Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Por água abaixo!



Envolvida como estou em escrever as considerações finais da tese, agregando atividades diferentes e problemas diversos para resolver, nem tratei do resultado das ambições de entretenimento da sexta-feira passada. De lá para cá, tantas outras histórias para contar, mas, enfim, o tempo vai devorando as possibilidades de narrativa e aí, tal como acontece nos jornais, a gente faz um processo de edição - apesar de que, até o fechamento deste texto, recebi um telefonema de minha amiga que eu creio que vá deixar de fora deste post, apesar de engraçado. Bom, mas lá vou eu satisfazer a curiosidade dos meus amigos próximos que querem matar a curiosidade sobre o que houve e no que deu meu ímpeto de pegar a balsa e ir à Primeira, à Segunda e à Terceira praia de Morro de São Paulo, que é o jardim do lugar em que eu trabalho.
Eu estava sonhando com um gostoso fim de semana em Morro de São Paulo! Já me via na Toca do Morcego, aproveitando a noite e o pôr-do-sol; já havia mapeado tudo que havia de interessante no Centro, onde eu ficaria hospedada, assim como na Primeira, na Segunda e na Terceira praia; e já havia batido o maior papo com a Dona América, dona da pousada.
Na sexta-feira de manhã, ainda aqui em Feira de Santana, despencou o maior dilúvio. Tanto tempo para chover e a chuva só vem quando planejo por os pés na praia. Choveu daqui até todas as cidades até Valença. E depois de chegar onde dou aula, a chuva me acompanhou. Resultado: dei as minhas aulas e voltei humilhada para casa – porque esse é o lado ruim de trabalhar a dois passos do paraíso: está tudo ali bem perto, mas nunca há tempo para usufruir ou deixamos de usufruir devido a um detalhe qualquer, tipo o sol ou meios de transporte ausentes,insuficientes ou inadequados, ou por qualquer acidente de percurso que tornam as coisas impossíveis.
Minha amiga Jau, eu, Tella e Ninno costumamos falar assim das coisas que não se concretizam: fomos humilhados. Então, houve um dia em que combinamos de ir a uma Cafetière. Lá fomos nós. Ao chegar o lugar estava fechado. Assim, a gente diz: “Voltamos humilhados!”.
Dia primeiro de janeiro de todos os anos do resto de nossas vidas, a gente vai atrás de supermercado aberto. Não adianta: não há. Resultado? Voltamos humilhados para casa. Apesar de sabermos que nenhum supermercado, nem os que se intitulam 24 horas, abre no dia primeiro do ano, todos os anos apostamos e perdemos, humilhados.
Então, no caso de Morro de São Paulo, voltei humilhada para casa por causa da chuva, do clima frio e da minha decisão de nem sequer arriscar a travesseia e ver se o domingo seria diferente. Não vou à praia com chuva de jeito nenhum. Neste caso, era a praia e a discoteca,a possibilidade de dançar à noite, de ver um luau besta, com provável gente besta cantando laiá-laiá, com uns maconheiros tatuados tirando onda de gostoso e duas ou três oferecetes se oferecendo, baseados, cerveja e gente com sotaque se achando dona do pedaço, porque este é o clichê e esta é a regra - aliás, é um clássico.
E meu sábado tinha tudo para dar errado, apesar do que, decepcionada eu estava, mas não estava triste. Acabou que o erro deu certo no final: o ser humano da imprecisão afetiva foi me buscar quando eu cheguei, cheio de argumentos, de mentiras agradáveis, de alternativas... e assim a noite foi ótima.
Eu já tinha mudado muita coisa em minha vida desde a quinta-feira. Repito muita coisa, também. Repito ideias e opiniões e repito erros indefinidamente. Mas quando digo aos outros que a “vida da gente só muda quando a gente muda a vida da gente”, depois de muito errar eu aplico a mim.
E por falar em repetição, sou o meu signo. “Sou ariano torto, vivo de amor profundo”, mas dou marradas como um carneiro, bato a testa na parede, insisto, quebro a cabeça, quebro a cara. PAUSA DRAMÁTICA: VI UM OUTDOOR PERTO DO BOULEVARD SHOPPING, ANUNCIANDO QUE O HOSPITAL EMEC AGORA TEM UM CENTRO DE TRATAMENTO DE TRAUMATISMOS DA FACE E PENSEI: SE EU QUEBRAR A CARA, É LÁ QUE EU VOU!”
Voltamos agora à nossa programação normal: repito coisas, mas quando decido romper, implodo as coisas, explodo as relações e faço tudo diferente. Acho que ele viu isso e foi lá tentar consertar as coisas.
O que vejo nele é o que vejo num outro grande amigo meu: a dificuldade em admitir que tem problemas existenciais, que não entende o que falta para ser feliz, que não vê sentido em nada...Se eu pudesse, pagaria umas vinte sessões de análise para cada um.
E nessa de fazer diferente, acionei o pessoal da lista de espera. Mas eu ia me dar muito mal: desmanchado o meu namoro, ao constituir uma dada pessoa como amante, sabia que ele viria com cobranças e com ciúmes absurdos. Se fosse para esclarecer as regras das relações imprecisas, eu diria que um bom amante deve, necessariamente saber a hora de ir embora e saber avaliar o limite dos próprios direitos. Ele, o da lista de espera, não atende a estes requisitos mínimos. Agora vou ter que acionar o meu repertório de desculpas esfarrapadas para explicar a desistência...

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