Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

"Desejo: necessidade e vontade!"

Os desejos são mesmo problemas e meu inconsciente não ajuda em nada na resolução deles: antes de dormir fiquei pensando no sósia do Daddo Dolabela que, há anos, não desiste de mim. Neste caso tem o agravante de eu achar o cara bonito, mas costumar focalizar a questão nas possíveis consequências: ele é problemático. Então, se o desejo é um problema, o desejo envolvendo um sujeito problemático é um duplo problema.
Dormi pensando nisso ontem e acabei sonhando com quem nem estava sendo lembrado há tempos: o delicioso coleguinha das aulas de Antropologia – na verdade, a aula era de outra disciplina, mas para resguardar relativamente à privacidade das partes, fica isso aí. É que na UEFS funciona assim: se você entra, por exemplo, em uma turma, esta sua turma de primeiro semestre vai manter contato com as outras que vão entrando ao longo dos seus quatro anos de graduação. Isso significa até duas turmas diferentes por ano, referentes a cada semestre de vestibular.
Convivem, portanto, os que entram depois de nós e os que já estão, de modo que é muito difícil que as pessoas não se conheçam entre si. Eu tranquei um ano de curso de graduação, para estar na porcaria do recrutamento do tempo em que fui militar, e na volta, conheci o cara da turma nova, o tal da turma de Antropologia. Acho até que fizemos uma viagem juntos, como turma, sei lá, pouco lembro... Mas como não tínhamos a mínima intimidade, ficou o desejo latente, sem muita certeza de ambas as partes.
Desde sempre eu achei o sujeito muito bonito. Somos preconceituosos com as pessoas bonitas e, com os homens, pior ainda. Bonito é sinônimo de convencido, antipático, cheio de si, dentre outras coisas. Nas experiências que tive, nada disso se confirmou: eram bonitos e gente fina, educados, inteligentes e a exceção foi só aquele poeta cretino, porque é típico da classe dos cafajestes certos hábitos e posturas.
Bem, mas no meu sonho foi tudo bem: desejo realizado, tão bem realizado que acordei balbuciando as coisas que eu estava dizendo ao coleguinha interessante. Faz um tempo que eu não o vejo e, para ser sincera, acho que só percebi que era correspondida quando passei na seleção para professora da UNEB e, num semestre posterior, fui tirar as xérox que comporiam o módulo de minha disciplina. Ele estava lá. Quer dizer, ele veio depois e eu já estava. Atarefada, troquei duas palavras com ele, escondendo o brilho de felicidade nos olhos pela feliz coincidência.
Neuroticamente, eu estava em duas xérox ao mesmo tempo – vizinhas. Ia de lá para cá para seguir a cópia dos meus livros e aí, como ele não sabia disso, começou a fazer perguntas sobre mim à moça da xérox. Começou perguntando de meus livros, depois da minha disciplina, seguiu perguntando se ela sabia onde eu morava e blablablá e, como era inevitável, cheguei lá e interrompi a conversa bem na hora em que ele pediu o meu módulo para ver o que havia dentro. Acho que respondi algumas coisas eu mesma. Acho que ele disse umas poucas coisas sobre si, das quais que estava no mestrado de História da UEFS.
Depois a gente ainda se viu mais vezes no shopping – sempre uma deixa, uma coisa recíproca que um não consegue dissimular para o outro. Sou tímida, não sou de ir lá e tomar a iniciativa. Quem me vir cantando alguém, pode apostar que é brincadeira ou que a pessoa não me interessa. Costumo atacar os que são mais tímidos que eu, só para perturbar... Mas, devo dizer que o meu primo sabe do flerte e não gosta nem um pouco – foram colegas em outras disciplinas, se é que não entraram no mesmo semestre, porque nunca examinei o caso a fundo.
E aí, do nada, sonho com o rapaz. Sonho bom, passado aqui perto de casa e, depois, a gente vinha para minha casa que era nossa casa, a julgar pela intimidade dele por aqui.Intimidade boa comigo, na valsa bem executada da coreografia do sexo...
Incrível como o sonho pode realizar os desejos, como o imaginário sacia todas as fomes – e se falo fome é porque acho que ele é gostoso. Porém, ainda bem que comigo realizar o desejo não mata o desejo, apenas alivia a fome.

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