Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Enquanto o tempo passa...


Talvez o passar dos anos não traga exatamente experiência, mas a pretensão de saber o bastante por conta do longo tempo de vida que permitiu o cometimento de erros. Mas, sim, tenho uns amigos que insistem em ignorar o passar dos anos.
Não falo da ilusão das maquiagens, nem dos cremes ou dos exercícios: eu também pratico este placebo. Um dia a minha Certidão de Nascimento vai estar colada por durex, por fita adesiva, refletindo justamente o passar dos anos para o papel e para a minha vida. Tudo passa, o tempo passa para todo mundo, para as coisas, para as pessoas, para os sonhos e para as mágoas. Acho o tempo uma coisa linda e devastadora.
Um dia eu tive sete anos e vivi os meus sete anos.
Durante um tempo, vivi os sete anos sonhando em ter quatorze. E aos quatorze, queria ter dezoito. No fundo, me faltava a percepção de que eu queria mesmo era ter liberdade, mandar em mim, ir e vir. O resto foi um monte de angústia e algumas alegrias, porém eu não queria ser mais nova. Quero, sim, aparentar menos idade, estar bem...
Tenho lá as minhas loucuras e infantilidades, mas certos amigos meus, realmente, excedem o limite do suportável. Acho que os homens, principalmente, relutam em crescer.
De vez em quando eu falo aqui da minha experiência com a Psicanálise, o que faço em algumas sessões e o que descubro. Hoje vou falar algo que eu já falei há anos, mas o recado é para duas pessoas que ainda não sacaram isso.
Ouvi da minha analista – ela, excelente e renomada profissional, sem contar a vivência pessoal propriamente dita – um dia me explicou duas coisas fundamentais sobre os homens: a primeira é que não existe homem sem mulher.
Para me dizer isso ela mostrou que os homens não vivem sem as mulheres desde sempre: são dependentes de figuras maternas, de irmãs, de conselheiras, de tutoras e curadoras informais.
Quando na fase adulta eles se dizem solteiros, mas não são: não existe homem sozinho. Todo homem tem vínculo sexual com uma ex, com uma colega de trabalho, com uma prima, com qualquer pessoa do sexo feminino ( se eles forem heterossexuais porque é deles que falo aqui).
Pode ocorrer o milagre de estarem sós, num sentido de transição, coisa de um dia ou dois, mero acaso, coisa de mudança de cidade ou de país, circunstâncias bem atípicas, espaço de tempo entre um evento isolado e outro.
Ah, isso resvala para o desdobramento mais doloroso que também minha analista me mostrou: não existe homem fiel. Todos têm alguém por debaixo do pano, mesmo que também seja coisa isolada e esporádica. Por outro lado, ela advertiu, quanto às raríssimas exceções, que as mulheres devem temer os fiéis, pois escondem neuroses tenebrosas, esquisitices e obsessões terríveis.
Tenho uns amigos fiéis. Na verdade, eles se resumem a dois. Imagino os segredos terríveis, as obsessões, o insuportável... Mas imagino o valor do raro tesouro que é contar com a fidelidade de um homem. Como será estar com um homem que não oferece o risco de cair nos primeiros braços ( e pernas, ou entre elas) com que se deparar e lhe parecer instigante?Penso histericamente em como seria isso, mas ao pensar isso eu declaro a todas as minhas amigas que aposto que todas elas são traídas. Penso mesmo. Elas, qualquer uma de nós, todas nós, eu.
A segunda coisa é que homem demora a decidir porque só decide em situação extrema, o que pode levar de um a cinco anos.
Então, eles levam dois ou três relacionamentos paralelos e as moças sentem que estão sendo enroladas. Certamente estão, mas não é só isso: é necessidade da segurança.
Homem aplica a teoria do macaco: não larga de um galho até que se esteja firme e devidamente agarrado a outro.
Eles têm um casamento e arranjam filhos em outras relações e ficam lá e cá, sem estar totalmente aqui ou lá.
A outra teoria subentendida aí: os homens acham que certas mulheres são difíceis de manter, especialmente as que são bem-sucedidas, inteligentes, bonitas ou reúnem qualidades demais. Daí que sempre se penduram em opostas ou em outras que lhes pareçam mais fáceis de levar. Pessoalmente, não sei não. Talvez tudo seja um conluio machista, mas já vi de tudo, de casos e casos.
Cobrar uma decisão a um homem é pior do que castrá-lo. Isso faz com que geralmente sejam as mulheres a tomar a decisão e quase sempre a decisão é largá-lo, pois senão eles ficam mesmo nos galhos, de galho em galho, até que a gente não queira mais um quebra-galho.
Bom, essas teorias não são totalizantes, mas a vida real só me mostrou exemplos que as corroboram.
Poxa, lembrei que eu conheço dois caras fiéis, da minha família – dois primos mega-próximos, quase irmãos, lá de São Paulo... Sim, eles têm neuras terríveis, delírios de ciúmes, paranóias, maluquices absurdas com as namoradas deles. Olha, que coisa!
Bom, não quero ser sábia em nada, nem ter a ignorância especializada dos que são melhores em tudo, parafraseando parcialmente o Millôr Fernandes. Contudo, acho que não tem jeito, que não dá para ser infantil ou cometer criancices extemporaneamente e que cada ano de vida deve somar alguma coisa à gente, que não seja necessariamente rugas ou cabelos brancos.
Engraçado: as pessoas querem adotar posturas infantis, mas desprezam o melhor que a infância lhes trouxe, tipo a inocência, por exemplo...

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