Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Estava à toa na vida...


Nesta quarta-feira de manhã fui devolver os livros que um amigo havia me emprestado e outros livros da Biblioteca Central, sob uma chuvinha bem desagradável.
Como eu estava cheia de peso de livros e sacolas, ao sair da biblioteca desci do salto, literalmente, e usei minhas lindíssimas sandálias da humildade, antevendo o inferno de atravessar o pavilhão de Biologia e todo o PAF I.
Mas até que eu não estava exatamente mal humorada: fique pensando que logo eu estaria em Feira, que eu não tinha nada para fazer, nenhuma obrigação imediata naquela manhã e que cabia apenas o cuidado para não molhar meus cabelos e ver meus 20 reais em escova irem por água abaixo.
Gostei de ter ficado lá no Andarilho Hostel. Percebi que sou apaixonada pela Barra e mais ainda pelo Jardim Brasil: badalado para caramba! e em frente ao Andarilho havia uma Viva Gula. Poxa, como eu gosto dos lanches de lá! são gostosos, não são como os da Perini, que só têm beleza mas não não tem sabor (com exceção da coxinha, cuja melhor do Brasil é feita pela Perini).
Também vi que eu tenho pouquíssima paciência para estadas de favor. Na boa, pagar por sua hospedagem, no sentido de não ficar na casa de ninguém, te desobriga de uma porção de coisas. Poxa, me senti super à vontade, não fiquei pisando em ovos como eu fico quando estou na casa dos outros. Até pensei que não seria assim e relutei, mas vi que vale o preço pago - e que não é muito, ainda mais quando você tem a opção por quarto individual ou quarto coletivo. Como eu era a única hóspede numa segunda-feira de baixa estação, optei pelo coletivo (já que quem formava o coletivo era eu mesma), obtendo 50% de desconto.
Eu estava pensando nessas coisas e rindo por dentro, por ter, excepcionalmente, ficado de bobeira nos banquinhos da sacada da FACOM, na tarde de terça, antes da aula da tarde: é que os caras da Rádio FACOM estavam executando uns funks e comentando as preocupações ecológicas da letra da Eguinha Pocotó e, também, tocaram o Rebolation e ficaram de escracho, puxando minhas gargalhadas - reforçadas pelo fato de eu estar olhando, de longe, minha amiga se batendo para estacionar o carro lá em Letras e porque eu havia lembrado de ter lido na página inicial da internet, sei lá de que portal, gente, que o cantor Latino estava sendo despejado. Ora, onde é que ele vai fazer "festa no apê" agora? kkk!!! olha como o ser humano pode ser cruel! eu ri de um bando de besteiras que minha cabeça besta estava lembrando.
Essa narrativa toda aí é do meu fluxo de consciência sobre as coisas recém passadas e lá vou eu sob a chuvinha...
Para ser exata, sempre olho se tem maconheiro na toquinha de Biologia (ah, o forninho, não!). E não é que àquela hora da manhã tinha um maconheiro estereotipado, cara, de touca rastafári, puxando um cigarrinho de artista em homenagem a Jah?
Acho que eu estava assim, cheia de pensamentos engraçados porque acreditei nas palavras do rapaz da banca de revista lá da Barra, quando eu estava atrás de táxi e perguntei: "Há outro ponto de táxi por aqui ou o negócio é na sorte?" ele me disse: "Então você está com sorte hoje!" - e o táxi surgiu magicamente atrás de mim. Motorista gente fina, por sinal, educadíssimo, culto.
Eu acredito em sorte. Eu acredito em acaso. Acreditei no prognóstico do cara da banca.
Bem, mas aí eu entrei por Biologia e peguei minhas escadarias laterais.
Um cara falou comigo e eu respondi - não sem me perguntar de onde eu o conhecia. Fique pensando nisso, achando que ele foi tão enfático no seu "oi" que, certamente, eu o conhecia de alguma situação prévia entre minhas amigas.
Ele seguiu na minha frente - e eu, ensacolada, sem o glamour dos saltos altos, peguei outro lance de escadas.
Ele me olhou de novo e, desta vez, me pareceu tarado.
Esta minha mente que não vale nada, logo pensou no comentário de Ana Leal, lá no departamento, quando alguém estava falando que em Recife rolava um estupro a cada 5 minutos e Ana gritou: "Onde? Onde é isso? Onde é isso, gente?"- poxa, eu também quero ir para lá.
Acho que eu estava pensando naquele olhar de tarado e chegado à conclusão que poderia haver uma convergência de intenções entre nós. Ora, entreguei a Deus! e lá vou eu quase perto da saída do PAF, mas a chuva aumentou.
O menino, sei lá onde estava, mas de repente ele apareceu de novo, ao meu lado. Juro que eu não entendi nada do que ele disse. Àquela altura, eu já havia pensado tantas misérias e bobagens que eu já havia me teletransportado para bem longe. Então eu falei: "Desculpe? eu não entendi o que você disse!" aí ele me disse que estava me oferecendo uma carona para atravessar o pátio.
Argumentei que aquela chuva era forte demais para ser enfrentada de guarda-chuva e que, por conseguinte, eu iria esperar diminuir. Agradeci e pronto.
Ele disse que já estava indo, então, pois teria aula.
- "Ok, bom dia!".
Mas ele voltou e sentou ao meu lado, se apresentou e me disse uma dúzia de coisas que eu não lembro mais, porque eram coisas vagas, pretextos para qualquer conversinha.
