Louquética

Incontinência verbal

domingo, 25 de julho de 2010

Receitas da carne


A carne é forte! meu juízo é que é fraco e se vende baratinho...
Numa tarde fria de domingo como essa, me aparece um delivery e o fim da história é totalmente previsível.
Conheci uma daquelas pessoas com as quais a empatia é total e aí vem o papo de adulto, aquela diferença fundamental entre os homens maduros e os aspirantes a isso, num retorno sufocante aos meus próprios preconceitos internalizados.
Mas não foi com ele, com o recém conhecido, a minha diversão erótica dessa tarde e eu deixei que os meus hormônios respondessem por mim àqueles convites, àquelas propostas, àquelas inconsequências morais, porque se não somos exatamente inimigos, alimentamos receios recíprocos, reservas, medos e, de minha parte, eu quero mais que ele vá para o Inferno. O problema é que ele não foi para o Inferno, foi para a minha casa!
Ontem eu voltei no ônibus noturno e cheguei a Feira às 4 da madruga deste domingo, após uma viagem kamicase.
Não dormi nada, como sempre!
Dei graças a Deus pela seleção do rádio do ônibus estar boazinha, mas não foi fácil.
Eu contenho meu ímpeto de dizer palavrões, não me atraio pelos palavrões chulos, sexualizantes. Mas, notando o motorista daquele ônibus, acelerando nas curvas, na neblina espessa, nos precipícios, numas manobras que me faziam girar na poltrona, mentalmente eu homenageei a mãe dele, aquele filho da puta!
Sorte dele que aquela cambada de lerdos dormem, não vêem que estão sendo transportados como batatas de terceira qualidade. Poucos ali percebem os riscos, os absurdos - eu é que sou paranóica e compulsiva, fico olhando tudo - e não durmo porque talvez eu pense que quero encarar a morte sem muitas máscaras. Mas, como num mantra eu falava mentalmente"filhodaputa-viado-miserável-vaisefoder-vaiparaoinferno-vaiparaaputaquetepariu-corno-viado-monstro-desalmado-seeumorrerteassombroaténooutromundo-corno-desgraçado-filhodaputa-excomungado-viado" e graças a Deus pensamento não faz barulho! olha para as memórias de uma moça de família.
Então eu saio de uma noite desgastante dessas, vou para a cama às cinco da manhã, acordo com o barulho dos meus cachorros discutindo em latidos com os cachorros transeuntes às nove da manhã, fico irada, forço a barra e volto a dormir; acordo ao meio-dia, vejo as ligações não atendidas daquele ridículo de Lauro de Freitas, passo mensagem com desculpa esfarrapada porque não fui contundente o bastante para ele entender que eu não quero volta, não quero namoro, não quero nada com ele, mas, enfim, meu celular estava no silencioso e blabláblá; ligo para o Outro, converso, brigo, me arrependo e mais blablablá, até que o miserável Arrependido me cai na cara, do nada, na tarde de hoje.
Tenho que aguentar as amigas intercendendo por ele o tempo inteiro, porque o peste me trata bem, porque ele é confuso, porque todo mundo acha que a gente se entende bem, que ele me ama e essas coisas e eu, resistente, porque não gosto da infantilidade mental dele e odeio o controle afetivo que ele me obriga a ter, mas aí a carne é forte, os apelos do corpo são fortes e ele sabe qual a minha moeda de troca, fica brincando e citando "Seu corpo combina com meu jeito, nós dois fomos feitos muito para nós dois" - e eu fico confusa, doida para ceder. Mas eu queria ceder e nunca mais ceder de novo, e não reatar aquele namoro confuso...Não, ele não é meu namorado e não voltará a ser.
E me vem o Recém-conhecido ligando, eticamente mostrando que está feliz em me conhecer, mas aí é minha amiga quem tem rolo com ele e eu penso: vai ser gato assim na casa do cacete!", mas não troco a minha amizade com ela por nada nessa vida. E ela, risonha, sabe que está empurrando o cara para mim...
Entramos na zona de baixaria e o raciocínio de onde come uma comem duas é o que ela defende, porque quer se livrar dele para poder pegar o amigo dele que é interessante para caramba.
Lá vem a lista das paridades, os gostos, o nível cultural,etc., e eu reviso mentalmente a lista de mentiras que ela diz e que eu tenho que confirmar para evitar lapsos e constrangimentos nesse discreto menáge-a-trois verbal.
E ele me perturbando com um encontro amanhã, ele aqui neste tarde, a gente recobrando a conversa morta e aí meu cérebro segue se anulando, se apagando, até que sobram as respostas do corpo e a falta de critérios, de vergonha,de noção que só a anulação do raciocínio e o império do sentidos podem explicar.
Pronto! entrei pelo cano!
E amanhã meu superego vai cobrar o preço das ousadias e das inconsequências, porque se eu não conseguir um esteio qualquer estarei nas mãos dele de novo e esta novela segue os capítulos repetitivos: Thales me hipnotizando, me fazendo de instrumento da vaidade dele, manipulando minhas ansiedades e o lascivo Arrependido me puxando, do outro lado, para essa relação que parece que nunca acaba, mas que não existe mais e eu sempre sozinha. Depois, recomeçam as aulas na UFBA e eu vou ter que me explicar ou que me resolver e me decidir.
Na verdade, nada disso existe, são só circunstâncias, vai passar!!!lavo o rosto com água fria para ver se isso foi só um negócio circunstancial ous e amanhã ele me acha lá em Salvador e os laços me emaranham de novo.
Lembrei de um personagem de Jorge Amado, de Tieta do Agreste, o Osnar: na trama ele tem um pênis que é a atração turística do lugar. Qualquer coincidência é mera semelhança...

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