Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Proibido pela censura!


Os moralistas estão aumentando em proporções incríveis. Acho que mais nada me surpreende, principalmente quando eles aparecem entre os meus ex-namorados e os meus amigos.
A moral, os bons costumes, o pundonor, a honradez da família, a vigilância sexual...pacote completo!
Sempre me assusto com o que o tempo faz com certos afetos: quando a gente deixa de amar alguém, geralmente desconhece a pessoa a quem nós amávamos. Pior que isso: estranhamos a nós, questionamos nossa sanidade e como fomos capazes de amar àquela pessoa.
Assim é que vejo às minhas amigas dizendo: "O pai de Rafael vem aqui hoje!"...é, virou um quase-anônimo...e pensar que um dia aquelas pessoas já se amaram, já viveram coisas importantes, já partilharam um teto, uma cama, muitos segredos... Ah, Vinícius, "O amor é a coisa mais triste quando se desfaz".
Essa categoria de ex, então...
Então, querido ex-Grande Amor da Minha Vida, que moralista você se tornou. E depois de cobiçar, temperar e comer a mulher do próximo, incorporando a tese do Barão Vermelho ("Canibais de nós mesmos, antes que a Terra nos coma"), declara-se, pois, um moralista. Confuso, antagônico e duvidoso.
Que lugar-comum essa trajetória dos moralistas: passam a vida se lascando nos pecados, arrebentando a balança da Justiça, desafiando os bons costumes...e um dia encontram Jesus e mudam de opinião, cospem no passado, esquecem de quem foram e de quem na verdade ainda são.
Eu não sabia que você não estava preparado para ouvir que eu gosto de sexo, que eu me importo com sexo e que estou ficando com um cara super-bem-mais-novo que eu - e que, para a sorte da moral e dos bons costumes, além de não ter ocorrido o que você tanto repudia, não vejo desde o recesso porque moramos em cidades diferentes e uma série de pequenas coisas não permitiram que a gente se visse.
Por que você me perguntou aquilo, então? corre-se o risco da resposta ser inapropriada às suas aspirações.
Bem, agora o Masoquista e o Ex-Grande Amor da Minha Vida são dois defensores da moral e dos bons costumes. E eu sinto tanto ter que dizer a vocês que eu não me arrependo de nada!
E se eu for para o Inferno por conta de tudo isso, valeu! é até um preço baixo para os prazeres que eu tive.
E se eu for me arrepender um dia, que seja por não ter dado um jeito de conciliar meu caso com o menino de Oceanografia e aquele fofo e execrável remanescente heterossexual de Letras, lá da UFBA...aliás, tenho que vencer esses pudores com os meus "inimigos"...
Que pena que eu sou tímida, caso contrário, faria minha fila andar, pular, correr.
Acho que estou ficando como as minhas amigas separadas e divorciadas: começo a odiar os meus ex.
E antes que isso acontecesse comigo e com Bruno, fiz aquilo lá que a minha analista disse que não se deve fazer a um homem. Ah, fosse antes e eu faria com todos vocês.
Passado o tempo, dos sentimentos passados talvez hoje me sobrevenha uma certa sensação de que...você sabe!
Vá se entender com esse seu superego vigilante, certo? e para de me vigiar, de impor censuras.
Ainda bem que a ressaca vem tarde, quando já troquei de cálice e de bebida.

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi,em meu tempo, cartas de amor
como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal, só as criaturas
que nunca escreveram cartas de amor
é que são Ridículas.
Quem me dera o tempo em que escrevia, sem dar por isso,
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje,
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas)

Assim falou Fernando Pesssoa, por seu heterônimo, Álvaro de Campos, agora citado por uma pessoa ridícula.

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