Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Vampiros na tela

Se bem me lembro, semana passada teria sido o aniversário do Bram Stocker, escritor base de toda saga vampiresca de que se tem notícia até hoje. Coincidentemente (ou nem tanto) os Telecines estavam exibindo Crepúsculos e infinitas Luas Novas, porque não gravo muito bem os nomes de filmes de vampiros contemporâneos – chatos, ranzinzas e chifrudos... Bem, vampiro com chifres vira unicórnio?
Não falo mal dos livros da saga, tampouco dos filmes em si. No fundo, acho o máximo que haja uma horda de adolescentes – alguns extemporâneos, porque hoje em dia a gente é adolescente até um pouco depois dos quarenta anos tipo o Supla ou a Xuxa – que ainda procure fantasia. Especialmente num país como o Brasil, de poucos leitores e em que a leitura é mesmo capital cultural, haja vista que leitura e classe social, por aqui, estão atreladas. Isso não garante, claro, proteção contra a futilidade dos ricos ou garante que não sejam eles maus leitores, mas a pobreza é agravante da falta de leitura – há quem afirme a ordem oposta: a falta de leitura agrava a pobreza. Bom, não entro nesta querela. Entro na querela de sempre: há uma parcela de gente ávida por realidade, pela verdade parcial dos documentários e a verdade inconsistente dos reality-shows (Ih, não sei fazer este plural. Não seriam Realities? Bah!); e outro povo sonhador-adorador de novelas e suas justiças duvidosas.
Em contrapartida, “nossos sonhos são os mesmo há muito tempo/mas não há mais muito tempo para sonhar”, como cantaram os Engenheiros do Hawaii. Mas o povo também tem sede de sonho. Apenas já não se pode admitir isso.
As meninas que deliram pelo vampiro pálido, sonham com um para si, com um homem que as amem, com amor, com carinho... Só não dá para admitir, porque admitir a necessidade de amor é admitir uma fraqueza inadmissível para os dias de hoje. Acho que há uma geração viajando numa fantasia de amor e de aventura. E quem não quer final feliz?
Nessa coisa de vampiros, pela primeira vez na vida assisti a Um drink no inferno. Vampiros com Quentin Tarantino pelo meio significam que violência e vingança estarão em pauta. Está aí, já discuti isso antes: os dois Vês de Tarantino (de vingança e de violência) são para matar a fome do povo, por isso tendem a ser hiperbólicos.
Por indicação do meu namorado, comecei a ver o filme: violência na cara! A violência do desajustado interpretado pelo próprio Tarantino, que procura pretextos para matar suas vítimas, ouve vozes que o impelem à violência; e não tem piedade de ninguém, vai ocupando mais da metade do filme, na fuga enlouquecida da personagem de Tarantino (Richard Gecko) e do irmão dele (Seth), interpretado por George Clooney, para chegar ao México.
Até aí, tudo bem realista. E nada mais realista do que gente desajustada nos Estados Unidos, a abrir fogo contra qualquer um, preferencialmente, em escolas. Neste caso, a culpa é da realidade, por andar imitando a ficção.
Daí em diante, além da trilha sonora maravilhosa, o filme começa a parecer um delírio de drogados, com cobras, seres humanos monstruosos, mais violência e profusão de vampiros.
O resto são as metáforas sociais dos que não têm fé, dos que são pastores, das dúvidas humanas, enfim...
Gostei do filme. Do gênero de vampiros, para mim, nenhum supera Entrevista com o vampiro. Ah, sim, gosto de vampiros – só não gosto de uns vampiros de qualidade duvidosa. Os de Anne Rice são ótimos. Vampiros em ritmo de ação e aventura besta, eu não gosto não. Nem dos vampiros meio molengas, vegetarianos. Talvez seja antiquado o meu conceito, mas acho que já não se fazem mais vampiros como antigamente.

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