Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Tire isso da cabeça!


Você já deve ter ouvido por aí que chifre é igual a consórcio: uma hora você será contemplado. Eis algo tão certo quanto a morte: o chifre.
Chifre pode se referir exatamente a um par de chifres, pois o conceito numérico não altera a condição. Tanto faz um chifre, dois chifres ou mais, ele sempre terá uma dimensão plural.
Quem não levou chifre, ainda vai levar; muitos morrem sem saber, mas, acreditem: não se passa pela existência sem se levar chifres, exceto se a pessoa for assexuada e nunca namorou, casou, se enrolou o seja lá que modalidade de relacionamento duradouro ou instantâneo que se teve (ou não).
O chifre tem uma dimensão abstrata: você não precisa ver para saber que ele está lá. Por conta de ingenuidades nesse aspecto é que o corno é o último a saber, pois geralmente ele ignora os sinais, as pistas e as advertências.
Originalmente, chifre é coisa de homem (na cultura popular diz-se que chifre é coisa de boi e que o homem usa por mera ousadia), mas tanto faz o gênero – seja mulher, homem, bissexual, tetrassexual, transexual, homossexual, indecisos e imprecisos, todo mundo um dia leva chifres e se torna, igualmente, corno.
Chifre é coisa democrática, atinge todas as classes, credos, gêneros, etnias, orientação partidária, nacionalidade, nível cultural, nível de educação, todo mundo é atingido igualmente.
Para uns, o problema com o chifre não é traição em si, mas o fato de todo mundo estar sabendo e comentando. Vê-se, portanto, que é possível ser corno e ser feliz. O que incomoda são os comentários, mas se estiver bom, vá ficando.
Pessoalmente, acho que chifre é coisa que exige devolutiva: se você levou, devolva. Mas devolva direito. Sou a favor da vingança, mas não sou sanguinária: nada de matar o outro, de bater nas pessoas, de destruir bens ou de ameaçar - salvo, é claro, se você já tem previamente um bom advogado de defesa.
Se você já levou chifre e tem consciência disso, paciência: certamente esta não será a última vez em que você foi contemplado. Mas, seja justo: dado que hipoteticamente Ana namora Márcio e este, por sua vez, andou pulando a cerca com Rita, o quebra-pau deve ser entre Ana e Márcio. A terceira pessoa envolvida no chifre não tem culpa de nada porque ninguém é forçado a trair ninguém. Logo, se o namoro é entre Ana e Márcio, somente ele deve satisfações a Ana.
Traição dói e desatina, turva o dia de qualquer pessoa, joga a auto-estima do traído lá embaixo, faz com que se indague o que é que a outra pessoa tem que eu não tenho, faz perder o sono e magoa em proporções assustadoras. Estes são somente os efeitos colaterais que se abatem sobre aqueles que sabem dos chifres. Mas o sintoma mesmo se pega é no dia a dia...
Na verdade, eu brinco, mas a humanidade não é predisposta à monogamia e à fidelidade. Estes são acordos que se faz na lei da reciprocidade: procuro não trair porque me coloco no lugar do outro e tenho medo que esta pessoa faça a mim o mesmo que fiz a ela.
Momentos outros há em que a paixão é tão grande que uma só pessoa nos basta ( geralmente isso dura pouco). Não adiantam outras pessoas mais bonitas, mais interessantes, mais inteligentes, pois, de fato, o que se deseja é aquela pessoa a quem amamos. O resto é criação cultural, porque nem sempre o chifre denota desamor ou desapego pela pessoa com que se tem um relacionamento. Porém, tomando por base que o Amor exige renúncias, ser fiel é renunciar ao gostosão do seu vizinho ou à belíssima amiga do seu amigo... Cá para nós, uma tentação é sempre uma tentação!
Quem ama e trai deve procurar ser cuidadoso, primeiro porque é uma forma de proteger à outra pessoa; segundo porque é uma maneira de se proteger da vingança e da devolutiva do chifre.
Vamor aderir à Campanha da Fraternidade Louquética 2012, cujo lema é "Chifre: tire isso da sua cabeça!"

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