Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Era uma vez...como sempre.


Lembro de algumas conversas recorrentes na Teoria da História, inclusive aquelas que trazem a ideia de que no plano político, "Tudo sempre muda, de modo a permanecer exatamente como está". E eu, que tenho a alma temperamental e inquieta, eu, que incorporando minhas ansiedades, não suporto as coisas lentas, não suporto as repetições apesar de me repetir, fiz tal o senso comum fez com o poema chato de Drummond: "No meio do caminho tinha uma pedra./Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra/Então eu parei e sentei."
Eu estive tão cansada nessa maratona de entrega de texto de Qualificação, que me desliguei geral logo que cumpri minhas obrigações e prazos. Sentei na pedra que estava no meio do caminho. Penso que eu tinha outra alternativa, caso a pedra fosse pequena: chutar a pedra ou atirá-la de volta no poeta - não em Drummond, claro, mas no poeta sonso que me enganou há um tempo atrás e que hoje povoa as ilusões de Rosana, porque agora já não vale a pena dizer a minha amiga R. - todo mundo sabe.
Mas, me irrita a lentidão das coisas.
A rotina é boa quando nos dá segurança e previsibilidade, mas pedras que não rolam, definitivamente, me tiram a paciência.
Ensaiamos ir à praia, contrariando o tempo que se já não é chuvoso, é nublado e inóspito. Mais uma vez, nada feito!rolos terríveis com a nossa convidada que se deixa dominar pelo namorado e, assim, lá foi ele resgastar nossa amiga e desmanchar nosso entusiasmo pela viagem.
Soube, ontem, que a minha amiga esquizofrênica, irmã desta outra citada acima sob o epíteto de convidada, estava morando na rua, dormindo sobre um pedaço de papelão: quem viu, não socorreu nem amparou, porque notou que ela estava drogada e teve medo de reações violentas.
Desde o surto ela se tornou minha ex-amiga, porque fica difícil o contato com alguém que ouve outras vozes intermediando nossa conversa. Fica difícil, num mundo já delirante, aguentar os delírios dos débeis legitimamente reconhecidos.
Sei qual é a relaçõa dela com as drogas (item, por sinal, novo no cardápio de remédios que ela usa): ela faz um cálculo bioquímico e dispensa o cálculo moral. Deste modo, para ela, usar Risperidona e outros tarja preta é análogo a fumar maconha para dormir e crack para escapar às angústias.
Queria saber onde ela está...
E tudo isso por causa do amor não correspondido que ela tem por um drogado, dependente e desenganado.
A família evangélica e omissa atribui tudo isso ao Capeta. A Asessoria de Imprensa do Capeta, entretanto, nega a autoria do crime. Na luta dos dois lados, desamparada quem fica é ela, pois confirma-se a regra: "Na luta do rochedo contra o mar, quem leva a pior é o marisco, que passava por lá no momento da briga".
Como foi difícil construir o distanciamento emocional necessário para saber que ali está outra pessoa e não a minha amiga! sei que associo isso com a morte, pois que diante de um corpo, vemos um corpo e não uma pessoa.
Despersonalizei a minha amiga, mais irmã do que amiga, ao longo destes últimos seis anos.
Vi que a distância não foi somente emocional... apesar de que, de longe, ainda gosto de minha amiga...
A estrutura neurótico-histérica das mulheres, realmente é de enlouquecer - perdoando o trocailho não intencional.
A velha dependência emocional, o desejo de "ser mulher de um homem", a necessidade de ser amada a qualquer custo, de qualquer jeito...ah, isso não é brincadeira e deixa sequelas.
Já disse isso antes e já citei o Chico Buarque antes, mas é que realmente as coisas tendem a mudar muito enquanto permanecem as mesmas. Portanto...

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem para os seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas; cadenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos
Poder e força de Atenas

Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar, violentos
Carícias plenas, obscenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se para os maridos
Bravos guerreiros de Atenas

Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam para os braços
De suas pequenas, Helenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas:
Geram para os seus maridos,
Os novos filhos de Atenas.

Elas não têm gosto ou vontade,
Nem defeito, nem qualidade;
Têm medo apenas.
Não tem sonhos, só tem presságios.
O seu homem, mares, naufrágios...
Lindas sirenas, morenas.

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

(Composição: Chico Buarque)

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