Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Atos falhos


Ela está feliz e eu estou feliz por ela.
Não que eu torcesse contra, mas eu achava que a realidade iria ditar outros planos e outros rumos que os encontros virtuais e telefônicos não proporcionam.
Eu disse que ninguém passa de Sandy a Lady Gaga da noite para o dia, mas se até Sandy agora é Devassa, minha amiga resolveu radicalizar.
Ela quer casar com a moça: eu espero ser madrinha e aprender a conviver com as novas escolhas da minha amiga, com as mudanças que ainda estão por vir, com as barras pesadas junto à família dela e, principalmente, com as minhas próprias resistências, porque já vi mulheres se beijando, mas pensar que a minha amiga é capaz de beijar outra mulher na boca, de fazer coisas em que eu nem quero pensar, poxa, me deixa na beira do regurgitamento.
A gente nem tem dimensão real sobre o próprio preconceito. Veja: quando Bruna chutou as portas do armário e foi viver matrimonialmente com a C., achei tudo normalíssimo, porque todos nós sabíamos que aquela era a praia dela, apenas ela não sabia que era do babado.
Mas minha amiga certinha, heterossexual, bem nascida e bem educada ir explorar o armário alheio porque achou aconchegante e convidativo, ah, isso me deixou passada. Não fosse esse meu estranhamento, ou leve mal-estar, atenuado por ela estar bem eu teria perdoado o meu ato falho – que, graças a Deus aconteceu bem distante dela, mas em volta à mente toda hora. Disso eu tenho vergonha. Juro,acho uma grosseria inconteste, mas veja o que aconteceu: eu estava no salão, dando uma massagem no cabelo. Então, olhei para um cantinho do teto e lá estavam duas aranhas.
Fui olhar de perto e imediatamente se misturaram em minha cabeça o encontro da minha amiga Sandy com a outra mulher, as aranhas e Raul Seixas cantando na minha cabeça, cantando o rock das aranhas: “Subi no muro do quintal e vi uma transa que não é normal/ E ninguém vai acreditar: eu vi “duas mulher” botando a aranha pra brigar/ Duas aranhas, duas aranhas...vem cá, mulher, deixa de manha, a minha cobra quer comer a sua aranha...”
Uma baita grosseria machista dessa me deixou com coceira mental. Eu não perdôo a minha grosseria, insensibilidade, machismo e outros adjetivos menos educados.
A porcaria do ato falho é justamente isso: um momento de vacilo, de distração do superego. Onde já se viu? Ah, grosseria sem par – misturei tudo!

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