Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Surpresas que nem surpreendem


Vou contar em flashes os últimos acontecimentos, porque estou ocupada e em véspera de uma viagem mega-chata.
No sábado, olha a surpresa surpreendente: quebrei a cara, pois fui ao Antiquário ver a banda 80 na pista e o show não aconteceu, nem o cancelamento foi justificado. Pelo menos era o Nil Beatles quem estava tocando e deu para aproveitar um pouquinho.
Durante todo o final de semana um querido amigo não atendeu meus telefonemas: graças a Deus! Eu precisava mesmo falar com ele, mas desde que comprovei que ele está levando chifres, não me sinto confortável com nosso contato. Eu é que não vou contar o que sei, nem confirmar o que ele desconfia.
De minha amiga Chris, o interessante desfecho: repetindo meus erros crassos, lá foi ela se enamorar por um sujeito de sotaque ABC paulista, de cara boa e pegada boa. Depois de alguns amassinhos avançados plus por aí, lá vai ela escrever para o “mano”: e tome-lhe Clarice Lispector, expressões afetivas, floreamento de linguagem apaixonada, caprichos de artefatos retóricos e blablablá no ‘mano” que, diante de tanto afeto respondeu assim ao e-mail: “É nóis!”. Perdão, amiga, mas kkkkkkkkkkkkkk!Isto é incrível! E não vai aqui nenhuma crítica depreciativa, porque também já peguei um tipo assim e devo advertir que certas coisas são capazes de causar AVC nos neuroniozinhos dos 'mano". Pelo menos ele deve ter entendido que agradou.
E por mim, é nóis, é noz, é castanha-do-pará. Olha só, lembrei que o meu paulistano com sotaque ABC paulista falava sempre e para qualquer coisa “Já é!”. Talvez isso seja um novo idioma. “É nois!”; “Já é!”... O equivalente ao vocabulário brown baiano do “Colé a de mermo” e do “filé!”. Ah, nossa língua portuguesa é linda e rica!
Meu querido e agora único número de celular, 9961-88... Deu tilt no final de semana. Minhas mensagens não iam, as mensagens dos outros não vinham. E nos tempos atuais, ninguém mais acredita que isso seja possível e por isso entrei em algumas confusões. Primeiro, porque eu tinha uma armação marcada com uma amiga e não iria contar para a outra do que se tratava. Daí me embaracei toda dando a parecer que a mentira era minha. No dia seguinte, com a pane do meu telefone, a amiga da armação imaginou que eu não dei bola para os torpedos dela nem busquei cumprir minha parte no acordo. Pior, a outra amiga que me apareceu altas horas aqui na porta mostrou que não acreditava que eu não estava avisada da visita, porque ela avisou por torpedo que viria. Juntou-se ao buzinasso que ela fez em minha porta, o buzinasso dos vencedores das eleições – gente, isso aí é superlativo de buzina, coisa totalmente neológica que a gente usa por aqui -, as berrarias da fé da igreja evangélica protestante que fica nos fundos de minha casa e a minha indisposição e sonolência devido aos estragos de sábado à noite, pois voltei da festa às três da manhã.
Basta um telefone com defeitos de operação para a gente sair de mentiroso. Pelo menos, eu não costumo mentir: desligo o telefone fixo sempre que vou dormir, sempre que quero ficar a sós com alguma boa companhia sem ser importunada, sempre que vou estudar. E deixo o celular no silencioso ao dormir e sempre que tenho mais o que fazer.
Falo isso, mas o povo não se conforma: ouço de uns e de outras os queixumes porque ligaram para cá e ninguém atendeu. Lógico: eu saio e eu tenho algo mais a fazer do que dar plantão e esperar ser contemplada pelo telefonema de alguém. Não obstante, sei que isso é um desaforo.
