Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 19 de abril de 2011

Imprevisões do tempo


É uma ilusão tão cansativa isso de querer remendar o tempo.
A gente vive até umas coisas extemporâneas, do tipo: comprar depois de adulto um brinquedo desejado na infância; cometer exageros e destemperos que não vivemos quando jovens; dizer uns bons desaforos a quem já não é nosso chefe ou acertar outras contas com as pessoas que no tempo devido ou exerciam poder sobre nós, ou não víamos o que elas nos causavam.
Mas me incomoda muito quando o remendo é nos relacionamentos. Caso comum, com aqueles homens que estiveram conosco, não nos valorizaram, não reconheceram nada de bom e convidativo em nós, mas aí, passados dois casamentos e algumas decepções, querem retroceder, pensando que erraram ao não eleger a gente como companheira.
O problema é que o tempo passa.
O tempo não desfigura somente as pessoas, trazendo rugas, cãs, barrigas acentuadas e levando embora cabelos e vitalidades - o aspecto fisico é negociável, tudo passa mesmo e podemos ser velhos e bem apresentáveis ou sermos velhos e charmosos, vide ao Magnífico Senhor de quem nunca esqueço o beijo frio ou o outro senhor que encantou Tatiana, naqueles seus quase setenta anos.
Olhe lá o Herson Capri: sessenta anos e além de sexagenário é sexy, inteligente e ativo. Já nãos e fazem mais velhinhos como antigamente.
O problema é envelhecer sem amadurecer e, também, esperar que o tempo não tenha passado para as pessoas deixadas para trás, como se o amor que sentíamos pudesse se congelar. Acho que o ex-Grande Amor da Minha Vida tem dessas coisas, acho que todos os meus ex...
Por um tempo minha fila andou em círculos, porque eu sempre voltava para quase todos eles...pouco tempo depois me davam umas agonias e eu caía fora...ou era o caso de eu perceber o remendo, que eu estava ali como band-aid, por ser boazinha nos critérios deles.
Quem foi muito amado por nós não tem boa aceitação com o fim dos nossos sentimentos por si. Claro, vicia.Ser amado vicia.
Agora, de minha parte, continuo sem saber o que fazer para que N.M. aceite, acredite e se toque de que eu não quero nada com ele. Nada!
Não quero criar feridas narcísicas nele, fico torcendo paar ele descolar uma outra namorada, já falei o mais claramente que posso, mas para esse aí, sim, a esperança é a última que morre - mesmo tendo sido a primeira que eu matei em relação a qualquer possibilidade de ficarmos juntos.
Acentuando isso está a má aceitação dos homens frente ao fato de gostarmos de alguns deles como amigo. É que tem isso, tem gente que é legal é bonitinho, é inteligente, mas não é para consumo afetivo-amoroso.
Cléo inventou de interferir a meu favor, assim pensou ela, e ligou para K.C., enchendo o menino de esperanças, dando meu telefone fixo, propondo coisas em meu nome. Agora tenho essa saia justa para dar conta!
Eu sou explícita: sou chata, meus amores não passam de três semanas, meus grandes amores, atualmente, não têm certificado de garantia nem cobertura para danos e avarias...resumindo: eu não gosto de ninguém.
Não gosto seriamente, sabe? respeito e desejo as pessoas do meu entorno (olha, pessoas aqui equivalem a homens, viu? para evitar dúvidas e mal entendidos), valorizo cada instante vivido juntos, curto, faço planos, me divirto, mas não sei se a porta dos meus sentimentos está fechada mesmo ou se nenhum deles tem a chave certa: sei que não gosto de ninguém - às vezes amo, mas com outras partes do meu corpo que não exatamente o coração - mas se tem algo que sei é quem eu não quero.
Procuro dizer isso da forma menos traumática possível, mas sou das pessoas que podem dizer "dessa água não beberei". Portanto, morro de sede, hirta e seca, mas não bebo de águas que eu não quero.
Morreria de solidão, mas não ficaria com quem eu não quero.
E não tenho talento algum para os remendos. Não digo que se Robson, Valério ou Omar aparecessem eu não tivesse a curiosidade de conversar e de ver a cada um deles, porque deixaram boas saudades, se tornaram outros amores, aliás, meus amigos são uns amores mesmo; e porque foram para longe demais, há anos, há mais de uma década num caso...
O resto é saber que o tempo não tem retrocesso, tudo muda... e eu não sei de onde esse povo tira a conclusão de que nossa vida não muda com o tempo, deixam de perceber qque o tempo amarelou os sentimentos, ruídos, puídos, rotos totalmente...não sei, não sei...mas sei o que eu não quero.
Talvez pelo meu celular ter o mesmo número de 11 anos atrás, e de eu morar na mesma casa de décadas atrás...talvez tudo isso dê a impressão de que o tempo possa não ter passado para mim, mas passou e eu já não posso chamar de meu amor a quem deixou de ser sentimentalmente significativo. Passou. Pretérito preterido.

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