Louquética

Incontinência verbal

domingo, 11 de setembro de 2011

Outros domingos


Sucker love is heaven sent
You pucker up, our passion's spent
My heart's a tart, your body's rent
My body's broken, yours is bent
Carve your name into my arm
Instead of stressed, I lie here charmed
Cause there's nothing else to do,
Every me and every you.
Sucker love, a box I choose
No other box I choose to use
Another love I would abuse,
No circumstances could excuse
In the shape of things to come
Too much poison come undone
Cause there's nothing else to do,
Every me and every you.
Every me and every you,
Every me...he
Sucker love is known to swing
Prone to cling and waste these things
Pucker up for heavens sake
There's never been so much at stake
I serve my head up on a plate
It's only comfort, calling late
Cause there's nothing else to do,
Every me and every you.
Every me and every you,
Every me...
Like the naked leads the blind
I know I'm selfish, I'm unkind
Sucker love I always find,
Someone to bruise and leave behind
All alone in space and time
There's nothing here but what here's mine
Something borrowed, something blue
Every me and every you.
Every me and every you,
Every me...
(Every You Every Me - Placebo)

Eu ouvia esta música só para sofrer, porque deve ser que eu vejo graça em sofrer em inglês. Mas, esta auto-ironia acontece porque de vez em quando, principalmente nas tardes de domingo, me bate uma nostalgia de outros domingos.
Então ou fico me lembrando dos mais recentes domingos - relativamente recentes, porque neste ano eu sou cem por cento quietinha, cem por cento responsabilidade e vivo para o doutorado - aqueles domingos do arrependimento e do suco do arrependimento, porque eu precisava tomar muito suco de cenoura para voltar ao meu estado normal, sem aqueles "pins" que dão no ouvido, sem aquele cricrilar de grilos que fica no ouvido até à segunda-feira de manhã, por conta de quem vai para festa se esgoelar junto com a banda,cantando e dançando até criar bolhas nos pés.
Mas neste tempo aí, de ouvir esta música só para sofrer, eu namorava o cara mais grosso do mundo. E ele namorava o mundo. Então eu ia para o Rio Vermelho, com ou sem a minha amiga e comparsa J.R., ficar nas festas, paparicar os caras das bandas que a gente conhecia e se sentir o máximo quando os vocalistas diziam que estavam tocando para nós esta ou aquela música - sempre tinha Blur, com a Song 2 neste meio.
Aí, a gente saía das festas 04 ou 05 da manhã e ficava besta, olhando o mar e discutindo porque a gente era tão idiota, a ponto de amar gente idiota que não dava a mínima para a gente; e sempre concluíamos que nós éramos idiotas, conjuntamente idiotas e, como tais,tudo se auto-explicava.
Nesse mesmo tempo em que eu ficava ouvido Every you, every me, estava tudo errado com a minha vida e eu não tinha a menor noção de que alguma coisa poderia mudar, desde que eu mudasse alguma coisa.
Elegi trilhas sonoras para as minhas dores e como andávamos no mesmo ambiente, minha trilha era a mesma trilha da minha amiga que, por fim, trilhou caminhos diferentes dos meus, se rendeu ao destino social das mulheres e hoje é bem mais infeliz do que éramos naquela época.
Naquela época, também, confundíamos a angústia com a infelicidade - não éramos infelizes, na verdade. A gente era normal, com angústias, aflições, medos e falta de iniciativa, algo que pesa na alma como uma leve sombra da morte.
Conhecemos mais gente angustiada e tivemos relacionamentos angustiados, mas bons.
E nada pior do que namorar gente que é igual à gente até nos defeitos. Todos eram namoros não assumidos que podiam ser resumidos à união de nossas angústias.
Alugamos um apartamento em frente ao farol da Barra, trabalhávamos em dois lugares, morávamos em duas cidades e foi depois disso que a gente começou a realmente viver.
A música do Placebo era algo que ouvíamos mais em casa, ou no caminho para casa, quando achávamos por bem voltar para Feira no domingo de tarde e passávamos olhando o caminho e os cenários da noite anterior já transformados pela simples aparição do dia.
Acho que a angústia tem mesmo uma trilha sonora. Quem fala em rock depressivo não está metaforizando. Prova disso é o que a gente sente ao ouvir os Smiths, o Morrissey cantando "There is a light that never goes out" - coisa apenas comparável a ouvir Karma Police, do Radiohead. E desta eu não gosto nem de lembrar porque é como arrancar as cascas das feridas.
Mas as dores-de-cotovelo, as dores de amor, estas são basicamente em português, claras e bregas como um tango argentino. E se minha memória se remexe tanto neste momento é porque também sei que estou me revirando por dentro, procurando fios que me tirem do labirinto, que não me permitam me perder, é porque estou escavando experiências anteriores para poder ter clareza sobre outras decisões, para não repetir receitas nem resultados. É minha vontade brigando feio com os meus medos, porque medo eu só tenho no plano dos sentimentos.
Não tenho medo de nada como tenho medo dos ferimentos, escoriações, machucados e efeitos colaterais das relações amorosas. Dou graças a Deus pelo amor ser líquido, pelos laços serem frágeis, por amar no domingo e esquecer na terça, porque amar é para os fortes. Olha, não é mentira: "Amar é um deserto e seus temores".
E como eu já sei como as histórias de amor acabam; e como eu também sei através do meu poeta, que diz "paixão, súbito rio sem margens", fico agarrada à borda da piscina, com medo de me afogar na profundidade. Dá para entender bem o que é estar num rio sem margens? não há para onde nadar, não há terra à vista, não há nada a não ser o lugar em que a gente está imerso.
Talvez tudo isso seja falta de cafeína, viu?

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