Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 23 de junho de 2010

No meio do caminho


Você, no meio do caminho. Eu, ali, repetindo a voz da personagem de Lobo Antunes dizendo: "Já não pertenço aqui", com o mesmo compasso, com o mesmo ritmo, com o mesmo efeito dramático interior do meu medo de te ouvir dizer: Moça!
E foi por isso que com a mesma calma convicta da personagem, passei por trás de você, toquei a suas costas com carinhosa displicência e te cumprimentei, sem oi nem como vai, mas dizendo o seu nome. Ali eu te disse Já não pertenço. E dei graças a Deus por você estar conversando com outra pessoa, na formalidade profissional, pelo que notei...e passei, porque eu sempre passo.
Já não pertencemos mais, posso dizer - sem negligenciar que fizemos escolhas, sem negar que tenho medo de ouvir: Moça!
Sempre que eu vejo a loja de bijouterias Dona Moça eu lembro de você.
Sempre que eu passo pelo antigo Pedro Falcão Vieira Center, eu lembro de você e lembro do que eu fiz com esse acaso desperdiçado...as cartografias em comum - de Feira a Aracaju, infinitas!
E é sempre o mesmo filme, também, porque eu tive que inventar que você era gay, para poupar os escândalos do paranóico que queria briga porque te surpreendeu beijando meu rosto na boate e aquele clima todo lá; e essa porcaria dessa história toda seccionada por terceiros, pelas minhas mentiras, pelas suas escolhas, pelo seu ego, pelas minhas manias, pelos imperativos de vingança, pelo fato de já nos conhecermos tão bem a ponto de termos medo disso,por sabermos reciprocamente do que somos capazes e procurarmos a proteção da distância.
Como alguém como você pode ter insegurança? Como? não te falta nada! a natureza foi generosa em ter te feito lindo e ainda te contemplar com a simpatia, com a generosidade, com a educação, com uma família legal, com grana, com competência profissional...você nem parece ser de verdade, Príncipe Encantador!
Mas, de fato, Já não pertenço. Estou em paz!

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