Louquética

Incontinência verbal

sábado, 25 de agosto de 2012

Armários e arco-íris



Tive sonhos esquisitos com o Léo Áquila ( vê se pode?) que se transmutava em homem e em mulher e ficava me cantando. Mas tudo tem uma razão: antes de dormir eu estava pensando no meu amigo Wesley, que eu não vejo há muito tempo. Na verdade, eu ia colocar só a inicial do nome dele, mas poderia sobrar para outro sujeito, inocente das constatações que aqui faço.
Pensei num dia em que perguntei um negócio meio impróprio a ele, porque fiquei meio desconfiada de que ele segurava forte a porta do armário da identidade sexual. E ele confirmou minhas suspeitas.
Wesley já foi casado. E quem de nós não tem um amigo gay que foi casado e teve filhos apenas para calar a boca dos familiares? E quem não testemunhou, quando da maturidade do sujeito – já quando pai e mãe estavam mortos – que este mesmo amigo foi morar com outro homem? Mas isso é bem banal. Ah, até Léo Áquila tem um filho. Não trato disso: trato do mesmo desprendimento que uma amiga minha teve, quando resolveu ser lésbica.
Isso me incomoda: tratar da sexualidade como se fosse uma roupa que você troca conforme a moda. Acho que a sexualidade é pré-figurada, configurada para além da cultura. Peça a um gay para ser heterossexual por um dia, por exemplo! Nos dois casos dos amigos citados, a coisa funcionou assim: eles queriam amor. Queriam amor e não importava a embalagem.
Aconteceu de o amor vir em embalagem espelhada, ou seja, meu amigo homem encontrou o amor num homem; minha amiga mulher encontrou amor numa amiga mulher. Não procuraram protocolo: o amor estva ali, do jeito que cada um sonhava e o resto era detalhe. Pronto!
Mas para os que como eu defendem os direitos civis dos homossexuais e o pleno acesso à cidadania, para a gente que é cercada de gay, que tematiza, que discute, é certa a batalha para conviver com quem concebe que só se pode defender uma causa se você se incluir nela. Logo, só gay defende gay. Se você os defender, você é gay. Prova disso é a perseguição aos outrora chamados Simpatizantes.
Devo intuir que os Simpatizantes eram simpatizantes com a causa e não eram simpatizantes no sentido de que eram indecisos e curiosos para fazer experimentos sexuais com gente do mesmo gênero.
Igualmente, é uma batalha explicar para uma mulher que a gente que se sabe heterossexual, agora respondendo por mim, não tem a menor atração, interesse ou curiosidade sexual por uma pessoa do mesmo sexo que nós.
Não há nada que uma mulher possa me proporcionar sexualmente. Nada! Continuo achando que uma mulher é bonita ou interessante, assim como qualquer outro ser humano pode ser bonito ou interessante. Faz um tempo que as opiniões estéticas passam pelo filtro maldito dos interesses...
Por causa de uma coisa assim dois amigos se afastaram de certas conhecidas: depreendemos que o par da moça achava que ela era irresistível, linda, poderosa e desejável, pois a qualquer olhar de homem ou de mulher, a qualquer elogio social (do tipo: “Você está bonita de azul!”; “essa calça ficou linda em você!”, etc.) e coisas do gênero, a referida pessoa atribuía valores de flerte, de maldades, de desejos não confessados. Daí que a nossa amiga em comum nunca mais quis conversa, temendo que se coincidisse de olhar para esquerda e lá estar a invejável moça, a companheira fosse construir juízos de ciúme. O amigo também passou pelo mesmo e concluiu pela mesma decisão.
Esta maldade é terrível porque presume interesses inexistentes, é ofensiva e descarta a tendência individual das pessoas, pois todo mundo é tratado como se fosse lésbica ou gay e, portanto, passível de avançar em cima da carne dos amigos. Francamente!!!
Seria engraçado se nós, os heterossexuais, duvidássemos da homossexualidade alheia da mesma forma como ocorre o oposto. Certo que tem aqueles caras ridículos que insinuam para as moças lésbicas que a identidade sexual delas é essa porque não encontraram um homem capaz de satisfazê-las plenamente, porque não acharam pênis competente. Esses merecem ser execrados, mas ao mesmo tempo, perdoados devido à prova inconteste de ignorância.
Enfim, ao lembrar de Wesley também lembrei do desbunde que ele quis viver, para compensar o tempo perdido para seguir as regras sociais impostas pela família. Tem gente que diz que o importante é ser feliz. Eu diria o mesmo se soubesse onde está felicidade de cada um. Não sei, mas certamente não está na mentira, independentemente dos cadeados que guardam as portas dos armários onde muitos se escondem.

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