Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Feche a porta


Por maior que seja a fúria, não gosto de fazer barulhos para fechar a porta atrás de mim. Na minha vida pessoal não gosto de barulhos. E por gostar de usar sapatos de salto, também aprendi que não devo fazer barulho com os meus passos - olha, essas pequenas futilidades ensinam tanto à gente...
Há uma outra regra que diz que a medida do perfume, para que não se erre a dose, não deve descurar de que a fragrância não deve chegar antes de você ao ambiente, nem sair depois. Claro, se você acabou de tomar banho, nada disso se aplica, mas se pegarmos a futilidade como metáfora aí estará um outro grande ensinamento.
Antes de fechar a porta, tive que ir falar com um dos porteiros - que não é dono da casa, mas pensa que é - e me senti em frente a um remanescente do DOI-CODI, porque ele não queria apenas informações, ele queria notícias para movimentar as coisas, ele queria um roteiro de novela, ele queria um registro de ocorrência, ele queria um recorte de jornal da imprensa marrom. E foi tão interessante a pessoa se empenhando em me tirar uma informação, sem conseguir entender porque eu estava fechando a porta, até porque o porteiro é ele.
Não adiantou tortura, cercame, ameaça, coerção e coação: não falo mesmo!
E nessas minhas peregrinações, fui à outra sucursal do Inferno, hoje de manhã: desamarrei os meus caminhos e, de passagem, vi muitas pessoas do bem, aquelas que realmente significam muito para mim.
Também por um lance de acasos totalmente improváveis, vi meu grande amigo Chuck. E fiquei pensando, então, que o Inferno não estava cheio de boas intenções, não. Está aí algo que eu detesto, isso de as pessoas condenarem às outras que tiveram boas intenções e maus resultados.
Fazer tudo certo, todo mundo sabe, não dá garantias de que tudo vá dar certo. Olha, nem sempre CERTO+CERTO=CERTO. Essa conta exata, que gente boa e gente medíocre faz, não tem resultado garantido, mas variável. Entretanto, o erro dar certo é uma verdadeira situação atípica.
Então o Inferno está cheio de gente boa. Só que gente boa não faz o Inferno, participa lateralmente dele, ou colateralmente dele.
Quando vou às sucursais do Inferno, encontro, sim, gente boa, gente ética, gente trabalhadora: o caso é que quando estes bons vão parar lá, o Inferno já está feito, já é uma forte identidade coletiva. E o Inferno vai estar sempre que houver apenas UM, porque basta apenas Um demônio qualquer para que o Inferno se estabeleça.
Os que vão ao Inferno, vão porque precisam e não há outra alternativa mesmo - nem cogite quais são os meus Infernos, pense aí nos seus, porque todo mundo tem os seus.
Novo encontro marcado com o Capeta, a que não irei sem "as roupas e as armas de São Jorge". Também vou munida de outras armas que eu puder, mas tenho que ter a clareza de que não se sai ilesa de um encontro desses.
O meu amigo que foi para longe, para uma sucursal do Inferno que fica numa determinada fronteira, já começa a reclamar do Capeta, aquele lá, então, bem típico.
Disse o meu amigo que todos nós avisamos sobre o clima do Inferno, mas uma coisa é saber disso sob nossa teoria; outra coisa é queimar a carne na brasa e ver confirmado o pesadelo.
O Inferno é um lugar em que a gente deve chegar mudo e sair calado, pois por qualquer descuido você cai na caldeira.
Tem Infernos de todos os tipos, tamanhos e especificidades, mas os que eu cito são sempre de uma determinada classe, com poucas variações. Sempre fiz visitas ao Inferno, estágios, pequenas permanências, longas temporadas, em condições e posições variadas.
Pode ser que um novo Inferno esteja só começando para mim, mas não há novidades neles...conheço muitos, sei o que esperar...sei literalmente o que é uma temporada no Inferno.
E como falei em minha fúria, às vezes ela é assim, silenciosa, discreta, anônima.
Tati, foi informada por e-mail da minha visita ao Inferno e teceu um ou dois comentários elogiosos a respeito do que eu escrevi, de modo que eu respondi: "É que foi psicografado pelo ódio", a única linguagem que o Inferno entende bem.
Fechei aquela porta: é o que me interessa.

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