Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Bote a mão na cabeça que vai começar...


Quando eu estava indo para Cachoeira, ontem, a minha cidade estava um caos, para variar!
Odeio a Avenida Presidente Dutra.
Poxa, se há dois lugares em Feira pelos quais eu odeio transitar pode crer que se tratam da Avenida Presidente Dutra e da Avenida de Canal. E foi bem nesta primeira que o bicho pegou: a sinaleira em descompasso e em descontrole e, de quebra, um baita acidente bagaceira na pista - entenda-se por acidente bagaceira, aquele tipo de acidente em que não é preciso ver muito dos feridos e das vítimas para chegar à conclusão de que o estrago foi geral. Neste caso, um clássico:um carro bateu no poste; mas bateu lascando tudo, rachando o poste e a frente do carro.
Segundo consta, a culpa foi do poste.
Já no ponto de Cachoeira, estava um burburinho só: mais bagaceira, é claro - um morto lá na calçada dos fundos do Feiraguai.
Platéia é o que não falta e eu, que não sou chegada, fiquei na minha,lá eu não fui.
Depois, volta meu companheiro de carro para dizer que o morto era um "mala", com pinta de devedor da lei, de errado...quando se diz isso, de alguma maneira a gente amortiza a tragédia. Os da família lá, com cara de quem já esperavam por isso. Olha aí o raciocínio de Polícia como penetra as mentes dos civis.
Um ser humano cismado com os sinais, com as energias, com as bobagens esotéricas que assolam a vida dos adivinhos, teria desistido da viagem. Ora, mas no que uma coisa se relaciona com a outra? se eu me impressionasse, assumiria e cairia fora do outro transporte que eu iria pegar, já que de carro próprio eu só fui até esse ponto descrito.
Hoje, na volta para Feira, bem na entrada do Belém, em Cachoeira, uma patrulha da PM parou a van em que eu estava. Poxa, o povo que deve fica realmente apreensivo.
Vi o nervosismo da moça que sentou ao meu lado, dando indiretas para os policiais deixarem a abordagem para lá, vi a cara preocupada e suspeita de outro que estava sentado no mesmo banco que eu... e irritantemente, eu me mostrando favorável à ação - não vi ninguém ser destratado, nenhum desrespeito ou humilhação ( ao contrário, as mulheres ficaram na van, preservadas).
O motorista, revoltadísimo!
O boy, ah, gente, o playboy lindinho, branquinho e bem nascido, com a tarjeta da cueca Lacostes aparecendo, tomando o maior sacolejo e se mantendo sóbrio e calmo.
A moça, então, confessando que o seu namorado foi preso injustamente, apenas por não portar documentos...e meu sensor de "saia-justa" acusando que aquela ali tinha histórico de visitas à cadeia, de muita marca de dor comum à mulher de bandido.
O brother comum, lá com um pacotão de fumo no bolso que despertou suspeitas, mas desembalado, era apenas fumo de corda mesmo.
Por fim, o mala surpreendido com maconha e pedras de crack, carimbando um passaporte para encrencas sérias com a polícia, e os dois menores que estavam com ele, uns aprendizes da Al-Qaeda, à mercê dos acontecimentos.
Por pior que seja a polícia, eu ainda me sinto segura se há um policial no meu ônibus de viagem ou se passamos por abordagem. Vivi na Corporação por quase sete anos completos e hoje, como civil, ainda apoio a ostensividade da polícia como um instrumento coibidor de crimes.
Não passo por essas coisas sem lembrar das paródias que assisto, ouço e vejo. Lembrei logo da "Abordation", paródia do rebolation - "Bote a mão na cabeça que vai começar/ a abordation, a revistation..."
Por falar nessas coisas, esse povo perfeito, inteligente e acima do bem e do mal, quer fazer de conta que não sabe o que é o Rabolation, nem quem é Geyse Arruda e, muito menos do que trata a novela das oito ou o que seja o Arrocha.
Francamente, em plena Idade Mídia, num universo guiado pela mída de consumo e pelo consumo da mídia, como poderia alguém não saber disso?
Eu não assisti sequer UM capítulo de nenhuma novela atual, mas é claro que eu sei do que elas tratam; odeio Arrocha, não compro CD nem vou a show, mas como é que eu vou fazer de conta que não sei o que é? com os vizinhos até aprendi que "ela sai de casa/de bicicletinha/uma mão vai no guidon/a outra, tapando a calcinha"! não vou me vestir de pseudo-intelectual-padrão para assegurar meu assento na afro-elite, nem no mundo do bom gosto. Ora, que fingimento mais besta!
É assim que se faz um São João na Copa do Mundo!

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