Nas leis que regem a vida comum, também não vou à casa de ninguém sem aviso prévio: o lar é sagrado. Não toque nele. kkk! Não é isso: é que moro sozinha. Se tranco a minha porta, gosto da minha privacidade, desfilo em trajes menores, fico à vontade... Se estou preparada para alguma visita, tudo bem. E quantas vezes atendo à porta de máscara na cara, de argila, de pepino... Ou tenho meu sono interrompido?Ah, muitos amigos meus lerão isso; e aqui não vai indireta, não! É direta mesmo: por favor, ligue antes de aparecer. E se eu não atender, deve ser porque eu tenho direito a tomar banho, a sair, a dormir, a desligar o telefone.
Ah, e mais uma manchetinha discreta: Neide retomou um comentário meu, aquiescente: “Sabe aquilo que você falou, sobre o fato de uma pessoa querer tirar proveito da outra, mesmo esta outra pessoa sendo mais fraca, ganhando menos,e estando numa situação pior? Poxa, isso é verdade mesmo! Passei por isso!”. Ah, minha amiga, eu queria era não ter razão.
Enquanto eu escrevo aqui, meu amigo me telefonou com reclamação semelhante: ele falou da amicíssima dele, R., que devendo uma grana preta a ele e vendo que ele tem família sustentar e filho para criar, que está numa situação delicadíssima, não faz o menor esforço para pagar. Nem mesmo de cem em cem reais, nada, nenhuma expressão de quitar a dívida. Daí que ele disse para eu não avisá-la sobre certo concurso – de que eu o avisei – porque ele depositou confiança demais nela, porque a arrasta consigo em concursos, seleções e etc., e que ela se esconde na concha da ostra, se encolhe para se fazer de coitadinha, não retribuindo à solicitude do amigo. Diga-se de passagem, que quando ele passou no doutorado e ela não, a tensão se instalou entre os dois.
Vai a minha decepção pessoal: hoje almocei com uma pessoa amada e conversamos sobre as desonestidades cotidianas e como os honestos são tratados como idiotas, já que estamos no país dos espertos.
Ele mudou o ponto de vista: apoia estelionatários, golpistas em geral, desde que não ataquem indivíduos, de arma em punho, não matem o trabalhador nem barbarizem em violência física contra quem quer que seja.
Ele se disse arrependido da lealdade, de ter deixado escapar oportunidade de ser desonesto e se dar bem... creio que me achou otária por devolver carteiras encontradas e celulares que não eram meus. Falamos dessa desonestidade colateral, de comemorar quando algo foi consumido, mas não foi lançado na conta. Acontece que os donos de bares e de propriedades estão numa sociedade capitalista regida pelo lucro. Deste modo, se achamos que eles roubam nos preços não seremos mais honestos que eles à medida que damos graças a Deus pelo que usamos e não foi cobrado. Tanto faz o tipo: desonestidade é uma só. Mas temos que acordar: as pessoas fazem qualquer coisa por dinheiro, especialmente aquelas que fingem ter mais do que realmente têm. Eu só quero o que é meu... e ter sorte, claro! Sorte é dádiva, não gera perda a outrem.
Gosto de dinheiro. Do meu dinheiro. se ele for muito, ótimo: será usado para me fazer feliz, para realizar desejos, para dar tranquilidadee financeira. Mas é o meu dinheiro. Não é o troco a mais dado pelo caixa, nem o dinheiro apropriado da generosidade da amiga, nem produto do oportunismo. Dinheiro moralmente sujo não é lucro, por maior que seja a mediocridade de quem topa tudo por uma grana.
Quero ganhar bem, sim. Quero prosperidade. E quando repito Zeca Baleiro e digo que "Eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus", quero dizer que não preciso de milhões para estar bem, mas se eu os tiver, ótimo. Não tenho uma relação suja com dinheiro, não cobro o que não me devem, não exploro quem tem menos, não me aproprio do que não me pertence e acredito piamente que "quem paga juros não deve favor". Se um empresta, o outro lucra, os dois ganham, porque o primeiro teve a necessidade contemplada e porque o segundo lucrou juros.
Não acho que a pobreza seja justificativa para a desonestidade. Apertos, todo mundo tem; lucro todo mundo quer... E sorte é a forma que Deus tem de nos fazer boas surpresas.

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