Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Nas teias da tese



“Ai da curiosidade fatal, prossegue Nietzsche, que em determinado momento pudesse espiar por uma fenda além da salinha da consciência (criadora das ficções) e, penetrando no íntimo, chegasse a pressentir que o homem repousa, na indiferença da sua ignorância, montado por assim dizer no dorso de um tigre, por sobre um fundo impiedoso, ávido, insaciável, assassino.”
É Anatol Rosenfeld, em Texto/Contexto I, quem retoma Nietzsche para discutir o disfarce e a máscara, transitando da Filosofia à Psicanálise, do Teatro à Literatura e, finalmente, resvalando na discussão do real e do ficcional.
Quando eu falo em tessitura eu não tenho em vista textos, mas teias. É assim que construo a minha tese, num labor que parece coisa de aranha, porque enovela daqui, lança teia dali e liga uma coisa à outra em fios finos, mas resistentes. E dá um trabalho...
Então vejo o Anatol Rosenfeld, brilhante, poderoso intelectualmente e constato que eu tenho que “suar’ os meus neurônios para fazer jus ao uso do nome dele em minha tese, às referências dele e, principalmente, para não repeti-lo apenas.
Coisa de aranha, entrelaçar o texto literário ao texto teórico e me lançar entre eles, porque senão não há tese, não há ideia, não há nada de diferente de uma constatação vazia. Por isso é difícil escrever, apesar de em tantos momentos as coisas serem mais fluentes e a escrita correr como água de cachoeira – de vez em quando, me afogo.
De alguma maneira e apesar de todas as máscaras, apareço naquilo que escrevo.

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