Louquética

Incontinência verbal

sábado, 13 de julho de 2013

Das coisas mais bobas que afligem a alma




Estou com uma bruta angústia: é que ontem ele me falou que tudo indicava que eu o amava. Tudo bem que quem ama é o último a saber, mas meu problema não era esse, mas, sim, a conjectura toda dele, os elementos que o fizeram se sentir amado. Como dizer na cara de uma pessoa que julga que é amada que a verdade não é bem essa?
Lógico que estou vidrada na relação da gente porque faz eras que eu não tinha um ficante ou namorado com quem eu pudesse conversar. Homens não falam. Ele fala. E para reforçar, até as coisas extra-convencionais que eu gosto, ele gosta também, embora eu não soubesse disso até ontem.
Claro que nos últimos dez anos não houve um só homem em minha vida que ficasse comigo ali no sofá, só ouvindo Smiths, The Cure, Radiohead, Beatles e Capital Inicial, e compartilhando coisas, segredos, opiniões... Ou no silêncio gostoso do abraço cúmplice. Creio que isso é recíproco. Ele também me disse que sabia que uns e outros iriam tentar jogar o joio da inveja sobre ele, para pulverizar o que a gente tinha juntos, porque...nem preciso dizer por que.
Tenho um imenso medo. Já declarei que detesto eternidade, coisas infinitas, coisas para sempre, tanto quanto odeio superficialidades e efemeridades da moda. Pois é! E me dá um bruta aperto no coração, uma angústia, porque eu não decidi nada, eu não ofereci terra firme e embora o pacto declarado é de que como ficantes nós ficamos com quem a gente bem quiser, desde que mantido o respeito e a lealdade, ele afirmou que sabia que eu não ficaria com mais ninguém porque no momento estou bem com ele.
Aí, hoje estou aqui, em casa.
Fiquei com medo de sair e ir exatamente para o lugar que eu sei que Rodrigo vai e se há algo para o que não estou preparada é para um confronto deste tipo, é para tornar pública a relação. Já pensou? Dar de cara com Rodrigo, estando em outra companhia?
Gosto da sinceridade dele a tal ponto que confessei minhas mentiras e lavamos os poucos pratos sujos em favor da clareza. Isso eu nunca tive com homem algum, reconhecidamente.
Só sei dizer que sinto angústia, uma tristeza que se justifica também porque começar algumas coisas é terminar outras. Talvez esteja doendo ver sepultado o corpo do antigo relacionamento – mesmo quando estava em estado terminal, a gente ressuscita, a gente não desliga os aparelhos, a gente nem se desliga...
Tenho, hoje, muitos motivos objetivos para estar feliz, mas não estou (eu, que sou feliz com pouco, que nunca fiz grandes exigências a Deus). Entendo muito dolorosamente o que disse Saint-Exupéry: “Tu te tornas responsável pelo que cativas”. Acho que é muito peso essa responsabilidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário