Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Aquelas ondas


Depois que eu digo que de certas águas eu não beberei, não bebo mesmo. E nisso não vai o orgulho, mas a certeza da decisão.
Nas águas da incerteza do presente ele me diz o mais óbvio dos clichês: "O futuro a Deus pertence". E desde quando eu não sei disso? E desde quando saber disso me faz ficar paralisada, conforme eu já disse, "deixando tudo como está para ver como vai ficar?". Não tenho paciência, não sou passiva, não sei esperar!
Vem a outra armadilha: ele me diz, carinhosamente, que o conselho dele é uma ordem. Entendo, perfeitamente o entorno das coisas, mas nem de brincadeira eu gosto que mandem em mim. Tenho dificuldade com a pertença, penso, interiormente em Renato Russo cantando: "Tire suas mãos de mim,/que eu não pertenço a você..."
Penso com raiva sobre Lacan, para quem "O melhor destino de uma mulher é ser a mulher de um homem", que, claro, acerta em cheio minha neurose histérica.
Tive uma noite confusa. Confusa e boa, porque sonhei com quem eu não poderia sonhar, nem deveria, mas o superego relaxou e eu quase nem acordo para demorar mais ao lado dos meus desejos. E os meus desejos, admitidamente, vão longe.
O idiota de um dos meus ex, aquele que virou gay - Sempre foi, certamente... É que prendia os instintos na jaula das aparências - me mandou um torpedo na madrugada, veja, duas da manhã ( e graças a Deus que eu deixo o celular no modo silencioso), avisando que a namorada dele estava utilizando a conta de MSN dele, o que nas entrelinhas equivale a dizer: "Não fale nada que me comprometa, nem cite o nome do meu namorado, porque eu tenho outra namorada de fachada agora"... vida dupla é para quem pode, amigo!
Não sei como alguém pode declinar assim da privacidade: está difícil, beirando o impossível, que eu dê senhas e contas de qualquer coisa para que meu namorado deite e role.
A confiança opera por outros símbolos e não dá para vigiar ninguém por completo, é lógico. Amor de segurança máxima é uma ilusão insustentável na vida real.
Mas a minha conta dos afetos já foi por demais rastreada por outros meios: as redes sociais, os contatos, os amigos em comum, todos os rastros tomados por C. para construir sua base de confiança, sua segurança...como se não lhe bastasse que eu gosto dele. Gosto dele e acho que ele soube disso antes mesmo de que eu própria soubesse, já que fujo, não encaro, tenho medo da prisão, dos atames...
E não quero escravizar os olhos dele, impedindo que ele olhe a moça bonita ou que imagine o que quer que seja; assim como eu olho o homem bonito e tenho sonhos absurdamente prazerosos com quem eu conheço ou com quem nunca me deu bom dia. A lição que a Psicanálise nos dá, de cara, é que os desejos não cabem num relacionamento. Todo mundo sabe disso. O que a gente faz é ser consequente, é preservar quem a gente se importa, é ter cuidado para não ferir o outro e se ao efetuar o cálculo moral valer a pena renunciar ao desejo, prefiro à frustração... é, já tivemos esta conversa, eu e ele...
Bem, mas a minha vida anda em maremoto e me faz apostar nas mais diversas ondas, perdendo ou não atinando a direção do vento: é que preciso chegar à terra.

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