Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Verdades na cara

Eu acho que amigo deve dizer a verdade e dever dizer umas verdades sempre que a ocasião pedir. Mas sei que a verdade nunca é bem recebida e que há outras verdades que jogam a gente no meio do turbilhão das confusões.
Subi nas tamancas com uma amiga, neste final de semana: por acaso, ela “esqueceu” de me contar que deu o carro para o namorado dirigir e que ele atropelou uma pessoa e fugiu sem prestar socorro.
Minha amiga é minha amiga e estava errada. Dava para ser falsa e dizer que eu era aquiescente com aquilo? Não deu: desci a madeira! E amigo meu não espere de mim que eu acoberte erros desta natureza. Se fosse o contrário, ela gostaria de ter sido atropelada e deixada à margem de uma rodovia?
E eis o argumento: "Ah, o cara estava de moto, qualquer toque derruba e eles se destroçam..."
Eu não consigo ver nesta observação algum atenuante. Porém, o sujeito anotou a placa do carro e foi atrás do prejuízo.
Ela mentiu para o coitado, que teve que ser confrontado. Olha, se fosse comigo eu tinha perdido a cabeça: ele disse que viu que não era ela quem dirigia e teve que aguentar a mentira ridícula e descaradamente sustentada. Por fim, desistiu e ficou no acordo de ser ressarcido pelos prejuízos sofridos.
Num mundo em que todo mundo reclama da impunidade e da injustiça, as pessoas as praticam aos rodos. Fazem caras de pasma e de estupefatas diante do que a televisão noticia, mas quando é na própria vida, repetem injustiças e desmandos.
Um grande amigo está recebendo tanto chifre que mais parece um alce. Neste caso, eu não conto não. A gente dá aquele toque de que se ele é casado deve dar atenção à esposa, ser elogioso, presente, porque a melhor forma de levar um belíssimo e enorme par de chifres é deixar uma mulher carente. Sempre tem algum homem disposto a dar o que está faltando... E aí, pimba!
Como sempre acontece, eu estou evitando o meu amigo. Primeiro, porque ele merece os chifres que leva, pois deixa a moça em terceiro plano, num regime de sexo a cada 60 dias – ora, nem freira aguenta uma coisa dessas! – e segundo porque eu que não quero a responsabilidade de revelar as coisas.
Já outro casal de chegados está desmanchando a união: minha amiga é um péssimo negócio para ele, para o sujeito que também é meu chegado. Mas como é que eu vou dizer a ela, diante de tantos lamentos, que ela tem responsabilidade sobre o que está acontecendo? Na verdade, ele foi um herói em aguentar alguém que é só prejuízo (financeiro, emocional e moral). Brinquei de chamar a relação e negócio porque o interesse dela era meramente material. Depois virou amor, mas nunca deixou de ter o eixo da exploração, no velho esquema de que “o amor custa caro”.
Eis as tantas verdades, mas não perece falsidade revelar verdades assim, sob o microscópio? Em mais um caso, pensava eu que os vários amantes que uma das partes tinha/tem não configuravam um sinal de desamor. Sempre achei que a psicanálise fosse conivente com a infidelidade porque não via isso moralmente e porque a traição não desmente o amor, já que realmente os desejos extrapolam as relações. Porém, por um caminho e por outro, o analista da criatura mostrou que a infidelidade implicava no desamor, que o que certa pessoa sentia pela outra era admiração, mas não amor. Era qualquer coisa, exceto amor...
Amigo acaba sendo cúmplice ou testemunha, de alguma forma. Apesar de todos os efeitos corrosivos da verdade, eu ainda prefiro que me digam a verdade, que me mostrem a verdade. Mas pode ser que a verdade deva vir em doses homeopáticas – ou overdoses homeopáticas, para os mais fortes. Se viver na mentira faz a pessoa ser mais feliz, porque expor uma verdade que magoa? Já pensei assim, porque era conveniente. Estar feliz na mentira é ter uma felicidade de mentira... Não funciona para mim. Até já disse que tem dias em que está tudo errado, tudo em falta e me dá uma felicidade besta e mal explicada... É assim porque é verdadeira, é gratuita. Mentira causa decepção, um dia vem à tona e deixa a gente com cara de tacho, se sentindo imbecil e enganado. Mas, na verdade, na verdade, vos digo: vou ficar calada e omissa porque esses problemas aí são bastante complicados...De verdade!

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