Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 7 de agosto de 2012

70 vezes Caetano Veloso



"Meu coração galinha de leão não quer mais amarrar frustração", diz meu querido, amado, estimado e admirável Caetano Veloso, que talvez nem tenha um coração tão galinha assim, mas é um leonino na plenitude astral do seu signo. Nem acredito que ele completou 70 anos!
Tem esse povo careta e inconformado que vive repetindo o clichê ridículo de que " a idade está na cabeça" - só isso tiver a ver com os cabelos brancos. Aí, sim, a idade está na cabeça! - mas devo dizer que o Caetano, por fora e por dentro, não parece envelhecer.
Claro, quem não quiser ficar velho, que morra jovem, conforme me disse meu clínico geral, o doutor Hilarião - hilário ele é por vida! - e é lógico que há pessoas envelhecidas desde os 15 anos e outras tantas que envelhecem sem amadurecer, assim como muitos novos apodrecem, pois o tempo age sobre todos nós e quanto a isso não há jeito que dê jeito.
Mas olha o Caetano! 70 anos de vida! e é vida mesmo, não esta existenciazinha que eu e você temos, não: é existência de quem fincou seu nome na História, quem viveu intensamente afetos e revoluções, quem se exilou e sentiu medo, que tristemente cantou que "Embaixo dos caracóis dos seus cabelos (há) uma história para contar, de um mundo tão distante", numa composição triste, no Exílio, e que cantou tudo que está ali no LP/CD Transa.
É a vida de quem diz: "Vida, doce mistério" e ainda reforça, cantando em homenagem ao filho recém-nascido: "Eu digo que ela é gostosa!" e é da vida que se está falando.
Caetano Veloso reinventa tudo, reinterpreta tudo, mas acima de tudo ele é um homem que cria. Criativo, cria arte e cria problemas porque, como leonino, ele também gosta de exibir a juba sob o sol, de aparecer.
Consciente, diz ele em Soy loco por ti, América: " Estou aqui de passagem, Sei que adiante, um dia, vou morrer de susto, de bala ou vício"
Caetano é uma paixão, para mim. Por mim, faço como Adriana Calcanhoto e convido: "Vamos comer Caetano, vamos degustá-lo" (...pela frente, pelo verso, vamos comê-lo cru").
O cantor que consegue confundir a música com a poesia, diluindo fronteiras,atravessando barreiras, é mais que completo. Não dá para escolher uma música de autoria dele que seja a minha preferida, porque gosto de muitas músicas. Eu ficaria tentada, pelo contexto, a citar Vaca Profana porque acho que é uma música profunda e quando ele diz: "Respeito muito minhas lágrimas/ mas ainda mais minha risada", acho que diz tudo o que eu mesma gostaria de saber dizer. Desejar "La mala leche para los puretas", nesta terra de caretas e hipócritas é bem representativo para mim...
"Mas eu também sei ser careta", afirmo pegando de empréstimo o verso. E sem conseguir sair da identificação com a música, "sou tímido, espalhafatoso". "De perto, ninguém é normal". Eis-me aqui, louquética!
Parabéns, Caetano!


Respeito muito minhas lágrimas
Mas ainda mais minha risada
Inscrevo, assim, minhas palavras
Na voz de uma mulher sagrada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada.
Dona das divinas tetas
Derrama o leite bom na minha cara
E o leite mau na cara dos caretas

Segue a "movida Madrileña"
Também te mata Barcelona
Napoli, Pino, Pi, Paus, Punks
Picassos movem-se por Londres
Bahia, onipresentemente
Rio e belíssimo horizonte
Bahia, onipresentemente
Rio e belíssimo horizonte!
Vaca de divinas tetas
La leche buena toda en mi garganta
La mala leche para los "puretas"

Quero que pinte um amor Bethânia
Stevie Wonder, andaluz
Como o que tive em Tel Aviv
Perto do mar, longe da cruz
Mas em composição cubista
Meu mundo Thelonius Monk`s blues
Mas em composição cubista
Meu mundo Thelonius Monk`s...

Vaca das divinas tetas
Teu bom só para o oco, minha falta
E o resto inunde as almas dos caretas

Sou tímido e espalhafatoso
Torre traçada por Gaudi
São Paulo é como o mundo todo
No mundo, um grande amor perdi
Caretas de Paris e New York
Sem mágoas, estamos aí
Caretas de Paris e New York
Sem mágoas estamos aí
Dona das divinas tetas
Quero teu leite todo em minha alma
Nada de leite mau para os caretas

Mas eu também sei ser careta
De perto, ninguém é normal
Às vezes, segue em linha reta
A vida, que é "meu bem, meu mal"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us plau"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us...
Deusa de assombrosas tetas
Gotas de leite bom na minha cara
Chuva do mesmo bom sobre os caretas...

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