Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 27 de julho de 2010

Aos meus pés


Diria a minha tia: "Acabou-se o que era doce!". Posso dizer que, enfim, estou devidamente infeliz, de novo!
Estou infeliz, já chorei tanto que chega minha cabeça dói: é que meu cachorro adolescente está em troca de dentição. Com isso, ele rói tudo, sabe? mas nunca foi de dar prejuízo até então ( o pai dele, que se chama Bruno, sim, já roeu uma blusa caríssima na adolescência dele).
O meu cachorro adolescente (Júnior é o nome dele) comeu o pé direito do meu sapato novo, um Carmen Steffens, lindíssimo com o qual eu desfilei ontem em Salvador.
Não ia bater no cachorro, tendo em vista que ele é irracional: senti uma raiva, um desamparo, uma tristeza!
Chorei muito.
Por fim, fui comprar outro e não havia mais.
Em nenhuma loja, em nenhuma filial, nenhuma chance!
Ele é zebradinho, lindo, com um salto pink...ah, sou uma centopéia manca, agora.
Fosse só o prejuízo financeiro!
E o engraçado é que hoje de manhã eu emagreci meu guarda-roupa, dando um bando de coisas a uma amiga minha. Nesta ocasião, ela , que odeia saltos, brincou com este sapato, calçou e não se equilibrou.
Por conta do barro e das chuvas de ontem, resolvi passar um paninho nele e colocar na janela para secar.
Minha janela tem grades.
Esqueci lá o sapato por algumas horas.
Meu tio chegou, falou do sapato.
Nem me mexi.
Depois, meu tio saiu uns 20 minutos do quintal para socorrer o sapato, já roído e destruído por Júnior.
O sapato tem uma plataforma de plástico revestido por couro, todo forte, todo resistente, mas o cachorro mastigou tudo.
Estou infeliz.
Infeliz é pouco.
Estou de olhos inchados porque adorei o sapato e não há dinheiro que o traga de volta.
Como meu tio me viu chorando - ele e o resto da cidade, porque eu chorei berrando mesmo, na altura da minha dor - ele resolveu usar a experiência dele com as bolas de futebol do Exército e aplicar ao sapato. Não sei no que vai dar, mas sei que é irrecuperável para uso.
Veja o que é o acaso: eu vi o sapato lá, quase pego de volta assim que secou. Mas algo me distraiu e eu não peguei.
Meu tio chegou da rua, meu som estava alto, eu não respondi nada, mas 20 minutos depois ele gritava o desastre com meu sapato.
Estas pequenas negligências diárias nos custam muito.
Não me lembro de ter chorado por alguém, neste ano, como chorei pelo meu sapato.
Sou louca por sapatos. Tenho uma forte identificação com sapatos de salto,adoro comprar sapatos, adoro a singularidade deles, não costumo comprar item seriado, não: só artesanal ou de poucos exemplares. Agora, veja aí: não há como comprar outro.
Odeio ser baixinha, meus 1,63 cm me irritam e eu me realizo nos saltos, na variedade deles...naqueles que são lindos e eu não uso, naqueles que eu já de cansei de usar, nos intocados (sim, eu tenho um que em 08 meses e nunca foi usado - peça de contemplação), mas, acima de tudo na minha explícita paixão por todos eles é que me realizo.
Uma coisa é ficar sem chão, outra coisa bem pior é ficar sem os sapatos.
Que meus sapatos descansem em paz, sabendo que me fizeram muito feliz neste curto tempo em que estivemos juntos. Sou grata pela cumplicidade, pela companhia, pela felicidade que eles me deram, pelas invejas despertadas e pelos desejos atiçados nos fetichistas.
Agradeço pelo equilíbrio que me deram - adoro o malabarismo de andar de saltos -, pelos bons momentos, pela solidariedade.
Como estes em questão eram paixão recente, o luto pelo inesperado fim de nosso relacionamento vai doer deveras.
Descanse em paz!

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