
“Ai da curiosidade fatal, prossegue Nietzsche, que em determinado momento pudesse espiar por uma fenda além da salinha da consciência (criadora das ficções) e, penetrando no íntimo, chegasse a pressentir que o homem repousa, na indiferença da sua ignorância, montado por assim dizer no dorso de um tigre, por sobre um fundo impiedoso, ávido, insaciável, assassino.”
É Anatol Rosenfeld, em Texto/Contexto I, quem retoma Nietzsche para discutir o disfarce e a máscara, transitando da Filosofia à Psicanálise, do Teatro à Literatura e, finalmente, resvalando na discussão do real e do ficcional.
Quando eu falo em tessitura eu não tenho em vista textos, mas teias. É assim que construo a minha tese, num labor que parece coisa de aranha, porque enovela daqui, lança teia dali e liga uma coisa à outra em fios finos, mas resistentes. E dá um trabalho...
Então vejo o Anatol Rosenfeld, brilhante, poderoso intelectualmente e constato que eu tenho que “suar’ os meus neurônios para fazer jus ao uso do nome dele em minha tese, às referências dele e, principalmente, para não repeti-lo apenas.
Coisa de aranha, entrelaçar o texto literário ao texto teórico e me lançar entre eles, porque senão não há tese, não há ideia, não há nada de diferente de uma constatação vazia. Por isso é difícil escrever, apesar de em tantos momentos as coisas serem mais fluentes e a escrita correr como água de cachoeira – de vez em quando, me afogo.
De alguma maneira e apesar de todas as máscaras, apareço naquilo que escrevo.
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