Louquética

Incontinência verbal

domingo, 17 de outubro de 2010

Máscaras que o Tempo leva


Eu sempre duvido das minhas dúvidas, dos meus olhos, das minhas desconfianças e das minhas conclusões. Acho que isso é um pouco por ter como amigos algumas pessoas que põem panos quentes em tudo: nada é como eu vejo, é sempre de uma outra forma. Geralmente eu acato, acredito e duvido de mim. Ponto final!
Mas o Tempo, ah, bichinho cruel é o Tempo: passa-se um dia, passa outro e as coisas ora se confirmam, ora se revelam. Nestes casos, melhor ver a máscara do outro cair a ver minha cara quebrar.
E foi assim, sem surpresas e sem espantos, sem a menor reação que eu presenciei as cartas na mesa: todas elas postas por "cartomante" credenciada, poderosa. E sem escamotear: cara a cara, às limpas, todo mundo junto, na crueza das revelações.
O que eu poderia fazer? dizer o que? eu sempre soube. O caso das coisas que todo mundo sabe é que alguém acredita mesmo que até haver testemunhas presenciais não há fatos concretos nem confirmação. De minha parte eu sinto é alívio. Acho que me sinto como aquelas pessoas que dizem que acreditam em discos voadores ou em duendes e, uma vez descredenciadas por afirmar absurdos, eis que de repente, olha aí um disco voador sobrevoando a sua cabeça?olha o duende na sua cozinha ou no seu jardim! Pois é, gente acima de qualquer suspeita quando é surpreendida é um terremoto de decepções.
Interessante que eu me assumo vingativa. Minha vingança não é gratuita: se você acha que há impunidade no mundo eu interpreto isso do modo como interpreto minha necessidade de vingança: não posso deixar impune quem me fere ou me atinge gratuitamente. Quando eu faço por onde, baixo minha cabeça e reconheço, me submeto à vingança ao outro. Mas os santos nossos de cada dia não assumem suas vinganças e são altamente vingativos: a conta-gotas vão destruindo o inimigo, independentemente da justiça de sua vingança. Estes jogam baixo, odeiam os outros gratuitamente, são sempre vítimas inocentes e sensíveis,envenenam em pequenas doses.
Com este contexto lembrei daquela pessoa a que, sendo minha inimiga declarada, por injustiça e escolha dela própria, não me furtei a ajudar num momento crítico.
Na pior das guerras há um cessar-fogo.
No mais baixo dos embates há códigos de guerra e para matar o inimigo você não pode recorrer a certas práticas, há instâncias judiciais específicas para julgar crimes de guerra.
Considerando que inimigo é inimigo, ativei o cessar fogo porque, fora das mediocridades que minam minha porção humana, também é um sentimento humano não se deixar corroer pelas baixezas em certas circunstâncias(neste sentido, eu nunca transferiria uma inimizada por alguém para os parentes dessa pessoa, nunca faria coisas para prejudicar a pessoa, mas concorreria apenas para que a ela fosse devolvido o mal que fora feito a mim).
Ajudei um inimigo, ajuda considerável, custosa para mim. A miserável da pessoa nunca agradeceu.
Certamente, nunca reconheceu que foi agraciada, beneficiada por mim - pelo peso do que fiz, declinando das mágoas para agir em favor dela, no mínimo seria caso de um agradecimento, até porque partiu de um inimigo (eu) a ajuda.
Suponho que se o oposto ocorresse, a pessoa lá me deixaria à mercê dos acontecimentos.
Daquelas coisas que a gente faz em favor dos outros ocultamente, tudo bem: a boa ação para ser boa ação precisa não ser ostensiva.
Fazer caridade, fazer o bem para aparecer bem na fita, para dar publicidade e mostrar aos outros aquela suposta superioridade de espírito é uma coisa bem deplorável, mas é bem fácil de se fazer.
Desses amigos e inimigos a quem ajudei por vários meios, não precisa reconhecimento. Da outra pessoa de quem falo, espero sim.
Como eu falava do Tempo, já parei de odiar os cabelos brancos que ele me traz, os neurônios que ele me leva, a degradação física que ele alimenta em nós, nos envelhecendo: fiz as pazes com o tempo. Não mais por todo dia dizer que quem anda me comendo é o tempo, não mais por esta intimidade que tenho com ele, mas porque realmente o Tempo é o senhor da Verdade. Agora que com o tempo a Verdade apareceu, obrigada, Tempo!
Tempo rei, oh, Tempo rei,
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai, pai, o que eu ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo, Socorrei!

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