Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Máscaras


Depus a máscara e vi-me no espelho...
Era a criança de há quantos anos...
Não tinha mudado nada...

É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado fica,
A criança.

Depus a máscara, e tornei a pô-la.
Assim é melhor.
Assim sou a máscara.

E volto à normalidade como a um terminus de linha.


Quando a gente tem contato com poetas de verdade - e tamanhamente de verdade que precisam se travestir em heterônimos, multiplicar máscaras criativas e verdades imaginativas - é que sabe exatamente da própria pequenez na escrita.
Hoje Cléo me perguntou aonde estão os meus livros. Digo que não estão nas livrarias, mas nas mãos do editor, que mora no Rio Vermelho, em Salvador. E lá ficarão indefinidamente.
Escritor é Fernando Pessoa, é seu Álvaro de Campos, é qualquer máscara de quem sabe se ficcionalizar. Escritores são os que já são e uns poucos outros fora do cânone, que não usam o ego como caneta.
Acho que conheci poetas demais e por isso não acredito neles. Acredito, sim, no Pessoa, na pessoa.
Quem escreve quer ser lido, desde que publique.
Não é fácil se submeter ao crivo crítico de especialista e especuladores: vai que alguém faz comigo o que faço com a obra dos outros? então, que fiquem na gaveta os livros.
Disse Cléo que odeia o nome Maria. Eu confirmei: meu livro se chama Todas as mulheres se chamam Maria. E o outro se chama Histórias Católicas. Está na cara o esteio moral católico, uma base de estudo e questões de gêneros, porque me é própria e um fundo psicológico de tensão sexual, especialmente nos contos do último livro.
Escrevo diários e eles nunca serão publicados - e isso tanto me preocupa que várias vezes cogitei queimá-los, mas recuei ao constatar que estaria queimando a minha história.
Quando escolho um trecho literário de qualquer gênero para colocar aqui no blog, faço por identidade, por gostar, por me encontrar no escrito, nas letras de outrem...
Quem não tem esses arroubos de pensar que "isso foi escrito para mim"? ou mesmo se apropriar de um poema que tenha paridade com um sentimento, com uma situação?há uma pertença móvel na literatura: o dono não é o autor. O autor é somente quem cria. Dono é quem se apropria - e acho isso encantador.
O poema de Pessoa é de todos que gostem de poemas de Fernando Pessoa.

2 comentários:

  1. Olá Mara

    Estava na net procurando uma figura para um post e me deparei com seu blog.
    Achei muito legal...
    Você escreve muito bem.
    Estou seguindo...


    Beijos
    Ani

    http://cristalssp.blogspot.com.br

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