Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Outras temporadas num Inferno


Ainda bem que eu estou ocupada.
Ainda bem que não me sobra tempo para observar que eu não enxergo um palmo à frente do meu próprio nariz, especialmente no plano sentimental.
É sempre assim. Desde a infância tem sido assim: tenho dificuldade em perceber que amo, que estou apaixonada, salvo quando o circo já pegou fogo e as coisas se tornam indisfarçáveis até para mim mesma.
Um dia eu cheguei chorosa à analista, com um queixume qualquer que não vou falar, mas aí complementei, dizendo que estava caindo fora da situação porque certamente eu me apaixonaria por quem muito já se ouviu falar neste blog através de uma letra (inicial do nome dele).
A analista me disse, então, que a paixão era inevitável, que quando a gente está pensando em não ceder, ela já se instalou e a gente não viu.
Burra, quadrúpede e “jeguerina” que eu sou, não entendi que eu não tinha autoridade sobre nada ali e que o que eu temi já tinha acontecido.
Ignorando os fatos, viajei para Campinas, para me revigorar e escrever outros capítulos. Eu não sabia que estava em fuga. Vivi o que eu pude, intensamente, desmedidamente, até que no quarto dia me baixou a vigilância do meu superego e eu peguei meu avião de volta apesar dos apelos em contrário. Peguei a mala e o orgulho, a prudência e a racionalidade e voltei para casa – uma das maiores idiotices que eu já fiz nesta minha existenciazinha. Mas na volta ele estava aqui, me esperando, e tudo incendiou... Ainda assim, só soube o que eram aqueles sentimentos quando tudo tinha acabado. É preciso que a pessoa esteja ausente, é preciso uma falta para que eu perceba o vazio. Bom, tem muita gente que é assim.
Agora sinto falta de quem me fez feliz e está longe. Ele só volta em 2013. Assim mesmo, muitas águas rolam e ele não deve voltar a morar aqui.
Que dificuldade eu tenho em entender o que ele me diz, apesar de a gente se entender tanto!
Neuroticamente passo em frente à casa que era dele: a casa no caminho da minha outra casa, há tanto tempo... E sempre Carol querendo separar a gente, e sempre a minha pouca paciência com o assédio das outras e a minha sempre eterna permanente burrice para entender qual é a proposta dele ou se há proposta.
Não me adiantou ler os livros que li; não me adiantou essa prudência besta e a reserva para me auto-preservar: eu não sei nada! Eu nunca sei reconhecer que amo alguém senão quando acaba e para este tipo de burrice, acredito que não haja remédio. Fico entre a negação e a ignorância e isto deve deixá-lo indignado. Poderia dizer a mim mesma, como disse Rimbaud na Canção da Torre mais Alta

Que venha, que venha
A hora da paixão.

Tenho tido paciência,
Nunca esquecerei.
Temores e dores
Para os céus se foram.
E uma sede insana
Tolda as minhas veias.

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