Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Atrás do muro


Seria preciso derrubar a parede.
Todo dia eu penso nisso e penso no meu compromisso em derrubar a parede.
Uns preferem implodir, outros, os fracos como eu, tiram um tijolo por vez e, como um pedreiro negligente, abandonam a obra pela metade. Eu já abandonei 03 vezes.
Aí páro, retorno à minha zona de conforto, mas a parede volta a incomodar e ela tem que ser retirada, destruída.
Isso não é fácil para mim, que tão bem contruo a quarta parede - esta eu vou construir sempre, é meu muro, minha fortaleza, minha proteção.
Àquela primeira parede, eu já fiz planos, eu já dei passos, mas não consigo tirar a bendita da arquitetura interior - parede mais besta! até uma criança retiraria essa parede de lá.
Quem não bebe dos venenos da vida que me atire o primeiro tijolo!
Outros alicerces se abalaram: a gente parou de se falar - eu e aquela pessoa que eu tanto amo, pessoa amiga - ela também tem uma parede e não aguenta saber que eu sei que ela está sofrendo.
Ela não quer parecer negligente, burra...ela sabe que repete erros e os erros geram resultados repetidos, viciosamente.
Então calamos.
Ela não pode dizer nada porque sabe que eu não mereço ouvir.
Eu não posso dizer nada porque meu amor por ela é declarado, é claro, é conhecido e justo e para nós não há resposta nem pode haver diálogo.
Mas ela vai ler isso, provavelmente e saber que eu entendo e que não quero falar com ela.
Com relação às máscaras que caem, eu não me regozijo pelas dores que isso atrai, mas pelo quanto isso prova que esta preocupação em esconder as coisas de mim era descabida. Vocês conhecem os segredos das pessoas de bem?
As pessoas de bem fazem misérias quando ninguém está olhando - pense nos seus segredos, nos mais terríveis - você tem segredos.
Não necessariamente matamos ou roubamos, mas meus segredos, por exemplo, se relacionam à omissão.
E se você se queixar ou associar esta omissão ao fato de ter sido a última a saber, indiretamente também está certa: eu nunca contaria. Eu jamais contaria nada de ninguém para ninguém!Isso é um mito contra nós, os falastrões. Nenhuma pessoa de bem que você conhece terá seus segredos revelados por mim, eu não conto.
Ser amigo não é atirar verdades e revelações na cara de ninguém, honey: daquela vez eu fui embora quando as pistas começaram a aparecer, eu não quis participar, não quis ser comparsa. A gente oculta porque não é de nossa conta ou porque as coisas são tão sérias que podem resultar em crimes materialmente dados.
Um dia a gente resolve isso, mas advirto que a obra vai passar por muitas, muitas reformas.
"Há um muro de concreto
entre os nossos lábios.
Há um muro de Berlim
Dentro de mim."

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