Louquética

Incontinência verbal

sábado, 3 de novembro de 2012

Aos pedaços

Vi na televisão que existe um Museu do Coração Partido, acho que na Croácia, porque não peguei a reportagem do começo, deixei a televisão ligada e acho até que se tratava de uma reprise do Globo Repórter, a julgar pela hora.
Não fosse o óbvio, a saber: as cartas de amor, os ursinhos e presentinhos e vários objetos com uma história; me chamou a atenção, em princípio um anão feito de gesso, grande, até. E a História? O anão foi arremessado contra o carro do par amoroso de alguém, acho que a moça arremessou no carro do sujeito que a desprezou. Bom, daí que o Museu do Coração Partido tem muitas histórias de violência, violência justificada pela indignação.
Aí vem o machado: para a sorte dos mais fracos, não foi usado para matar ninguém. É que o par, tendo terminado, combinou com a outra pessoa para que ela viesse retirar a mobília que lhe pertencera. E o machado? Bem, o machado foi usado para destruir a mobília.Quando a pessoa chegou para buscar os móveis, já estavam compactados.
Dá para se relevar: móveis partidos em pedaços não são nada perto de um coração partido. Amor desfeito é sempre violento. Seja a violência simbólica, das pragas que rogamos para quem nos deixou, para que pague caro, quebre a cara, se arrependa, chore o que perdeu (ora, achamos que ficar sem nós em uma perda...); seja a violência física de meter a mão na cara, sem a menor civilidade; ou declinar do ato físico e, como está lá no Museu, depredar um bem material de outrem.
A propósito, lá estava um retrovisor. A moça destruiu o retrovisor quando viu o carro do ex estacionado em frente à casa daquela que a substituiu. Lembro sempre de Minha Super Ex-namorada e me pergunto por que somos assim, vingativos. Mulheres sim, são vingativas. Eu já sou vingativa por natureza, imagine no plano afetivo?
Mas não acho que quem deixou de gostar de mim mereça porrada. Acho que a gente tem que ser comunicada sem muita lengalenga. Quem aguenta ouvir os clássicos, “não é com você, o problema é comigo!”; “você vai encontrar alguém melhor do que eu, alguém que te mereça!” e o mais clássico dentre os clássicos: “Não estou preparado para nada sério!”. Glória a Deus e aleluia, tem um par de anos que não escuto isso. Entretanto, escutei uma coisa assustadora: Desde que aquele meu ex que gostava de apanhar começou a dar pinta de que se descobriu gay, terminei e mantive relativamente a amizade.
Recentemente, lá vem ele: escancarou uma proposta clara de casamento comigo e para mim, a pretexto de que é mais fácil para ele pegar homem quando se diz casado. Segundo ele, atrair homem alegando que “somos um casal”, é infalível.
De acordo com ele, gays são muito desinteressantes, desmunhecam, dão pintam, são caricatos, escandalosos e parecem mulher. E ele não gosta de mulher. Logo, o pior que pode aparecer é um gay com trejeito feminino, que lhe arranca fora o desejo sexual.
Penso: Jesus, o que fiz para merecer isso? Gay, antes do tarde do que mais tarde, ponham já os armários blindados na liquidação! mas me propor um casamento para poder pegar gente foi, sem dúvidas a coisa mais inescrupulosa que me aconteceu. Bom, se bem que ele disse que gosta do mesmo tipo de homem que eu gosto e fez de tudo para conhecer meu atual... – Ah, é, olha que boba que eu sou: ele ficou com nosso vizinho em comum, do tempo que morei na mesma cidade que ele. Nosso vizinho advogado, branquinho, fofo, para quem ele insinuava mais que amizade... até que tantos anos depois, o vizinho concretizou os sonhos do meu ex e nunca mais lhe olhou na cara! É, até caberia uma vingança, mas eu não me importei não. Acho que a mentira me atinge muito mais, saber que o cara mentiu, escondeu...
Bem, mas certo estava Caetano Veloso: “um amor assim violento/quando torna-se mágoa/ É o avesso de um sentimento,/Oceano sem água.” Oceano sem água é seco, vazio, é o deserto...
Quem cola coração partido só outro Amor, não é Ivan Lins? “O amor junta os pedaços/quando um coração se quebra/mesmo que seja de aço/mesmo que seja de pedra.../Fica tão cicatrizado, que ninguém diz que é colado”. Amor bom é sempre iluminado. Eu acredito em todo amor, nos que só duram uma noite, nos de carnaval, nos que nos dão nomes falsos, nos que não ligam no outro dia... Nem ligo, com tanto que me faça feliz, felicidade instantânea e volátil é sempre felicidade.

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