Louquética

Incontinência verbal

domingo, 13 de novembro de 2011

Na primeira manhã...


Eu gosto muito do Alceu Valença e esta música aqui, então, está entre as minhas dez favoritas. Resolvi postar após um telefonema recente de uma amiga, de longe, muito longe, que ficou recordando que o Ex-Grande Amor de Minha Vida ficava cantando uma outra música(Como dois animais), quando a gente estava juntos - ah, que recordação, viu? - eu também lembro que ele ficava cantando: "Uma moça bonita, de olhar agateado, deixou em pedaços, meu coração/uma onça pintada e seu tiro certeiro, deixou os meus nervos de aço no chão..."
Eis o lado ruim do ócio sob a chuva: ficam os amigos ligando e a cabeça remoendo, exumando o passado...não que seja ruim, mas é que lembro do que eu tive e que perdi. E lembro que não apenas já passou, mas que eu tinha medo da felicidade: a gente sabe, é pouquinho. A felicidade é bem pequenininha, mesmo quando a gente sente que ela é grande...não que seja exatamente algo pequenininho, mas é que passa muito rápido.
Felicidade é um anestésico... ainda bem que ela existe, mesmo pouquinha, para aliviar as dores da vida...e então aquela taquicardia, aquela ansiedade para encontrar quem a gente ama, o juízo embaralhado, o desequilíbrio, o estado de embevecimento, os planos que temos medo de fazer, o eterno temor de que tudo acabe ou a leve desconfiança de que nada é eterno, tudo isso, junto, num ser humano só é o que traduz o estado de completo abestalhamento de paixão. Depois vem o que tem que vir...e sempre vem, embora exista quem sequer perceba. Vem o que Alceu cantou em Na primeira amanhã:

Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho
Como um conde falando aos passarinhos
Como uma bumba-meu-boi sem capitão
E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o prumo e desatina
Como um boi no meio da multidão

Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais para ser sozinho
Cruzei ruas, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contramão
Pelo canto da boca num sussurro
Fiz um canto demente, absurdo
O lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão
Solidão.

(Composição: Alceu Valença)

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