículo isso? ele é detestável, chato, impositivo...e eu, Évila e Cláudio nos juntamos para jogar cascas de banana na frente do ego dele...a gente não faz por mal, mas para ele ver, para ficar como Medusa na frente do espelho - ele não vê que petrifica.
Mas, se estou levando em consideração a hipótese de responder ao cortejo de um quase inimigo, deve ser porque eu sou convencida de que não se pode transar com os amigos. Escutem o que eu digo: dá uma ressaca moral terrível, um mal-estar, uma coisa do outro mundo. Isso se o amigo é amigo. Se o amigo é um coleguinha sem a menor importância ou se é uma amizade superficial, pode ser que dê certo. Melhor transar com um inimigo a transar com o amigo, se a questão for parar nos extremos.
Tive alguns inimigos gostosos, como César e Kaká, por exemplo. Mandei o primeiro às turras (na verdade, gente, eu o mandei para a puta que o pariu!) e beijei o segundo, numa festa: nada mal. E a inimizade continua. Raramente desfaço minhas inimizades de infância ou de adolescência - não esqueço não, viu? minha memória afetiva é forte.
Então a minha terça-feira foi isso de, novamente, espremer meu desejado inimigo, só um pouquinho, obrigando o ego dele a ir dar umas voltas. Adoro isso!!!
Vi minha amiga Tati, a quem eu devo muito no sentido subjetivo: poxa, agradeço a Deus por uma amiga assim! ela foi comigo, ela me acompanhou, ela largou seus afazeres para me dar um apoio moral na UFBA. Ela esperou pacientemente por duas horas e ainda foi compreensiva quando eu mal me despedi dela para encontrar Dexter, que também estava na UFBA a tarde quase toda, e já estava para pirar com a minha demora.
E eu fui.
E fui muito feliz por estar com ele.
Geralmente fico feliz pelo cerimonial de a gente se encontrar, dele presumir que eu estou com fome ou que eu preciso comer, de não precisar dizer a ele, porque ele já sabe que eu odeio jantar...ele me leva para tomar cappuccinho (quente ou gelado)e sabe de tudo que eu gosto. É o lado bom da intimidade. E eu gosto dele. Ele gosta de mim. Contudo, nem sempre o gostar recíproco é suficiente para uma relação sobreviver.
A nossa relação tem uma vida descontínua (ou sobrevida, sei lá!)- de vez em quando a gente se separa em silêncio e fica meses, cada um na sua...eu fiquei anos sem ele...depois a gente volta, porque talvez fique tentando ver se é isso mesmo que a gente sente, se vale a pena...
Não queria que ele seguisse concorrendo comigo: esta é uma sombra ruim na relação, sempre foi! não sou doutora, não tenho grana, não tenho emprego...sou só uma estudante...ele não vê isso, não pensa assim. Ele vê apenas que precisa me superar - como se eu estivesse apostando corrida...que bobo!
Mas, então, lá vai num pacote só: fui muito feliz na terça-feira. Eu estava em Salvador.
Enquanto eu estava feliz, um ônibus coletivo adentrou minha casa, derrubou o muro de minha casa, lá pelas 23 horas.
Como eu estava feliz, desliguei o telefone e fui dormir.
Soube na quarta-feira, 11 da manhã, do ocorrido - ok, nenhum bicho meu foi ferido, nenhuma perda salvo a de cerca de 14 metros de muro (não tenho latifúndio, mas herdei uma minúscula casa num terreno que não acaba mais! aleluia!).
Fiquei triste e desesperada, pensando nos prejuízos, nas dores-de-cabeça para obter o ressarcimento, na insegurança em que vou passar nestes dias.
E ainda por cima, a UNEB me pagou dez por cento do que me deve. Sim, 10%, o dízimo! e, como minha amiga teve um imprevisto do outro mundo, uma urgência, eu dei todo o dinheiro que eu tinha. E agora? como é que eu posso pedir de volta? estou frita!
Este é o quarto veículo que entra em minha propriedade - é, já era tempo: o último foi há dois anos! eu falei num outro texto sobre isso dos acidentes ocorrerem sempre nos mesmos lugares - está na cara, não é? eu é que vou mudar os métodos de segurança, certamente.
Pense aí no que é estar em casa e, de repente, ter um ônibus no seu jardim? ou no quintal...ou na sala, porque um veículo de passeio já entrou na sala de minha casa...por sorte, eu não estava morando aqui nesta época.
Não moro em via perigosa, mas moro no topo (não esquina) de uma rua do centro da cidade, mas que não tem cara de centro na extremidade em que moro.
Estou em casa, sem muro - o que é análogo a estar no mato sem cachorro, mas reforço aquela frase já citada; "Se não podes ter um palácio, enfeitas a tua tenda"! eu amo minha casa, seja como for.
O que acho interessante é que fiquei com a impressão de que agosto é agora em junho. Não é paradoxo, não: não dizem que agosto é mês ruim, o mês do desgosto? em dois agostos seguidos fui assaltada a caminho das cidades em que eu trabalhava, só para citar o exemplo. Agora, no dia 02 de junho, Állison Esdras teve o celular furtado no Shopping Salvador, Ângela estava indo ao funeral de uma amiga no mesmo dia, o pai de uma inimiga também estava sendo enterrado naquele dia e um terceiro amigo de amigo também iria ser sepultado nesta mesma quarta-feira. Não é sério? inferno astral coletivo, é? não, certamente, agosto se antecipou.

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