Louquética

Incontinência verbal

domingo, 13 de novembro de 2011

Violências travestidas


Da primeira vez em que ouvi Pumped Up Kicks, do Foster The People, adorei a música. Adorei sem a pretensão de ficar traduzindo, porque geralmente isso me ocorre. Depois me veio o encantamento pelo fato dos garotos da banda falarem assim, de uma forma leve, com um ritmo leve, sobre os desequilibrados dos tempos de hoje.
Tão próximo do Jeremy do Pearl Jam, mas ao mesmo tempo tão outro, não sei se esta impressão me vem porque a melodia do Foster permite que a gente dance e a do Pearl Jam é mais dolorosa, mais trágica...
Essa mesma capacidade de leveza que foi tão mal interpretada em A vida é bela soa, a mim, como a mais alta alquimia. Acho que quem consegue dar leveza às dores agudas (as pessoais, as sociais, as existenciais), esses são os verdadeiros magos.
Até um tempo atrás, esses casos de atiradores infanto-juvenis era muito canadense, muito estadunidense, até o Brasil estrear no item.
Da vez mais recente, foi um garoto de 10 anos que tentou matar à professora e se suicidou. O mais interessante é o agito da sociedade brasileira a fim de descobrir o que será que a professora fez para que o menino tivesse essa atitude. Isso é um traço cultural nosso, uma coisa bem brasileira: responsabilizar a vítima pela violência que ela sofre.
Se a menina é estuprada, presume-se que algum motivo ela deu, algum precedente ela abriu; se outra pessoa é vitimada, diz-se que a pessoa estava na hora errada, no lugar errado, ou seja, morreu ou se feriu porque procurou e porque estava errada. O erro é da vítima, não do agressor. Algo muito brasileiro.
Ontem, quando eu estava conversando com as minhas amigas no trajeto para o Bar, estávamos nesse ponto, no assunto dos desequilíbrios e constatamos que ninguém escapa deles.
Não que sejamos todos psicopatas, sociopatas, mas entre nós quatro, que ali estávamos, uma tem medo de dormir sozinha, outra tem medo do escuro, uma terceira tem medo de candomblé e eu, poxa, eu já tive tantos medos e dentre tantos o mais persistente é o medo de viver demais. E, como sou assumidamente louca, sei que tenho ansiedades. Minha falta de paciência é, na verdade, uma certa ansiedade, uma pressa patológica pelas coisas claras, definidas, determinadas...
E falando nos desequilibrados, quando a gente se sentou num tranquilo bar da São Domingos, veio um cara até nós, perguntar que música do Tim Maia nós sugeriríamos a ele. Antes disso, logo que o grupo dele chegou eu sinalizei à minha turma: "Isto está ficando relinchante, vamos embora?". E Cléo perguntou o que era relinchante, sem associar ao animal, à onomatopéia dos cavalos...kkk!. Mas foi só este tempo entre a pergunta do sujeito que ia ao karokê e a companheira dele a gritar na mesa, que nos mostrou o grosso calibre do revólver que ele carregava sob a camisa.
Não fico em lugares em que o povo está visivelmente armado. Quem sai assim para se divertir, com certeza vai querer se divertir pipocando os miolos dos outros...aí, caimos fora de lá e ponto final.
Lembrei de Renato Russo:"Nos deram espelhos e vimos um mundo doente." E daí saimos, em legítima defesa, do lugar.
Nem por isso deixamos de nos divertir, mas sabíamos que se algo de ruim acontecesse, iriam apurar o que foi que nós fizemos para nos transformar em vítimas. E por aqui, a vítima é sempre a culpada.
E como hoje choveu para caramba e eu já estou farta de reclamar dos pingos derramados, da praia que se transformou num eterno e improvável porvir, da repetitividade dos dias chuvosos, resolvi derramar minha compulsão, ansiedade e impaciência praticando essa incontinência verbal que me é própria e reproduzindo a letra dos caras do Foster:

Robert's got a quick hand
He'll look around the room he won't tell you his plan
He's got a rolled cigarette
Hanging out his mouth he's a cowboy kid

Yeah he found a six shooter gun
In his dad's closet in a box of fun things
And i don't even know what
But he's coming for you, yeah he's coming for you

All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run, outrun my gun
All the other kids with the pumped up kicks
Better run, better run faster than my bullet

Daddy works a long day
He be coming home late, yeah he's coming home late
And he's bring me a surprise
Cause dinner's in the kitchen and it's packed in ice

I've waited for a long time
Yeah the slight of my hand is now a quick pull trigger
I reason with my cigarette
Then say your hair's on fire you must have lost your wits yeah

All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run, outrun my gun
All the other kids with the pumped up kicks
Better run, better run faster than my bullet

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