Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mistérios profundos na mente rasa



Nestes meus poucos dias de adesão ao Facebook só tenho a louvar a oportunidade de falar pelo bate-papo com os meus amigos e catar umas fotos perdidas de carnavais passados.
E foto me dá a maior paranoia porque geralmente a peste do amigo coloca lá a foto em que ele está bonito, pouco importando se os coadjuvantes – eu e outros amigos – estão com olhos vermelhos de maconheiro, de boca aberta, de olhos vesgos, de pernas trocadas... Mas ainda bem que nem todos eles são assim.
Outra coisa interessante é que tem lá uma caixinha de diálogo contendo o seguinte: “Em que você está pensando?”. Então pensei que se eu postasse o que eu tenho pensado, as coisas não iriam acabar bem para mim. Fico pensando, por exemplo, nos dilemas filosóficos que atormentam os seres humanos. Não se trata apenas de desvendar mistérios como a resposta que melhor dê conta do esclarecimento sobre “É de babaixá ou de balacobaca?”, mas de coisas mais profundas, do tipo, “Por que as costas coçam onde as mãos não alcançam?”. Fora que se há um estímulo para que eu pense coisas sérias, se me perguntam no que estou pensando, sobrevêm os pensamentos mais absurdos, que passam pela minha cabeça tipo versos de música de duplo sentido ou forrós maldosos de antigamente. Fico lá pensando “Quem não conhece Severina Xique-Xique-/ Que comprou uma boutique para a vida melhorar?/Pedro caroço, filho de Zeca Gamela/Passa o dia na esquina fazendo aceno para ela/Ele tá de olho é na boutique dela!”
Juro! Nas horas mais impróprias me vem um Genival Lacerda, uma Cremilda, um Sandro Becker na cabeça. E falando nele: “O meu avião não cai/o meu barco não afunda/menina, eu quero ver o balançar da sua... saia!”.
Mas hoje aconteceu foi um troço absurdo quando eu estava no salão de beleza. Para começar, já estava tudo errado: ao invés de chegar lá e catar minha revistinha de futilidades, beleza, celebridades e boa forma, levei o meu Raízes do Brasil, porque nestas últimas cinco páginas que restam escrever, veio a ser uma exigência.
De repente, não se sabe de onde saiu a pólvora, o tema existencial pegou fogo, tomou conta dos secadores.
Vou ali para mexerem no meu cabelo, não para dar trabalho à minha cabeça. Sei que dialoguei explicando uma grosseria que cometi ontem, ao falar a um amigo meu: “E que motivo você tem para ficar triste”?.
Daí que eu disse um absurdo desse e as meninas lá acompanharam o meu raciocínio, porque a gente tem angústia e tristeza não é porque há algum motivo claro.
Ter saúde, ter companhia, dinheiros, casa para morar e etc. não é sinônimo de que a gente não sinta angústia, porque é um fenômeno humano. Embora a gente precise de muito pouco para estar bem, não significa que ter tudo vá causa a extinção das dores, das decepções, das tristezas. A diferença é que quem é rico já tem suas conquistas materiais e aí, pior ainda, fica livre para questionar a existência e reclamar outras faltas.
Nós, os pobres, na labuta diária, entre aulas para dar, comida para fazer, contas para pagar,cachorro para dar banho, família insuportável para lidar e etc., a gente, pois, é que se entretém com isso e descura de coisas mais profundas que talvez boa parte de nós desconheça carecer.
Tem uns seres humanos iluminados que afirmam que escrevem melhor quando estão mal, na fossa, no fundo do poço. Não se aplica a mim esta máxima. Se estou mal, tudo vai mal e nada anda.
Bom, o povo do salão reconheceu que ter filhos e inventar um cotidiano ajuda a dar sentido à vida, porque a gente, graças a Deus, pode jogar as questões mal respondidas de nossa existência para cima da existência dos outros. Aí tem filhos para criar, gente para cuidar e faz de conta que existe porque eles precisam de nós.
Não sei o sentido da vida. Sentido obrigatório, porque suicídio não é bem-vindo.
Talvez seja sempre à direita; talvez seja siga em frente - bem que podia ter placas! - mas sei que qualquer que seja o sentido, ele não existe por si só e cada um cria o seu. No meu caso particular, o sentido da vida é existir. Depois a gente morre. Ponto final.
Ah, sim, explico este ponto final: quando num ano aí o Bigbrother dos professores do campus em que eu ensinava foi infestado por fantasmas, fazendo com que cada um tenha uma história para contar sobre isso, muitas delas compartilhadas, descobri que não é todo fantasma que atravessa portas. Graças a Deus! Eu, que não acredito em cartomantes, fui obrigada a engolir em seco os espectros da casa, trazidos, claro, pela paranormalidade mal cuidada e negligenciada de uma das pessoas que trabalhava conosco. De todo modo, me perturba pensar na pós-existência e eu fico aqui acreditando em Morte após a Vida, que é o caminho mais fácil para encurtar dilemas.
Agora que resolvi aproveitar o entorno da cidade em que dou aula, fiquei com medo de enfrentar águas profundas de novo – como quando tive que ir de balsa a Niterói.
Não bastasse o eterno medo, tive advertência de dois amigos, dizendo que a entidade das águas iria me levar. Nem precisava dizer isso: eu morro de medo de águas profundas, eu odeio ferry-boat, eu nunca iria a um cruzeiro, eu não gosto mesmo...
Se eu ficasse na Península de Maraú, nem precisava disso. Mas a minha existência clama por um final de semana na praia badalada, bem naquela que necessita da balsa ou da lancha. Então não sei se isso é medo da morte, se é medo da vida ou é medo do pós-vida, porque está aí uma reposta que eu não quero ter. Minha mente rasa não se precipita sobre os mistérios profundos.
Já não me aguento com esta vida, quanto mais uma outra vida? Já disse: se alguém aí quiser a Eternidade, pode levar minha parte.

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