Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Café


Como sempre, por obra e graça de uma sequência de acasos, saí com uma amiga interesseira na tarde de ontem.Não planejei, não convidei, aconteceu.
Não, eu não tenho bens materiais ou outros elementos que possam me predispor a ser explorada, mas os interesseiros sempre acham que o nosso pouco pode render muito em termos de lucros reais, venais e simbólicos. E assim foi: fui comprar umas coisas para ela em meu nome. Tudo bem! Não era esse o caso, porque ela atrasa, mas paga.
O problema foi mais depois: não apenas perdi meu tempo para me abalar até um shopping para as coisas dela, como no momento em que o foco eram os meus interesses, fui dissuadida de ir procurar o que eu precisava. E muito forçosamente fomos ao Bistrô, opção minha.
Confesso: ele é o meu melhor amigo. Maior amigo. Preciso dele. Sou mais feliz com ele. Quando percebo que preciso dele reconheço sua importância para o meu bem-estar. Se alguém falou que o melhor amigo de uma mulher são os diamantes, sinto muito discordar, pois o meu é o café. Até porque não gosto de joias. Já disse antes: prefiro bijuterias, não troco de brincos, não tenho vaidades de pedra (kkk!a ambiguidade aqui é deliberada, tá? - rubi, ametista, diamante, pedra alguma) e adoro pérolas falsas, porque são mais bonitas.
Mas o café é o meu melhor amigo.
Até pouco tempo atrás a gente não se entendia bem: era caso de família, coisa freudiana mal resolvida. É que nasci numa família em que as pessoas entornavam litros de café por dia. Meu primo colocava um copo duplo de café na geladeira e esse era o café gelado dele, tomado meia hora após o café regular, o quente.
Na minha família só variam quanto ao café fraco ou forte. Eu desdenhava o café, tomando esporadicamente, mas era para ser do contra, não era assim um gosto tomado conscientemente, era falso.
Depois da psicanálise vi que gostava, sim, de café, mais do que eu admitira. E era aquele negócio: o meio-amargo. Café com adoçante para sentir o travor, o sabor. Café com açúcar se feito em coador, para sentir a plenitude. Café gelado para o amor. Não tem coisa mais amorosa que um café gelado, compartilhado ou solitário: uma guloseima romântica, quente e frio, amargo e doce, enfeitado, com chantili, com beleza: um amor.
Amor tem que ser o que é um café gelado: quente e frio. Amargo e doce. E tem que deixar um sabor na boca quando acaba, convidando a outro ou dando a sensação de saciedade: acabou.
E aconteceu do Bistrô ser justamente onde outrora fora a boate a que nós três frequentávamos: eu, a amiga interesseira, a irmã dela...
Sentamos lá e ficamos olhando e recordando que aquele sofá estava onde ficava o sofá da boate. E que onde havia uma coluna eu me escondi para não dar rolo entre Thales e Ninno, ainda era coluna decorativa.
E ela,a amiga, lembrou de quando fugiu da boate sorrateiramente com outro e voltou, depois, para “o mesmo”, sem que ele percebesse o ocorrido, em manobras cafajestes que mui orgulhosamente reforça a aptidão feminina a pensar em detalhes e tecer narrativas críveis a homens convencidos.
Lembramos os tempos idos, as aventuras, as durezas, os acertos e desacertos das decisões tomadas e sofridas.
Um amigo é sempre um amigo, apesar dos defeitos. O que me deixou irada foi ela fingir não ter dinheiro para forçar que eu pagasse a conta. Pagaria, sim, se fosse o combinado, sem reclamações. Mas, enfim, a situação foi tremendamente vexatória e eu entrei no jogo e paguei a conta. E tudo isso por um detalhe: quando fui registrar as compras da minha amiga interesseira, a moça do caixa me ofereceu 900 reais de empréstimo. Eu disse que não queria, que não precisava. E isso foi ouvido por ela. Então, deu no que deu.
Costumo ser generosa com meus amigos, mas não sou generosa com os interesseiros, não: acho absurdo alguém querer obter lucro de mim. Já me bastam os trabalhos que levam minha mais-valia (salve, Karl Marx!).
Nisso de gasto e nostalgia lembramos a Praia do Forte, os réveillons, as curtições todas, os casos, os amores e constatei que já não somos quem éramos, talvez porque eu fosse mais inocente mesmo e não acreditasse em certas coisas que o tempo confirmou aos meus olhos. Mas, no resto, eu posso dizer aos meus amigos: vão ao Café Bistrô que lá o café é excelente. E pensem seriamente em ir, no próximo sábado, ao Antiquário, porque tem show da banda 80 na pista. Eu irei, se Deus quiser e o dinheiro der.
E cá estou com saudades do meu grande amigo café, que amo bem mais que os comparsas chocolate quente e cappuccino. E ele é realmente um amigo para todas as horas.

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