Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Meu reino


Minha alegria é velha, é boba e é repetitiva: a alegria de chegar em casa!
Nestes meus três anos e alguns meses indo para Xique-Xique, graças a Deus, nunca houve nenhum momento em que eu precisasse dizer que era bom estar ali, que era melhor estar ali a estar em minha casa.
Há os que têm infernos domésticos, problemas variados e que só saem quando estão lá em Xique-Xique, só conversam e convivem com outras pessoas quando estão lá e, vez por outra, preferem estar lá a estarem em suas próprias casas, em suas cidades de residência. Eu, ainda bem, comemoro minha chegada como uma criança boba pode comemorar o brinquedo recebido. A isto, sim, dou muitas graças a Deus: Obrigada, Senhor, por eu estar em minha casa!
Obrigada, meu Deus, por cada feriado que me permitiu estar em casa!
Estou aqui, atolada em trabalhos e eles se multiplicam como coelhos: tenho uma disciplina no doutorado, mas dois professores dividem esta disciplina e para cada um, um trabalho diferente a fazer.
Aí tem os Congressos e eventos em que me inscrevo e para os quais tem que ter um resumo aqui, uma comunicação acolá...tem as leituras da própria pesquisa, tem as leituras que tenho que fazer para me atualizar na profissão...nem sei como eu vou conseguir sair amanhã à noite para dançar, mas vou sair, sim!
Minha alegria é boba no amor, também: é a felicidade que ele me dá em tão poucas palavras, na ansiedade da espera, na saudade gostosa e contida daquela criaturinha tão especial para mim, na forma reticente e meticulosa como ele fala, com medo de ser mal interpretado...
Andei pensando neste ano em que estamos: aprendi com Cléo que é bom fazer planos, é bom escrever uma lista com o que você pretende fazer num ano. Então vi que entrei na academia e continuei nela, vi o que pretendia e realizei e vi o que ainda me devo.
Vi, com um tremendo espanto, outra coisa: todas as vezes em que terminei um relacionamento de quaquer ordem, radicalizei, cortei o contato, não permiti retrocessos.
Vi que também amizades sadomasoquistas não me servem - melhor manter o contato zero, nem sempre é necessário verbalizar o fim da amizade, afinal meus amigos e ex-amigos não são burros...
Vi que valeu a pena falar da tristeza dele diante do desleixo "dela": ela está arrumada, preocupada com o peso,usando batom, usando roupas adequadas e não pijamas ridículos e camisas-de-força compradas na feira.
De algumas relações rompidas eu tenho saudade, mas não valeriam o retrocesso.
De outras coisas, novas surpresas: consegui falar sobre um segredão cabeludíssimo meu com 03 amigos diferentes - isso é sinal de que eu estou quebrando as barreiras morais que eu interiorizei, que eu estou me relacionando bem comigo mesma, que eu aceito os meus atos e as minhas escolhas...nem imaginem o que foi o segredão: é coisa cabeludíssima que polui o pensamento de qualquer um, proibido para menores de 76 anos, nada fora de lei...bem pior que isso (rss!!!).
Minha alegria é boba como a parte final de O apanhador nos campos de centeio, de Salinger, que li por causa do meu amigo Joaquim há mais de dez anos!
Mas o estar em casa me lembra um ditado conhecido e também repetitivo que bem define o que penso do meu lar: "Se não podes ter um castelo, enfeita a tua tenda"! adoro minha tenda, gente! não tem aconchego melhor!
Eu morava em outra casa, na minha infância, quando ouvia esta música abaixo transcrita, um samba, por sinal, mas sabe que eu entendo intimamente esta letra?

Moro onde não mora ninguém
Onde não passa ninguém
Onde não vive ninguém
É lá onde moro
E eu me sinto bem
Moro onde moro ....

Não tem bloco na rua
Não tem carnaval
Mas não saio de lá
Meu passarinho me canta a mais linda
Cantiga que há
Coisa linda vem do lado de lá
Coisa linda vem do lado de lá
Moro onde moro ... (eu também moro...)

Uma casinha branca
No alto da serra
Um coqueiro do lado
Um cachorro magro amarrado
Um fogão de lenha, todo enfumaçado
É lá onde moro
Aonde não passa ninguém
É lá que eu vivo sem guerra
É lá que eu me sinto bem

(Agepê - Moro Onde Não Mora Ninguem)

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