Louquética

Incontinência verbal

domingo, 29 de abril de 2012

O estágio em outra vida

Já afirmei que de vez em quando eu fico tão ocupada que nem dá tempo para sofrer. E é verdade! Tenho, também, predisposição para gostar de workaholics, para gente que é tão ocupada que nem tem tempo para amar viver. Andei bastante ocupada mesmo. Andei em círculos, de novo, porque até pareço um homem na hora de tomar decisões: enrolo, enrolo, me confundo, digo e desdigo e, por fim, volto a postergar a decisão até que alguém decida por mim porque, pelo menos assim, eu não tenho a sensação de perda. Decidir é perder, porque pressupõe escolher apenas uma coisa, uma opção dentre aquelas. É o tipo de coisa que me deixa em angústia plena. Minha objetividade quanto ao que eu realmente quero é eficiente. Entretanto, instauradas as dúvidas ou levadas a avaliação de certas alternativas, pessoas, lugares, atitudes, coisas fora do espectro da minha opinião formada, ah,entro em crise. Se a vida fosse somente "Ou isto ou aquilo", ainda assim seria duro fazer uma escolha. Porém, um escolha tem consequências, afeta tudo, muda muitas coisas... e tantas vezes a conveniência é convidativa!!! Essa minha mania de "opinião" formada não quer dizer que também não mude mediante novas considerações ou novos contextos, mas justamente por isso, de vez em quando eu tento quebrar os meus blocos de gelo interior e me abrir a novas coisas. Bom, andei me abrindo - nem pensem mal...ah, pensem também! sou humana, me abri e me joguei. Resolvi ouvir os maus conselhos de minhas amigas, porque, afinal, são elas que me aturam nas crises. E assim foi que topei ficar um pouco na vida dele, o Outro Lá. Ficamos juntos, comendo, amando, rezando,dormindo, acordando, maldizendo, opinando, reclamando, interrogando, assistindo, duvidando, gostando, enjoando, experimentando...enfim, um estágio matrimonial de poucos dias, mas de ampla intensidade. Tem um grande contexto que leva uma coisa a outra, das quais ocupações e preocupações em comum que jogaram a gente na mesma direção. Os problemas, principalmente os problemas, foram os laços desta experiência. Eu queria descobrir porque encaro tudo com angústia. Desde que amei mesmo alguém, nunca achei que conviver contribuiria para outra coisa senão para o desgaste da relação e para uma sensação de sufocamento. Acho que sou uma mulher daquelas que um dia serão tratadas com Lachesis!Eu que creio na homeopatia que, aliás, nunca falhou comigo. Ainda me pergunto o que faz com que duas pessoas possam resolver morar juntas, casar, ou sei lá o quê, porque independentemente de nomenclaturas, estar juntos é barra pesada. Em tempos de namoro, você briga com o par e volta para a sua casa. Sai, toma atitudes e drinks, reflete, dá um tempo, contempla a liberdade e a privacidade e depois volta ao relacionamento, se convier voltar... Os casados, se brigam, trocam insultos pelos corredores, disputam controle remotos, dão indiretas, comem juntos sem trocar palavras e dormem juntos - com greve de sexo - ou no sofá. Aprendi nesses poucos dias de convívio forçado, o que significa a tal da tolerância: significa, na verdade, "não devo exterminar o que odeio no outro" ou, então, "não devo matar o outro". O lado psicossomático já pipocou em mim, numa eterna ânsia de vômito, um enjôo, um sei lá o que... Amparo, estabilidade emocional, "a sorte de um amor tranquilo"...ou sou muito cética ou preciso aprender a tomar álcool para acreditar nessas coisas. É preciso sonhar. Para qualquer relacionamento dar certo, é preciso sonhar, é preciso tolerância para ouvir e dizer as mentiras educadas que tanto encantam. Deixei a escrita da tese num canto, adiante as coisas do trabalho e apertei o off da minha vida nesses dias, para acompanhar o Outro Lá na vida dele. Não consegui ver as intersecções entre as nossas vidas, porque não as criei. Pelo menos eu descobri isso: há somente o que a gente cria, não tem nada gratuito, previamente dado...talvez isso seja o melhor do termo "construtivo". Ele, uns dias em minha casa; eu, uns dias na casa dele, como nunca antes...Oremos à Nossa Senhora da Paciência! Ainda acho matrimônio/infortúnio um par provável. Ainda continuo achando que nunca conseguirei me amarrar num casamento e nunca vou conseguir convencer qualquer homem que esteja comigo a não insistir em me tornar mãe. É sempre a mesma coisa: Alguém, Outro, C., O Mesmo, seja qual for o sujeito das minhas orações,o ponto crítico é essa mania que eles têm de achar que porque se é Mulher se deve ser Mãe. Não dá. Não quero e nunca quis.Problema meu. Não é problema, é solução: não quero. Ponto rígido da opinião formada. Irredutível, inegociável, determinado, absoluta e radicalmente inegociável. Putz, mas eu sou mesmo um saco!

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