Louquética

Incontinência verbal

sábado, 16 de abril de 2011

Diários de luta


Desdobrando o assunto do concurso, não reclamo: sorte é o que não me faltou e, por isso, a prova escrita, que era o terror dos terrores, porque eliminatória, acabou fugindo dos temas técnicos nos quais eu suponho não ter muito trânsito, nem dispor de recheio para tanta lingüiça (hum! aprecio! Kkk!). Mas a banca se atrasou deveras, eu havia dormido mal e tudo começou uma hora e meia após o prazo regular. Daí que duas horas depois do início, meu cérebro e meu estômago começaram a se desentender e para reforçar a confusão, o cansaço deu seu ar da graça. Fiz, portanto, minha dissertação sem o menor cuidado nas considerações finais.
Lá vamos nós, na terça-feira, sob tensão, conferir se voltamos para casa ou se seguimos no processo: passei. Eu e outros cinco seres humanos a se digladiar silenciosamente pela aprovação no concurso. Aleluia!
Muitos saíram amparados da sala neste momento crítico.
Sorte: ganhei o direito a ser a primeira a sortear minha própria ordem. Sorte de novo: número cinco.
Explico: nos editais atuais da UFBA você não tem mais aquelas 24 horas entre o sorteio do ponto da aula pública e a sua apresentação. Agora cada um sorteia duas horas antes de seu horário e pronto. Neste caso, meu horário caiu dez da manhã de quarta, com aulas ao meio-dia da mesma quarta-feira.
Novo atraso e...sorte: tirei um ponto que eu dominava e que dava possibilidade de amplo desenvolvimento. Valorizei minhas duas horas, especialmente porque minha amiga Ilmara se disponibilizou a ir me buscar, subir e descer e, de quebra, me emprestou o laptop que o concurso não dava para exibir os slides.
Surpresa: ao revisar o assunto, peguei de novo um livro e um texto da web, além de um texto do site de certa universidade. E qual a surpresa? Eram plágios do livro. Traduzindo: eu pensei ter lido versões diferentes para o mesmo assunto e, no calor das leituras, só ali constatei que eram plágios, tudo igualzinho ao livro. Temendo estar delirando, mostrei a Ilmara, que é uma pessoa normal, a fim de confirmar. Confirmado!
E assim cumpri o meu dever, que também reforçou meu cansaço e as noites muito mal dormidas no hotel, menos pelas instalações do que pela desobediência do meu corpo.
Quinta, meio-da, lá vou eu defender meu memorial naquelas quase duas horas completas que, supreendentemente, foram boas horas.
Eis a minha surpresa: eu nunca pensei que fosse gostar de defender meu memorial neste concurso, mas gostei sim.
Aí, como vinha ocorrendo após cada etapa, senti fome mas nenhuma vontade de comer.
Parei, esperei minha amiga Tati aparecer,sentei, conversei, divaguei e frente à atenção e à solicitude dela, resolvi esperar o resultado, que só sairia às 20 horas e que acabou saindo às 21 e tantas.
Fomos ao shopping matar o tempo, distrair e comer, porque ela consegue me forçar a me alimentar. Devo tanto a Tatiana!
Neste concurso, minhas coadjuvantes foram Ilmara e Tati, porque se a primeira me amparou emocionalmente, sendo a única cara familiar que eu vi no meu aniversário, se predispondo a me aguentar pisotear o meu nervosismo prévio na sala da casa dela, a segunda, então, viveu tudo como se fosse consigo mesma, me sacudiu, me deu umas duras, foi companheira, foi irmã...
Em Salvador, 20 horas: Toda hora a divulgação informava adiamentos, atrasos: mais quinze; mais trinta e mais quinze minutos.
Finalmente abriram a sala e começou a leitura chata e detalhista que confirmaram a favorita como favorita e eu em segundo lugar, deixando alguns outros favoritos atrás de mim e perdendo a primeira posição por cerca de oito décimos.
Para mim, guerra justa, batalha limpa de minha parte e minha felicidade, claro, pelos tantos nove e meio que levei em cada fase, com exceção da escrita. Além disso, a favorita é, segundo comentam, competente mesmo. Gosto de ter orgulho de disputar com os melhores.
Ocorre que platéia é coisa do demo: fica o povo meio que em pequenas interjeições, tipo quando no estádio de futebol a bola bate na trave e aquilo lá é uma ameaça de que o jogo vire...."ahhhhhhhhhhh!ohhhhhhhhhh!"
Na saída, os comentários do tipo: "ficaram focinho com focinho", como se se tratasse de briga de cachorro grande - muito engraçado.
Mais engraçado foi o energúmeno nojentinho estar lá, todo tempo o tempo todo...nem vou falar dele porque depois percebi que ele casou e que ainda se perturba quando me vê ( foi lá atrás de mim, no primeiro dia, procurando pretextos... e eu e minha cara de paisagem, toda desentendida. Depois, tanto no primeiro quando no último dia, forçando uma aproximação que a gente nem teve e que piorou agora).
Vem, então, minha onda de insensibilidade: como é que a gente finge que não está feliz com a própria vitória diante de alguém que, sendo cortês conosco, levou um tombo, tendo um resultado ruim? como é que se pode estar feliz respeitando a infelicidade alheia em situações em que se é concorrente? e como sustentar a hipocrisia, ocultando a própria satisfação?
É que eu fiquei feliz pelo meu próprio resultado, não foi por ignorar a decepção do outro ser humano, nem desejar o pior àquele ser humano.
Achei minha vitória legítima e escorreguei exibindo minha satisfação e surpresa com o resultado. Mas não foi maldade.
Aí, passando lá em Ilmara vi que ela fez por mim mais do que podia: escondeu que tinha uma cirurgia naquele dia, para não me desestabilizar. Que ser humano humano!pobrezinha da minha loira,toda encolhida em esparadrapos, sem muita mobilidade no braços direito, tomada de remédios e ainda vivaz para cacarejar meu resultado.
Gente fina minhas amigas.
Agradeço muito a Deus por todos que Ele pôs a seu serviço em meu auxílio. Realmente posso dizer que fui abençoada, agraciada por Deus.
Meu santo guerreiro sempre esteve comigo e dia 23 de abril, dia de São Jorge, tenho que lembrar dele ainda mais.
Agora é esperar, dentro destes dois anos de validade do concurso, o dia D. E vão levar tantos dias que eu nem sei se 365 ou se pouco mais de 600.
Tanta luta e "o concurso gera apenas a expectativa de contratação".
Lutei por uma expectativa.

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