Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um lugar para ele


A gente acabou se falando hoje: eu e o ex-Grande Amor da Minha Vida.
De alguma forma, ele ainda espera que eu o ame.
De alguma maneira, ao tempo em que eu fui um adereço para a vaidade dele, ser amado vicia, dá uma idéia de controle, de poder, de superioridade.
Por mais que eu tenha dito e demonstrado ao longo do tempo que o amor se foi, ele espera ainda ter importância para mim.
Então ele me disse que eu estava fria, mais fria do que a manhã chuvosa de hoje. E eu sei lá se desde setembro do ano passado por acaso eu fui calorosa, mas me deu uma vontade de dizer e de admitir que eu estou completamente absorvida por uma outra história, que em mim só há lugar para um Outro Nome, que eu estou muito envolvida, que finalmente eu gosto de outra pessoa...
Então eu desconversei, joguei a conversa em outra direção, não quis admitir nem para mim mesma que eu estou...ah, nem quero usar a palavra, não quis admitir que eu dormi pouco e acordei chamando o Outro Nome, não quis dar a entender que eu estou tão perturbada quanto ele porque somos ocupados e de vez em quando a gente não consegue se falar e que hoje foi um desses dias...
Quis dizer ao ex-Grande Amor da Minha Vida que o único homem que me interessa no momento talvez não perdoe os lapsos da minha ocupação e que interprete como negligência o fato de que eu não compareci ao que ele havia marcado comigo.
Pois é, eu também não havia visto quando o tal Grande Amor passou, demorou para perceber.
Para alguém que ocupou um lugar tão sublime no rol dos meus sentimentos e para alguém que foi plenamente ciente disso, recebendo de mim o tratamento correspondente ao lugar ocupado por ele em minha vida, realmente, dá um imensa diferença se comparado aos dias de hoje.
Se eu dissesse do Outro Nome, C., para quem quer especificidade, ele iria desmoronar, ficar triste, esquisito...e eu talvez nem me importe tanto com isso quanto me importo em não comunicar de minha vida a ele, por agora. Ainda não é natural para mim o que está contecendo.
São abalos sísmicos mesmo que me tiram o chão: assim defino o momento sentimental.
Olho com inveja os amores dos outros: poxa, amores tranquilos! Só eu não tenho, nunca tive um amor tranquilo - e eu aqui com medo de ser feliz e depois me machucar, com medo de pegar mais hematomas narcísicos e, ao mesmo tempo, sendo seduzida por aquelas mãos gostosas que tão suavemente tocam as minhas costas, pelo carinho e pelo cuidado dele por mim, pela voz dele, pelo calor aconchegante do corpo dele...eu não quero que os sentimentos cresçam, não quero perder o controle de mim.
Quando eu o chamava de Celebridade é porque ele é, de fato. E eu sofro muito com isso porque só agora eu entendo mais claramente o que é ser "uma pessoa importante". Não estou falando de dinheiro, não, nem das hierarquias sociais: estou falando do sentido amplo de ser uma pessoa importante, de ter o tempo sempre tomado pelas cobranças da fama e do lugar ocupados, por eu ter que ficar no cantinho esperando o telefonema acabar e vendo a cara dele e os gestos implorando para eu desculpar, para eu esperar, para eu não sair correndo do carro, para eu entender, para eu perdoar, ouvir depois ele dizendo e se explicando porque era impossível não atender .
Outro workaholic.
Eu, embora menos ciumenta, estourando com o assédio não só das outras, como das pessoas em geral...como se nunca pudéssemos estar a sós - e isso piorou nas três últimas semanas.
Ficamos à espera de um tempo que permita que a gente se encontre, de fato, como duas pessoas e só!
Como é que eu poderia falar disso com o ex-Grande Amor da Minha Vida, se ele se pensa Eterno? uma dama nunca deve pisar nos brios de um homem num momento desses - e olha que eu já fiz tantas vezes aquilo que não deve fazer a um homem!
Deixa eu sonhar e dizer de novo: "Eu quero a sorte de um amor tranquilo/com sabor de fruta mordida/nós na batida, no embalo da rede..."
Mas como ter tranquilidade se o meu coração se comporta como se houvesse levado um susto?

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