Louquética

Incontinência verbal

sábado, 1 de setembro de 2012

"Está difícil ser eu"



Como disse Djavan (e Gal Costa) em Nuvem negra, "Está difícil ser eu/sem reclamar de tudo".
Há a nuvem negra deste dia nublado e chato e a outra nuvem negra, já resto de tempestade dentro de mim. E depois da tempestade sempre vem...o prejuízo!
Eu, que sou até certo ponto decidida - usei aqui a expressão "certo ponto" porque há coisas e situações em que eu não hesito em escolher. É isto ou aquilo. É "vou" ou "Não vou!", e até para decidir se vale a pena um affair com um homem, não sou de vacilar: digo sim ou digo não - estou aqui hesitando se acompanho minhas amigas numa viagem curta amanhã.
Como a felicidade obrigatória de cada dia não me pegou e eu estou entristecida, penso que melhor é encarar a fossa do momento porque levarei minha tristeza para onde quer que eu vá.
Não sou dada à Rivrotrilização da vida (Ah, é repetido, mas ainda vale: "Ri melhor quem Rivrotril", dizem os dependentes).
Por outro lado, penso que ao levar minha tristeza para passear, mudo o cenário e as possibilidades. Mas não soube decidir nada entre ir ou ficar.
Tenho coisas para ler e coisas para corrigir, tenho os problemas antecipados para imprimir minha tese, um bando de cópias de mais de duzentas páginas. Logo, tenho o que fazer.
Minha amiga me espremeu, questionando que motivos eu tenho para estar entristecida. Aí vem o negócio que eu mesma já argumentei por ter comentado exatamente isso sobre um amigo entristecido: Não precisa motivo claro para a gente ficar triste, jururu, borocoxô, de baixo-astral, na fossa, de bode ou expressões congêneres.
Estou com um baita problema, sim. O que torna meu problema maior é que ele é um problema meu - não via aqui nenhuma estupidez ou deseducação: o problema é meu porque está em mim, só eu posso resolver e é uma coisa que eu não resolvo porque me falta coragem.
Daí que eu hesito, apesar de saber o que fazer, o que preciso, o que é melhor e o que é o certo. Ter a solução na mão não significa ter capacidade real de resolver.
Como é que se mata o monstro que nos constitui sem matar, junto, a nós mesmos? Ponho na mesma balança dos vícios: se é vício significa o consumo/uso/prática excessivo, compulsivo e além da conta, cujo resultado é maléfico, prejudicial, deletério. Mas saber que algo é ruim para nós não presume nossa capacidade de nos desvencilharmos do que causa o mal.
Tenho vícios emocionais, dependências emocionais, dependências afetivas...Tudo desconexo e mal explicado, sem razão de ser. Coisas que só podem ser comparadas ao meu Complexo de Édipo há tanto tempo tratado na psicanálise. Ah, minha analista não escondeu de mim, quando levei esta minha questão atual ao consultório, que se tratava do "substituto do pai", o que seguindo os preceitos do George Michael (kkk!) é a "Father figure" que arrastei a outras áreas.
Aí estou com um bode desse amarrado em meu inconsciente.
Pelo menos não é coisa de família, o que pioraria tudo.
Mas então saio de mim para tratar a questão como se fosse de outrem. Pergunto: "E aí, nesse caso, o que fazer?". E a resposta é a mesma. Só há uma resposta possível para mim ou para quem quer que seja que atravesse o mesmo deserto que eu.
Mas eu, que tenho medo do deserto, levanto pontos para negociação. Não há negociação possível porque tudo está definido e cabe aqui afirmar como Parmênides: "O que é, é. O que não é,não é nem pode vir a ser". Acabou-se o futuro e as possibilidades de mudanças porque, como diriam os paulistas do ABC, "Já é!". Não há devir para este caso.
NOTA EXPLICATIVA: Eu acredito em devir, eu prefiro Heráclito a Parmênides, mas neste caso meus gostos não dão conta da discussão. É caso que favorece a inércia proposta por Parmênides. Ponto final!
Eu já disse mil vezes que assim como o carneiro símbolo de áries, meu signo, eu bato a cabeça contra a parede, eu dou marradas.
Tem gente que chama teimosia de perseverança. Sou burra e teimosa, logo, perseverante.
Eu que critico tanto a insistência, vivo insistindo no que não dá e novamente lembro de minha analista tratado meu Complexo de Édipo: "...E você não desiste! você não desiste nunca!" (do amor do Pai). Até que desisti, ou assim penso! e não tem uma vez que eu fale em analista que eu não misture o pensamento para lembrar d'O analista de Bagé. Vai que se ele me recomendasse o "joelhaço" como terapia isso passava?já citei o texto aqui uma vez:

OUTRA DO ANALISTA DE BAGÉ (Luís Fernando Veríssimo)

Existem muitas histórias sobre o analista de Bagé, mas não sei se todas são verdadeiras. Seus métodos são certamente pouco ortodoxos,embora ele mesmo se descreva como "freudiano barbaridade". E parece que dão certo, pois sua clientela aumenta. Foi ele que desenvolveu a terapia do joelhaço.
Diz que quando recebe um paciente novo em seu consultório a primeira coisa que o analista de Bagé faz é lhe dar um joelhaço. Em paciente homem, claro, pois mulher, segundo ele, "só se bate pra descarregá energia". Depois do joelhaço o paciente é levado, dobrado ao meio, para o divã coberto com um pelego.
- Te abanca, índio velho, que tá incluído no preço.
- Ai - diz o paciente.
- Toma um mate?
- Na-não... - geme o paciente.
- Respira fundo, tchê. Enche o bucho que passa.
O paciente respira fundo. O analista de Bagé pergunta:
- Agora, qual é o causo?
- É depressão, doutor.
O analista de Bagé tira uma palha de trás da orelha e começa a enrolar um cigarro.
- Tô te ouvindo - diz.
- É uma coisa existencial, entende?
- Continua, no más.
- Começo a pensar, assim, na finitude humana em contraste com o infinito cósmico...
- Mas tu é mais complicado que receita de creme Assis Brasil.
- E então tenho consciência do vazio da existência, da desesperança inerente à condição humana. E isso me angustia.
- Pois, vamos dar um jeito nisso agorita - diz o analista de Bagé, com uma baforada.
- O senhor vai curar a minha angústia?
- Não, vou mudar o mundo. Cortar o mal pela razi.
- Mudar o mundo?
- Dou uns teleofnemas aí e mudo a condição humana.
- Mas... Isso é impossível!
- Ainda bem que tu reconhece, animal!
- Entendi. O senhor quer dizer que é bobagem se angustiar com o inevitável.
- Bobagem é espirrar farofa. Isso é burrice e da gorda.
- Mas acontece que eu me angustio. Me dá um aperto na garganta...
- Escuta aqui, tchê. Tu te alimenta bem?
- Me aliemnto.
- Tem casa com galpão?
- Bem...Apartamento.
- Não é veado?
- Não.
- Tá com os carnê em dia?
- Estou.
- Então, ó bagual. Te preocupa com a defesa do Guarani e larga o infinito.
- O Freud não me diria isso.
- O que o Freud diria tu não ia entender mesmo. Ou tu sabe alemão?
- Não.
- Então te fecha. E olha os pés no meu pelego.
- Só sei que estou deprimido e isso é terrível. É pior do que tudo.
Aí o analista de Bagé chega a sua cadeira para perto do divã e pergunta: - É pior que joelhaço?



Nenhum comentário:

Postar um comentário