Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Um amor de pessoa!


Há um tempo atrás discutíamos quem , dentre nós, teria a "sorte de um amor traquilo", algo tão improvável e para poucos,que geralmente só ocorre entre os casais gays - qualquer casal gay.
E hoje a namorada dela, num gesto lindíssimo, pediu minha ajuda para fazer uma surpresa para ela, coisa delicada que dependia mesmo das dicas de uma amiga de longa data. Assim, pensei em quanto tempo faz que a gente se conheceu e, sei lá, bem mais de 15 anos, mal havíamos saído da adolescência, cronologicamente falando.
Tatiana argumenta que "amor e dor", jamais. E se pintar sofrimento ela caí fora, porque amor não é para fazer sofrer, é para fazer feliz. Ela tem um raro amor heterossexual "tranquilo" e, de fato, ao longo da vida, jamais aceitou as complicações e os sofrimentos.
Nem sei como pode ser esse volteio de racionalidade que vê que se o outro está nos tratando mal, se faz de nosso sentimentos um artefato de chatagem emocional ou usa este sentimentos que nutrimos para nos ridicularizar, humilhar, manipular, então este outro é nosso inimigo, não alguém que devemos amar. Tati é assim, vê os relacionamentos assim. E está certa.
Meus amigos gays, homens e mulheres,de fato, vivem amores tranquilos e talvez por isso eu tenha aprendido a naturalizar as relações entre os iguais.
Sou grata a ela, que faz minha amiga feliz e se preocupa em trazer muitas outras alegrias. E admiros eles, que a seu modo fazem felizes os meus amigos, hoje já não tão próximos, mas nem por isso menos amados por mim...
Aprendo muito com eles e acho que eles entendem quando pego no pé dos estereotipados, porque não acho que minha amiga zapatista tenha que ser masculinizada e que meus amigos bibas tenham que ser fechativos, caricatos, desmunhekovsky.E pode ser que isso seja resquício dos meus preconceitos internalizados, mas sei que gosto de vê-los felizes e respeito profundamentea aqueles que chegaram para abalar portas de armário, seja para se trancarem junto com, seja para tirar quem lá estava: o importante é estar feliz.
Meu amigo Léo, que eu sempre tenho que frisar que dentre os meus amigos é um dos raros heterossexuais, também encontrou Jana e a sorte de um amor tranquilo, mui dignamente.
Eu nunca pensei que ele pudesse ser feliz no amor porque ele é (era) uma daquelas pessoas que não sabiam como ser feliz. Hoje ele está meio basbaque, perplexo sem acreditar que é possível ser feliz no amor - e como ele mudou para melhor!
No caso dos meus amigos homossexuais, estão aí vendo como é esse negócio de maternidade e de paternidade, pensando em constituir um lar, uma família - algo mais difícil para as meninas que sonharam em ser mães biologicamente falando e agora planejam a adoção, redirecionam os sonhos para o plano do possível. Capítulos dos romances reais, mais importantes do que o casamento de Catherine Middleton e do Príncipe William, com certeza.
Fico mesmo feliz por todos eles.
E, como Cazuza...

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós, na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente nem vive
Transformar o tédio em melodia...
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti-monotonia...
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio
O mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria...
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E algum veneno anti-monotonia...

(Cazuza, Todo amor que houver nessa vida)

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