Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Na pista certa



No sábado eu saí à noite, fui ver o show da banda 80 na Pista, no Antiquário Pub. Dancei, me diverti, protelei para um tempo longínquo qualquer as obrigações, mas já dei conta de algumas nesta manhã de segunda-feira.
Não é que eu não veja este defeito em mim mesma, pelo contrário: preferia não ver nos outros porque julgo que todo mundo e qualquer um é mais equilibrado que eu. Então, com certa tristeza constatei o quanto as pessoas, das quais as amigas mais chegadas,camuflam a realidade, mergulham em "realidades" paralelas, inventadas, imaginativas, para seguir em frente.
A vida nua e crua, sem maquiagem, sem placebos, sem seus falsos remédios, é muito dura de encarar. Tomar decisões é muito difícil. Talvez isso tenha a ver com a reação que as pessoas têm diante de um objeto quebrado pelo qual se tem estima: a gente quer consertar, a gente quer colar, mesmo que saiba que não vai funcionar mais.
Mas, então, não estou imune a isso. Ou não citaria a distanásia por aqui - só a eutanásia mesma, que inclusive eu defendo para mim: tomara que se eu estiver definhando, um dia, um amigo legal desligue meus aparelhos, me pipoque logo para o além.
Aliás, minha gente, se é uma coisa que eu não tenho é insistência de existir. Na hora que Jota Cristo decidir que vou morrer, vou aceitar. Negócio doido esse de querer viver de qualquer jeito...
Está certo que eu não vou me matar, que não quero morrer logo, mas não quero demorar na Terra nem viver definhando, dependente de outras pessoas nem de aparelhos. Já dei este aviso antes: sou doadora de órgãos. Nem esperem muito e podem destroçar minha carcaça, levar tudo que sirva para a vida de alguém mais insistente em viver ou que precise de meus órgãos para ter uma vida melhor, para respirar, ver, enfim, só não acho que meu coração valha grande coisa porque ao longo da minha vida ele foi muito maltratado.
Fisicamente está tudo bem, novinho, direitinho, mas subjetivamente, coitado, já sofreu, já apanhou mais do que bate agora... Eu queria ter dado esse coração a C., uma vez, porque acho que ele não tem nenhum. Poxa, a gente poderia fazer transplante cardíaco num monte de gente sem coração... quem sabe o mundo mudava, não é?
Mas este embrólio todo é para dizer que recebi uma proposta de trabalho de um grande amigo de longe, para logo mais e devo topar.
Quando eu fechar a porta da minha casa, metade de mim vai ficar aqui e a vida nunca mais será a mesma. É o caso das decisões e dos objetos quebrados: depois que a gente decide pelo inevitável, depois que a gente vê, constata e concorda que há uma decisão certa a ser tomada, que é preciso largar a mão do porto e deixar a água levar o barco,ah, a gente morre um pouco.
E é isso.
Coisas irreversíveis dão nisso.
Não é que eu vá e não volte. Eu voltarei, claro. Mas o que eu deixar aqui não será o mesmo se eu voltar, quando eu voltar...Nem eu serei a mesma...nem sei se vou mesmo voltar como eu penso. Volto por amor à casa. Coisa difícil de alguém entender o que é um amor por uma casa, uma casa que não tem nada, uma casa que ninguém entende porque não reformo, mas que eu gosto assim. Chuck gosta assim e entende que tocar na estrutura é desarticular a memória desta casa que amo e que tem minha história na parede, nas árvores,na terra, nos bichos, nos insetos todos das plantinhas...
Há momentos em que a gente não imagina a vida da gente sem uma determinada pessoa...Não dá mesmo! dor e luto.
Não sei se passo uma chuva num outro Estado ou se assumo que a vida profissional nestas terras nordestinas é deveras ingrata e incerta. Creio que se eu mudar de casa muita coisa mudará em mim, de maneira irreversível. Irreversível me lembra o eterno e como o eterno dura demais e para sempre, me amedronta. Mas, quem sabe?

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