A porcaria de um dos guardas do campus resolveu ir sentar no mesmo banco que a gente - mas o pilantra do guarda vinha acompanhando o contato desde que a chuva me pegou por ali. Ah, odeio testemunhas (Ainda mais naquela hora da manhã, quando a UFBA está semi-deserta)! eu queria ficar à vontade para aproveitar o pretexto de Bruno (era o nome dele), mas sei lá porque ele inventou de me dar um beijo. Lógico, não sou de rejeitar presentes, não sou hostil: aceitei e dei outro.
Brinquei com os feitos do meu batom nele e disse que se ele fosse para a aula daquele jeito iriam pensar que ele era Drag Queen nas horas vagas. (A peste do guarda olhando e ouvindo tudo. Filho da puta!).
Ficamos ambos constrangidos, mas fui perguntando coisas vagas, tipo, qual era o curso dele - Engenharia Mecânica, 5 semestre.
Oh, benditos sejam os cursos de heterossexuais.
Benditos todos os cursos de Ciências Exatas que têm homens do sexo masculino.
Benditas sejam todas as Engenharias, das quais eu só experimentei exemplares da Engenharia de Minas, da Civil e, agora, da Mecânica, mas rezo para ter contato com os caras de Engenharia sanitária e de Engenharia da Computação ( e as demais, claro) a fim de refinar esta minha pesquisa e apresentar resultados mais conclusivos e confiáveis.
Aleluia!
Ele retribuiu a pergunta e eu lembrei que eu estava entrando numa fria, então me limitei a dizer que era de Letras. Se eu digo que eu era do doutorado, ele pensaria que eu tenho uns 60 anos.
Ah, sim, eu estava de sandália por isso ele me viu como a qualquer outra estudante. Nada de pose!
Lembrei de Jaulla Rodrigues, minha amiga e guru-espiritual, e achei melhor não perguntar mais nada: eu não estava preenchendo formulários nem fazendo levantamento de crédito ou cadastro. Logo, se eu descobrisse a idade dele ou pensasse em outros fatores, aquilo morreria ali, não haveria emoções nem "pós-fácio", porque eu sou cheia de protocolo. O cara já correspondia a 75% dos meus pré-requisitos e exigências, melhor não procurar desculpas para fugir da situação. Por isso, pedi a carona dele até o estacionamento I, porque a chuva estava pouquinha.
Lá chegando, as entradas alternativas estavam fechadas. A única saída paralela era por uma porção de lixo. Fiz carinha de desespero, porque eu precisava chegar até à Garibaldi.
Ele me consolou com um abraço bom, naquele friozinho!
Sei lá onde arremessei as minhas coisas, mas fiquei no amasso ao invés de me preocupar em cair fora.
E lá vem o guarda!
Na minha cabeça, a música de Luiz Caldas: "Lá vem o guarda (guarda!)/Lá vem o tira (tira, meu bem!). Que guarda filho da puta! não sei se era o mesmo, mas estavámos na mira de três, que circulavam, só para atrapalhar o namoro. Certamente pensaram que aquilo ali não era carnaval nem Bonfim Light ou Lavagem do Rio Vermelho e que aquilo não era hora de amasso.
O tempo passou e se multiplicaram os voyeurs passageiros, porque todo mundo gosta de identificar quem está de amasso, né? povo mal amado e alcoviteiro!e à medida que vão chegando as nove da manhã chegam mais alunos para a segunda aula (terceiro horário)
Eu estava preocupada em Hugo não me ver, nem os meus colegas de curso, nem os meus professores. Mas já basta que o povo do táxi e os guardas deveriam estar pensando que há um ano e meio eu ando por ali, sempre tão comportada, quieta, de conduta ilibada, e agora eu estava com alguém super-bem-mais-novo que eu, tão instantaneamente.
Nos últimos dias eu estava indo de táxi para o Andarilho - provavelmente aquele povo me conhecia - mas, quem sabe por eu estar de sandálias ninguém me reconheceria...
Lamentei seriamente o fato de eu não estar de carro e de não ter um canto próprio em Salvador - eu sequestraria ele para lá.
Abraços bons, beijos excelentes, cabelos muito macios e, claro fiz a leitura em braille do tórax, das costas dele (poxa, eu tenho muito mais espinhas - ele era todo macio!)- nessas horas adoro ser mulher porque posso deixar minha mão solta pela camisa de um homem sem que isso seja atentado ao pudor.
E minha cabeça na mesma sintonia que a dele.
Quantas vezes ele me dise que precisava ir, mas foi ficando e não desgrudando? ah, grudei também.
Meu telefone ficou rouco de tanto tocar - e eu disse a ele que não iria atender, eu estava ocupada, o resto que esperasse.
Muito carinhoso ele. E tarado, ainda bem!
Eu nunca havia ficado com ninguém na UFBA - faço curso de viado, na ginecocracia. Bem que Priscila me dizia para a gente ir lá em Física, e que os meninos de Veterinária eram "animais"! e olha que ela é casada e sempre aceitava nossas propostas de fazer a despedida de solteira para ela, agora, após o segundo ano de casamento - perigosa!!! não vou fazer trocadilho com os caras de Mecânica, mas já dá para adivinhar...
Bruno perdeu a aula. Eu perdi a noção e aproveitei o momento! lembrei de Santo Ernulfo, o santo imaginário de Terra Papagalli, que sempre é evocado com um pensamento aquiescente ao pecador.
Nessas horas, obrigada, Senhor, por eu ser solteira!
E aí está o acaso, que quando quer, é gente fina comigo.
Renovo minhas dívidas com Santo Antônio, que fez essa minha fila andar - e não mais em círculos.
"Diga sempre tudo que precisa dizer,/ arrisque mais para não se arrepender"

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