Louquética

Incontinência verbal

domingo, 18 de julho de 2010

Vá cuidar da sua vida!


Olhe, JQ, eu vou te dizer de maneira direta: você tem preguiça de viver!
Não jogue suas angústias para Deus, nem para a Literatura: você ainda não se tocou realmente de que a vida é esse negócio chato e difícil e que o ser vivente é quem é responsável por fazer malabarismos para não se matar, para ir vivendo, para estar feliz, para aproveitar o dom da vida.
Dizem que é um dom, não é mesmo?
Se eu achasse a vida boa, eu pensaria em ser mãe.
Condenar um ser humano a todo um processo de existência, eu é que não quero isso.
Viu porque a vida eterna não me interessa?
Mesmo que no Além não haja contas para pagar, nem amigos falsos no trabalho, nem trânsito de enlouquecer, nem gente que eu detesto, nem problemas mundanos, não, não me interessa.
Eu sei o que é viver.
E depois que a gente vive, mesmo que a vida não seja boa, a gente tem medo da morte - eu não tenho medo da morte em si, mas de definhar, de sofrer, de ficar inválida, desses negócios que são a ante-sala da morte, sabe?
Como você sabe, eu dou graças a Deus por minha loucura se resolver com conversa. Mas eu sei que não é fácil ir às sessões de Psicanálise. Meus amigos fogem do analista.
Não minto para a analista; gosto dela, assumo afetos, medos, tudo...não quero criar entraves para favorecer minhas neuroses.
E se você me perguntar,sim, eu ainda estou feliz.
Por incrível que pareça, com pequenas crises e tudo, estou feliz.
Vi que o estar feliz não é contínuo: tem lá seus altos e baixos...a propósito a analista me disse exatamente assim: "Isso que você fez, não se faz a um homem!" e se acabou de rir! Ela própria complementou: "É como se você tivesse apontado uma arma e disparado..." e eu falei: "É, contra a cabeça dele!". Mas ela redarguiu: "Contra os cunhões!".
Eu ri, nós rimos, mas eu sei muito bem o que eu fiz e não sinto o menor arrependimento ou culpa!
Você pode tomar dez caixas de tarja-preta, mano, não vai resolver nada!
Você vai ficar é lerdo, com os olhos arregalados, com as pupilas dilatadas, com umas mãos trêmulas e com alterações na libido.
Você não vê como estão os nossos amigos em comum?
Acredite: "Inútil dormir, que a dor não passa!"
E não é porque eu sou ruim e preconceituosa, não: é que a gente não pode ficar se anestesiando, alimentando a letargia, esperando que tudo passe. Ser espectador da própria vida, esperando um super ser humano que vá resolver tudo por você, um super Deus interventor, um remédio para a vida...ah, espera inútil!
Afinal, o que é que você quer?
Quem não sabe o que quer, não percebe o que acha, não acha? rss!!!
E quem disse que eu estou feliz porque mil coisas boas me acontecem agora? que nada!
Claro que tem um fator que me ajudou, que assumir posturas e ter feito o que não se deve fazer com um homem me deixou bem melhor. Mas minha vida não tem nada de super.
Depois dos meus cem anos de solidão,ainda assim, o amor moralmente inadequado daquele rapaz de tão longe me dói, me incomoda, porque aquele, sim, eu não queria que gostasse de mim. Sentir pena dele me incomoda profundamente e me desviar dele também é doloroso.
Eu havia feitos planos mas não me achei capaz de dar conta deles.
Estou perplexa e feliz por ter cumprido o que me cabia. Enfim, consegui! e se alimento alguma coisa diante das atitudes tomadas, talvez seja apenas a vontade de ainda dizer os desaforos que anteriormente eu não disse. Mas estou muito satisfeita! No fundo, nem acredito que eu consegui.
E vai que no seu caso as palavras resolvam, hein? vai que dizer ao pai o que ele merece ouvir, ou àquela sua ex-namorada egoísta e casca-grossa, resolva esse seu bode existencial? passamos de bode expiatório a bode existencial! Não diga que não é uma evolução!
Mas aí você escolhe um Deus rigoroso. E resolve que sexo só depois do casamento...complicou, não é? lascando com tudo nas pulsões!
Agora, a vida é um negócio besta.
Sabe aquele poema que eu detesto? "Casas entre bananeiras/mulheres entre laranjeiras...pomar, amor, cantar..." e que termina com "Êta vida besta, meu Deus!"? pois, então, agora estou com Drummond: a vida é um troço para lá de besta. As grandes coisas da vida, nem sempre são as que nos fazem felizes.
Aí você vai andando, vê uma pessoa que você gosta, diz um desaforo sufocado há anos, descobre uma coisa, toma uma bebida de que gosta, vê um filme e, enfim, nas coisas mais idiotas e do nada você se sente feliz.
E eu só estou te dizendo isso porque a gente costuma desaprender a ser feliz, a esquecer que gosto tem acordar feliz, com vontade de sair, de viver, de ver a vida como dádiva...
Não tem receita para essas coisas, mas eu ainda acho que a receita não deve ser a do médico psquiatra...quem sabe a receita do seu macarrão com pimenta calabresa e do meu pudim de queijo possam trazer melhores resultados, endorfinas...
Olha, Chuck, eu não consigo ver um ser humano como um monte de hormônio e de circuitos alteráveis por bromodiazepínicos, endorfinas e coisas do gênero.
É , eu sou mulher, eu sei o que os hormônios fazem conosco, mas não dá para resumir um ser humano a isso, nem forçar a sobrevivência com fármacos. Lembra da Miss Lexotan? você bem poderia trocar mulheres tarja-preta por mulheres faixa-preta, hein? eu ouvi dizer que tem coisas que só se resolvem na porrada. Pode ser seu caso!

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