Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Negócios profissionais


No sábado à noite fui conhecer a Boate Zen, em Salvador, apesar de ter concurso às sete e vinte da madrugada do domingo e trabalho às três da tarde.
A Zen, além de o lugar ser ótimo para dançar, ser bem decorado e realmente bonito,é aconhegante. A Mil Milhas, que estava tocando naquela noite, não se limitou ao It´s a mistake que eu citei no outro post. Eles são bastante minuciosos no repertório, nos acordes, nos arranjos. Impressionante o lado técnico, o profissionalismo e articulação e harmonia dos integrantes, até mesmo com as músicas de autoria da banda, relativamente conhecidas.
Nunca fiz isso: sair da festa às três e dormir até às seis para enfrentar responsabilidades.
Quando o despertador tocou, tentando me acordar com a música dançante que eu escolhi, comecei a sonhar com a festa, com a pista de dança e só me dei conta de que deveria acordar uns dez minutos depois.
Fiquei brincando, dizendo que eu teria quatro horas para dormir durante o concurso – mentira pura, porque eu antevia meus esforços para tudo sair bem.
Se eu dormir mal e tiver algo a fazer, já era: meu sono determina meu estado de atenção. O que houve foi que ao escrever eu passei a repetir sílabas, do tipo: ao invés de escrever CORRERAM, escrevo CORRERRERAM. Mas, dei sorte com o assunto da prova e com umas coisas engraçadas que não vou contar, referentes ao período da prova e ao imediatamente posterior.
Após a prova, difícil foi me manter acordada o suficiente para ir ao compromisso de trabalho, lá em *******, isto é, é como atravessar a Orla toda de Salvador no sentido Itapoã.
Uma coisa é a gente representar uma empresa e realizar um trabalho sem o contato direto com a Pessoa Jurídica. Outra coisa é olhar nos olhos deste povo. Francamente, com sono e com tudo, decidi cair fora da atividade! Cito apenas que certos representantes do Direito Educacional devem beber coisas absurdas antes de falar conosco – ou é coisa de falha de formação e de caráter. Dentre os muitos absurdos que eu ouvi, ficou claro que a empresa levava uma concepção de times de professores de primeira linha e times de segunda e de terceira, correspondentes a privilégios específicos e salários compatíveis com a faixa sob a qual ele estivesse na avaliação dos bambambãs da chefia.
E a medida? A popularidade do professor e sua resiliência quando o bicho pegar.
Não bastasse isso, pareceu haver a consideração de que professor topa tudo por dinheiro. E por qualquer dinheiro. Deste modo, os acordos de despesas, hospedagens, horários e condições gerais do trabalho foram astutamente conformados a uma lógica taylorista que não daria tempo explicar aqui.
Mais interessante ainda foi a afirmação de que “uma empresa não escolhe seus clientes. Cliente é cliente, indiscriminadamente”.
Meu Deus do Céu: aí é o cúmulo da ignorância prática ( desconsiderando, pois , a hipocrisia), já não está no âmbito da leitura, da formação acadêmica meramente, porque bastava argumentar o que Nestor García Canclini nos apresenta em Consumidores e cidadãos para que se visse que os produtos escolhem seu público.
Mas nem precisa ir longe: os hábitos fisiocráticos de dizer que o mercado está nervoso, tenso, pessimista, já mostra a reação da Economia aos influxos cambiais, aos rumos políticos, às análises de risco e aos indicadores complexos e variáveis que formam a vida da economia de um país. Mas, então, pela vida prática, aquela nossa vidinha do dia-a-dia mesmo, já nos mostra a distribuição dos pisos de um shopping: no primeiro piso estão as lojas mais baratas e populares, para uma faixa de público; o segundo piso é intermediário e no terceiro é que ficam as alamedas de grifes, os restaurantes mais caros e os produtos vão se distribuindo como à espera de públicos correspondentes às faixas de ganho específicas.
Também as propagandas de alto luxo que são vinculadas em canais de TV por assinatura não passam em canais de TV aberta: nunca vi propaganda de perfume importado em TVs abertas, por exemplo.
Cada vez que a gente se preocupa com a etiqueta, com a grife, com a marca, a gente está fazendo o reconhecimento de que os produtos escolhem seus donos e que os serviços e empresas escolhem os seus clientes: certas marcas são reconhecidamente do mercado de luxo – pense aí na Ferrari, na D & G, na Diesel, na Loccitane e em como o atendimento em hospitais de luxo e em escritórios de advocacia de primeiro time determinam o sucesso na saúde e o ganho de causas na área jurídica.
Mas eu não disse nada: ouvi o discurso nazi-fascista com minha cara sonolenta e apática e cheguei à conclusão de que não trabalharia mais para eles. A pior coisa que há é você se aliar a projetos profissionais com gente que não entende da profissão nem de coisa nenhuma que não sejam dígitos, estatísticas, rankings e fama.
E quem disse que eu não gosto de dinheiro? E quem disse que eu não preciso de dinheiro? E quem disse que eu sou daquelas pessoas hipócritas que acham que grana não contribui para a felicidade humana? Mas aí entram, é claro, as coisas que eu não coloco à venda e às minhas exigências profissionais.
Sei que pela lógica, o mercado de trabalho é quem acolhe e escolhe os profissionais. Claro, todo mundo quer trabalhar, quer uma ocupação. Mas nós temos escolhas também e eu não estou em promoção.

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