Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Diários de São Paulo


Passei a quarta-feira em São Paulo, ao lado desta "bela, linda, criatura" de quem todo dia eu me pergunto como foi possível ser amiga, já que ele é tão bonito, inteligente, compreensivo, fofo, fiel e heterossexual? aí deu que Léo e eu somos amigos há uma década, mais ou menos, e não tem jeito: é só amizade, embora eu inveje as sortudas que o tiveram por namorado. Meu amigo é um pão!
Ele cursa mestrado em Filosofia na UFBA, mas está em São Paulo fazendo uma disciplina na USP - disciplinado, todo dia ele vai até à USP e estuda horas a fio na Biblioteca. Não obstante ser inteligente, ele alimenta a inteligência constantemente.
Então fomos ao final da Aevenida Paulista, comer um bauru caríssimo, de um bar tradicionalíssimo, este aí da foto. Acho que ele sabe que eu detestei. Foi a primeira vez na vida, também, que eu vi dois sanduíches com sucos custarem R$ 56,00 - a peso de "euro", hein?
Ele me viu aflita, ao chegar na estação do metrô, com os telefonemas da minha família.
Explico: era para eu estar com a família, no Arujá.
Liguei para que minha tia viesse me encontrar em São Paulo para a gente comprar umas coisas. A resposta foi meu primo e todo mundo lá, ao telefone, me mandando a maior repressão por eu estar sozinha em São Paulo e uma série de terrorismos.
Eu já disse: amor tem dessas coisas de distância. Há pessoas a quem se deve amar à distância para que a gente não se magoe.
A Liga Católica da minha família - sim, eles encarnam a Liga Católica e fazem parte realmente da Liga Católica - é vigilante, moralista e sempre procura brechas para questionar minha vida sexual, minha conduta e minhas saídas.
Estando lá, só saio com os primos juntos, em bandos.
Parece família muçulmana: mulheres não saem sozinhas, nunca. E mesmo os meus primos só podem sair com rígidos esquemas de acompanhamento.
Ouvi lá uns termos repressivos pelo telefone, mas fiz de conta que a bateria descarregou. Naquele momento decidi: não vou lá!
Puxei meu amigo pelo braço e fui com ele onde ele nunca tinha ido.
Exercitamos nosso voyeurismo no MASP: ficamos cara a cara com uns quadros de Picasso, de Renoir, de Van Gogh, coisas que eu nunca achei que fosse ver na vida real de tanto pintor famoso, com algumas esculturas fantásticas e com exposições interessantes que de fato me tocaram, como a de Wim Wenders, chamada Lugares, estranhos e quietos, que tem uma fotografia tirada na Armênia, de uma roda gigante abandonada. Você olha a foto e aquilo chega dói.
Eu digo que cada um tem uma experiência com o lugar em que chega e minhas experiências foram todas outras desta vez.
Talvez um pouco de familiaridade com algumas paisagens porque a minha desenvoltura pela Sé, pela Rua São Bento e pela São João me surpreenderam, eu sabia muito bem onde ficava cada coisa, cada lugar e isso fez com que eu aproveitasse bem mais o meu tempo.
Também tem aquelas coisas idiotas que não me deslumbram e que eu nem faço questão, como ir à Estação da Luz e lugares afins como o Museu da Língua Portuguesa, com seus espetáculos técnicos e discursos previsíveis.
Quem disse que é fácil comprar guarda-chuva em São Paulo? essa incongruência mercadológica é inexplicável!
Haja vista que fazia 31 graus quando eu cheguei mas, uma hora depois já eram 18 graus e a garoa desceu e frente ao fato de que as chuvas-surpresas não são tão surpreendentes assim, nada mais natural do que haver fartura de ofertas de guardas-chuvas.
Nada feito!
Orei e roguei a Nossa Senhora Protetora do Cabelo Afro,para intervir a meu favor. Mesmo assim circulei pelas ruas arriscando a integridade do meu cabelo - como não cessou cedo a chuva, forjei uma burca com meu agasalho e segui em frente.
Gostei de estar com Léo e finalmente perdi o medo e o preoconceito e fui à 25 de março: não é o Feiraguai que eu esperava, não. Tem coisas boas, lojas estruturadas e preços incríveis, aleluia!
De resto, agradeço mais uma vez a Deus por me dar a possibilidade de contemplar tantos homens bonitos e ainda ter estado ao lado de um. Louvado seja Deus!

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