Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vitórias sem prêmios


Ultimamente andei pensando nas minhas vitórias inúteis. Engraçado: podem ser conquistas gloriosas, vitórias difíceis, coisas com que sonhamos, lugares onde queremos chegar e chegamos, concurso em que nos esforçamos por passar e passamos... Seja o que for, boa parte das vitórias são vitórias inúteis. Nem por isso são menos desejadas.
No que concerne aos concursos, é isso: passamos e não vamos a lugar algum. Pode ser que passemos e nunca venhamos a tomar posse. E tudo vira título que, como se sabe, é algo inútil frente à vida prática. Mas há uma infinidade de outras vitórias inúteis que simplesmente viram quadros na parede. Para alguns, isso inclui a graduação, os diplomas, os casamentos, as coisas que, passado o cerimonial, deixam de brilhar para nós e mostram sua inutilidade.
Lembrei que uma vez eu estava jogando pescaria com a filha de minha amiga. Eu tinha 19 anos e a criança tinha 08. Comecei a ganhar e aí Sylvinha, a mãe, me pediu para deixar a criança ganhar... eu pouco entendo de crianças até hoje, e menos ainda sabia, naquele tempo, que ganhar um jogo sem prêmio fosse importante para qualquer uma de nós...mas daí eu aprendi. E desde que joguei ou brinquei com crianças, permiti que elas ganhassem e ficassem felizes. Isso até o dia em que Thiago, outra criança filha de amiga, desconfiasse de minha inabilidade e da própria vitória. Bom, nem sempre funciona fingir que perdemos para favorecer à vitória dos outros.
Mas somos assim: até em discussão a gente quer vencer. É questão de vida ou morte em meus relacionamentos de qualquer ordem ter razão nas discussões. Ter razão é vencer. Mas não quero vencer à toa: quero que o outro reconheça que eu estou certa. Acho que é porque sou autocrítica, porque minha grama não é mais verde que a do vizinho, salvo quando realmente a grama cresce e floresce; acho que porque não faço o discurso do vencedor, porque não venço sempre; porque não tenho os melhores finais de semana do mundo; ou porque meu mundo não é perfeito; ou porque sei lá que “se mancol” é esse, mas é questão de justiça admitir que meus inimigos têm qualidades ou de reconhecer a razão de quem é meu desafeto. Não tem graça, realmente, a vitória manipulada.
Pois é, nós nos sentimos felizes por qualquer vitória inútil, pelas vitórias que não nos dão frutos nem alteram os rumos de acontecimentos.
Reconhecer a inutilidade das guerras vencidas, o baixo valor dos troféus de guerras e conquistas não apaga o valor da sensação de vencer.
Às vezes vencemos quando nos desvencilhamos de coisas que são desejáveis para outras pessoas e não mais para nós. A conquista às vezes é o puro Ouro de tolo, como cantou Raul Seixas.
Até o Jornal Sensacionalista do Multishow andou fazendo gozação que isto de “Trago a pessoa amada em 03 dias”, alegando, por meio do depoimento de um suposto entrevistado que, realmente, o babalorixá havia trazido a pessoa amada em três dias. O problema é que a pessoa amada deixou de ser amada e agora ele estava atrás de quem levasse embora a pessoa amada em no máximo três dias.
O amor tem vitórias duvidosas.
Terça-feira eu fui à Igreja de Santo Antônio. Eu não lembrava direito o que eu ia fazer, mas vi na agenda que eu tinha que ir lá.
Meu primo, delicadíssimo e nada machista, para não dizer o contrário, insinuou que eu tinha que ir era porque andei pedindo para chover homens em minha horta. Daí lembrei que nunca pedi nada disso e só então associe as coisas: eu fui à Igreja de Santo Antônio há dois anos, justamente pedir para esquecer o Ex-grande Amor da Minha Vida.
Quando fui pagar parte da promessa, em outra ocasião, uma moça me perguntou pela graça alcançada. Perguntou como querendo saber se me casei ou algo assim. Então eu disse claramente que “Mais importante que encontrar a pessoa certa, é se livrar da errada”. E a isso dei glórias. E ontem eu fui lá à Igreja, agradecer à graça que eu própria esqueci, por ter esquecido o sujeito.
Esta é uma grande vitória, nada inútil.
Achei pertinente um raciocínio básico e valioso de um padre que aparece num filme do Canal Brasil, Devoção, em que ele fala sobre Santo Antônio e diz que Ele é um santo do povo pobre, da pessoa simples e que devotos de Santo Antônio não pedem coisas extraordinárias, mas as ordinárias: pedem empregos, pedem amores, pedem saúde... e teriam coisas mais ordinárias, mais simples?
Ele completou o raciocínio dizendo que o grande milagre da vida é a ordinariedade, é ter a vida em ordem, ter as coisas comuns. Este é o milagre.

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