Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Conclusões fora dos objetivos


Foi resmungando e a contragosto que eu peguei a estrada em direção àquela terra de gnomos e de disco voadores, na Chapada Diamantina.
Não há mais diamantes na Chapada Diamantina, mas os gnomos ainda vão existir conforme haja gente disposta a fumar os maiores morrões fumegantes de maciça maconha e não faltem mentes delirantes em busca álcool e de histórias para contar.
Coloquei o mau humor na valise e dei no pé, antevendo todos os transtornos que cercam pegar a famosa empresa Real Expresso, em seus lindíssimos ônibus a que eu justaponho a máxima popular: “por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento”. E lá fui eu, com um motorista kamikaze cheio de ímpetos de Fórmula 1.
De cara, conheci uma pessoa legal, uma moça que dividiu comigo impressões e sentimentos que, aliás, tínhamos em comum, o que facilitou a amizade instantânea.
Viajei já desesperada para voltar, com medo de constituir vínculos com o local, com medo de ter que voltar de novo, mas fui.
Antes de sair do ônibus, uma outra moça me deu uma encarada que me fez pensar: “Deve estar atrás de algum parente”; “Deve ter me confundido com alguém”; “puta que o pariu, meu mau humor deve estar saltando aos olhos do público”. E quando finalmente saí, ela me disse que me atendia num salão a que eu ia sempre, que lembrava que eu tinha medo de fazer a unha e que somente com ela eu fazia sem me preocupar com nada. Era Anne, um pouco diferente devido às mudanças no cabelo.
Um pouco depois, fui para o hotel, mas voltei em seguida para encontrar Anne no Mercadão de Lençóis. Lá, conheci mais gente e de repente tínhamos uma turma.
Como costuma acontecer quando a gente chega a conclusões que não constavam dos nossos objetivos, tudo acabou sendo melhor do que eu esperava.
Com um sono de duas noites anteriores não dormidas realmente e com uns problemas devorando minha mente, consegui abstrair – coisa rara em minha vida porque sou do tipo de pessoa que remói problemas. Pessoas que, como eu, guardam mágoas, remoem problemas, lembram de coisas, retomam situações, cercam questões, analisam, chegam à mesma conclusão anterior, mas deixam a mente trabalhando a angústia por todos os ângulos, até o dia em que finalmente processam as coisas. E eu estava assim.
Andamos para cima e para baixo, numa noite de sábado cheia de gente na rua. Gente de todo tipo: de turistas a tontos desnorteados locais e alguns avulsos inclassificáveis. O interessante era que fervilhava o ambiente, apesar da tranqüilidade e do silêncio do hotel em que eu estava ali perto – um contra-senso, porque se eu ficasse no hotel nem desconfiaria do burburinho festivo a poucos metros dali.
Passamos num forró brega, perto do hotel em que eu estava: matamos a curiosidade, pois o forró brega fazia jus ao nome e só tinha músicas mega-bregas e um público compatível com o nível (ou ausência de) das músicas. Tempo de permanência: três minutos.
Tenho um incrível fogo no espírito e quando indaguei das boates, discotecas e afins, me falaram do Inferninho. Perturbei a turma e lá fomos nós. Eu adorei, mas a turma queria comer e beber. Tempo de permanência: 15 minutos.
Elas beberam, eu comi: sanduíche com gosto de lagartixa grávida e suco de laranja com sabor de desgosto de pai e mãe. Fiquei irada porque só fiz sujar a minha boca com uma gororoba daquelas! McDoidos, deveria ser o nome do bar. Caímos fora logo depois.
Fizemos festa onde não havia festa, de forma intrusa, metemos o pendrive no som do bar da praça, improvisamos coisas e de repente eis uma Micareta pop ou o começo de uma rave... Apareceram uns italianos dos quais um era bem parecido com o Charlie Sheen. Dançaram conosco por lá... Eles e quem mais veio do outro lado da ponte, onde estávamos.

De repente era uma da manhã e eu estava ficando sonolenta e cansada.
Pensei que àquela hora o Inferno estava pegando fogo e, portanto, era para lá que eu queria ir.
Anne propôs que eu fosse com uma das meninas que também estavam a fim. Fui! O que eu deixei de dizer é o quanto eu me senti esquisita por estar de short, camiseta e sandália numa noite de sábado.
Todo mundo lá usava a mesma coisa, variando no tênis ou na sapatilha, mas com aquelas pedras, ladeiras e obstáculos naturais, não há salto nem luxo que caibam.
O Inferno estava quente e eu comecei a dançar, sem a menor pretensão de coisa nenhuma. Depois chegaram os italianos, de novo, felizes de vodka.
Quando eu estava distraída, dançando um zouk, alguém me arrastou para as profundezas do Inferninho e eu não ofereci resistência: dancei conforme a música e permiti que me conduzissem. Foi ótimo! Foi tudo ótimo!Dançamos todas as indecências possíveis que o inferno poderia permitir e o meu acompanhante/condutor beijava muito bem.
As meninas se preocuparam ao me procurar e não me encontrar. Deduzi isso, mas não dava para ver ninguém direito naquele escuro todo.
Elas voltaram para o outro lado da ponte, para a festa que a gente havia começado: nada de Mara em lugar algum.
Finalmente me encontraram num cantinho da pista de dança superior: sermão moral pelo meu desaparecimento e louvores por eu ter deixado a timidez de lado.
Concluí que o Inferno é muito divertido. E que interessante foi encontrar um ser humano inteligente, ótimo de amassos, compassivo e cavalheiro bem no meio do Inferno. Mas, como eu tinha compromissos mil no dia seguinte, voltei pouco depois das duas da manhã para a hospedaria.
O domingo foi igualmente louco, de modo que com o calor que sobreveio à tarde eu fiz bem às pressas o que eu tinha que fazer ali, isto é, meus objetivos, cumprir meus objetivos... E dei de cara com um gato tão gato que aí foi que a temperatura subiu.
À noite, uma turma chata encontrou a minha turma e se enturmou: blábláblá de médicos, Dr. House genérico e conversas de Biomedicina. Em meio a isso tudo, parte do clube dos chatos se chateou e mudou de assunto com a gente que estava no oposto da mesa: recuperamos a diversão e fomos nos conhecendo mais de perto... bem de perto!
Logo era hora de ir embora e eu achei por bem ir ao hotel, pegar a valise e subir a pé, porque assim passaria lá para me despedir dos que iriam ficar. Fui convidada a ficar, com programação VIP e tudo mais, mas aí não fiquei. Eu nunca fico. Eu sou metódica. Não sei por que eu nunca fico...
Decerto, voltei com bem mais bagagem do que levei, pois a gente sempre se perde para comprar coisas para si e para os amigos, além das encomendas que, neste caso, era de dois litros de aguardente Abaíra. Ao subir minha ladeirinha da rua do hotel, para ir embora, uma viatura de Polícia Militar mui gentilmente me ofereceu carona.
Hospitalidade pura de uma Polícia Militar bem diferente dos padrões baianos e brasileiros: educadíssimos, prestativos, gentis e respeitosos... De modo que ao passar pela praça, de viatura, choveram telefonemas preocupados com meu bem-estar, justamente porque quando Polícia e cidadão se encontram, geralmente, é sinônimo de problemas.
Sei é que deu tudo certo, que valeu a pena ter ido, que foi uma curta temporada para vivência intensas, diferentes

Nenhum comentário:

Postar um comentário