Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ao homem que veio de longe


Fazemos vários processos de edição em nossa vida, elegendo umas partes,destacando outras, arrancando páginas, pulando capítulos e fazendo de conta que nossa vida é um livro aberto.
Ao mesmo tempo é encantador o certo mistério que todo mundo guarda( e todo mundo tem segredos, coisas que não são ditas nem aos melhores amigos, nem aos maiores anônimos)e como repito muito o que amo, "No misterioso livro do teu ser, a mesma história tantas vezes lidas", que é sempre tão outra história.
Penso no homem que veio de longe, naquele que pegou três escalas até me ver em Salvador neste domingo...ele, tão parecido fisicamente com este que ilustra o texto...
Como todas as coisas boas, nem parece verdade.
Quero ter motivos para ficcionalizar muitas coisas, quero poder me embevecer pela realidade, sem medo dela.
"Mistério sempre há de pintar por aí" e eu não quero abrir os meus mistérios nem me precipitar sobre o mistério dos outros - exercício de calma e da parcimônia que sonho em ter para mim, já que a bênção do perdão, a capacidade de perdoar é em mim um elemento em falta. Tento, então, ser paciente.
Mas eu penso: por que eu nunca falo dele? Por que eu nunca falei dele nem com a analista? e por que esta decisão tão firme e tão imediata de ficar com ele no domingo passado? que apostas são essas? ou não serão apostas e só o usufruto da vida?
Depois de tanto tempo de solidão ainda hesito se me deixo devorar por ela, se me desespero, se erro ou se é preciso experimentar das coisas e parar de ficar catando problemas.
Eu deveria notar que ao contrário do que minhas predisposições neuróticas me inclinam a achar, as coisas mudam, tudo passa, se renova...se bem que tem lá as coisas que envelhecem e morrem, o que é normal e esperado.
Quanto à minha auto-vigilância moral, ela anda alerta,neuroticamente ativa, mas tenho parcial controle sobre isso, às vezes desligo tudo, às vezes puxo minha própria orelha, mas relaxo: é só a vida.

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