Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Combater num bom combate


Nos meus imensos desesperos em relação às instabilidades vividas no emprego, cogitei concorrer a vagas que não tinham qualquer relação com a área de minha atuação. É que em tempo de guerra, urubu é galinha.
No fim das contas, perdi prazos, tive uma inscrição injustamente indeferida ( e neste caso, para uma vaga sob medida para mim) e consegui fazer apenas um concurso, daqueles que a gente se inscreve e tem uma semana para dar conta das coisas.
Foi tudo irregular: o ponto da aula pública foi sorteado antes de iniciada a prova escrita, o ponto sorteado para esta prova escrita voltou a ser posto para sorteio ( o que não pode!), as pessoas copiavam o livro diretamente na prova escrita, no tempo destinado à consulta; e a banca, definitivamente, se eximiu: afirmou que quem quisesse fizesse ao mesmo (em resposta aos candidatos queixosos).
A gente sempre cogita quem é o favorecido da vez - e neste caso, os rumores eram para dois, especificamente.
O resultado saiu ontem e eu fui olhar o currículo do sujeito: incrível, tudo a ver com a disciplina.
Alimento um orgulho bobo para os tempos de hoje: o orgulho de lutar honestamente, de perfazer um bom combate - sem pôr o dedo no olho do adversário, sem recorrer a métodos ilícitos, sem cometer absurdos em favor de um resultado que me beneficie. Então, por incrível que pareça, fiquei feliz por ter perdido para alguém potencialmente capaz e superior para tratar daqueles assuntos (de tecnologia, contemporaneidade, relação homem-máquina).
Claro: não participei para perder. Se me proponho a algo, quero obter aquilo a eu me lanço, meus resultados bons. Entretanto, é uma honra perder para quem sabe mais. Terrível seria se um protegido incompetente passasse, favorecido pelas manobras das bancas e dos chefes de departamento. E quanto incompetentes e medíocres são favorecidos em detrimento dos que são capazes? hoje em dia, as vagas das universidades tendem a ser manipuladas, moedas políticas entre candidatos (e famílias de candidatos com funções e influências políticas), que são negociadas entre os diretores de departamento, em jogatinas estratégicas de acesso à política, a vagas, a trocas, a favores, a licitações nada lícitas.
Tenho pouca paciência com gente sem palavra: atualmente ainda fico consternada com a cara de pau, a ausência total de lisura, de algumas pessoas que fazem qualquer coisa por um resultado favorável a si.
Em tempos de Copa, olho como isso se manifesta: desde que o resultado seja a vitória, tanto faz se a outra equipe foi prejudicada num lance ou não. Simulam-se faltas, jogadores assumem máscaras de vítimas, fazem lances violentos. Simulam e dissimulam.
Lutar um bom combate ou ver um jogo bonito, bem disputado ou alcançar a vitória por mérito é coisa que pouco se vê.
Lembro de um exemplo super próximo, agora: uma pessoa acusou a outra de cometer atos difamatórios contra si.
Quem falou, sabe o que falou.
Quem ouviu sabe o que ouviu e de quem ouviu.
Entretanto, na hora do confronto das versões, quem ouviu negou ter ouvido e, por conta disso, quem realmente falou e não assume, agora deve devorar algum dinheiro deste meu amigo, revertendo a ação.
Acontece todo dia: os maiores pilantras passam incólume à lei porque as pessoas vão deixando para lá, declinando de dar queixa, de reagir.
Quando um desses é posto em Juízo, não há antecedentes contra ele. Reforçam-se suas bases de defesa.
Não é novidade, num país como o nosso, em que a honestidade é vista como burrice. Bom é ser esperto. E ser esperto é usar todos os subterfúgios para vencer, para tirar proveito ou para levar vantagem.
Ontem meu colega de profissão estava assim, perplexo, pelos casos de trabalhos copiados da internet e entregue a ele, em plágios descarados.
Pior: era apenas uma resenha besta, de um texto pequenininho!
A gente reprova - foi o que ele fez e o que eu faria e faço nesses casos - mas fica aquela sensação ruim de que o mundo não tem jeito, que o aluno é um pilantra tão ladrão quanto qualquer outro ladrão ou político corrupto. O produto do roubo é o produto intelectual, mas isso não invalida o delito: é roubo!
Tenho duas figurinhas, também, de quem gosto até, cujos trabalhos foram comprados. Fica na cara, não é? as pessoas em questão não escrevem daquela forma, não têm aquele arcabouço argumentativo e teórico. Mas, sem provas, nesses casos, aprovo a pessoa - Por lei, cabe ao acusador o ônus da prova. Aprovo, mas não esqueço, não confio e desejo que a pessoa se estrepe para ter noção do que está fazendo.
Também gosto da honestidade dos sentimentos - apesar de tudo, acredito que dói menos quando as coisas são claras. Sou clara quando eu estou com raiva, talvez bem mais clara do que quando tenho amor por alguém, mas sempre demonstro o que sinto.
Deixa eu aproveitar enquanto eu estou feliz e, honestamente, não vejo motivo objetivamente dado para isso.
Aproveito esse PROZAC interior e naturalmente dado (tarja preta é que não seria, né, gente? eu nunca tomaria nada para me livrar das dores que são naturais à existência - penso, como os Espíritas, que a vida na Terra é um campo de provas e expiações, embora eu não sei o que fiz para merecer certas coisas pelas quais todo mundo passa).
Um dia perguntaram algo sobre a felicidade a Clarice Lispector (tenho esse vídeo, até)e ela respondeu sem sorrisos e sem cara feliz: "Mas eu sou feliz!".
Todo mundo conhece o perfil da Clarice Lispector, claro, mas a felicidade assume muitas caras.
Estar feliz não é rir em todas as fotos ou a toda hora, nem ignorar os problemas e os entornos de cada dia. Já disse: objetivamente nada mudou em minha vida...mas mudou um negócio que eu não sei o que é, mas que me deixa feliz,e que aos que suspeitam ter relação com Bruno, afirmo que não, foi anterior a ele. Talvez tenha a ver com o sexo bom do dia primeiro de junho, sei lá...mas isso seria o "abre-caminhos", como disse Jorge Amado em Tenda dos Milagres, falando da iaba (lembrem aí que a iaba é uma mulher sem prazer sexual, até que ela encontra Pedro Archanjo): "irrigado o deserto, rota a aridez, vencida a maldição, hosana e aleluia!".
Pode ser que tenha ali, alguma coisa a ver com os dias posteriores; e boa neurótica que eu sou, fico no aguardo do retorno das angústias. Eu sei que preciso delas, a gente mora juntas, a gente vive juntas faz tempo...ela só deve ter ido dar umas voltas.
Enquanto isso, aproveito mesmo!

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