Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A independência e os filhos da Pátria


No Dia da Independência do Brasil eu estou a pensar é na minha própria independência, que sempre me custou caro.
Independência é um caso ambíguo: em se tratando desta Pátria que nos pariu, é pensar que se libertar da Metrópole foi só um gesto de formalidade política que o tempo não conseguiu concretizar em seu sentido amplo - é como trocar a casa dos pais pela casa dos avós, quando se é menor de idade, e seguir com a dívida das satisfações a prestar.
Aliás, que nação, hoje é Independente? construtos imaginários que se desgrudam da atenção ao Direito Internacional, às organizações e blocos econômicos e às tantas variáveis que nos deixam aqui, no camarote da periferia, brincando de gigante das Américas.
Minha independência pessoal sempre foi negociável e negociada, a custos altos, como eu falei. Quando a gente declina do subjugo dos pais, dos maridos, de qualquer dessas pessoas com as quais estabelecemos um certo laço de dependência - das quais, eu já disse, a pior é a dependência emocional -, nos vem o preço social a pagar, nos vem o preço do sustento da própria vida, material e simbolicamente falando, vem, claro, o preço da solidão em termos de não se ter a quem recorrer. E ainda assim, o preço exorbitante é compensado pela liberdade. É o clichê mais respeitável que eu conheço, esse que diz que "liberdade não tem preço".
A manutenção da independência é assim algo de sacrifício. E eu que disse "Independência ou morte!" anteontem, como paguei caro! mas nem foi pelo que perdi, mas pelo que eu deixei de ganhar, já que minha vida estava toda planejadinha, metodicamente planejada, criteriosamente planejada e agora nada mais pode ser conforme o planejado e já executado em seu começo.
Eu escolhi isso.
Eu escolhi o preço da Independência e da liberdade, sem o menor constrangimento de dizer que se era para continuar no Inferno, que fosse ao lado de quem eu gosto.
Diplomaticamente fiz os meus pactos, mas não sem questionar que se eu saísse do Inferno, talvez o Inferno não saísse de mim.
Como eu não tenho a menor pretensão de ser original e gosto de clichês, também há um clichê que diz que "O perigo de combater os lobos é vir a se tornar um deles". Estou em alerta!
Pensei em todos os preços e (que incrível!) me predispus a mudar tudo, a ir para bem longe e reiniciar meus processos e minhas escolhas, se preciso fosse. Não foi preciso.
Fiz, também, algumas apostas, novas apostas com um bilhete não pago ou metaforicamente pago com um cheque sem fundos, mas o importante é estar acordado no jogo. Conheço as cartadas e o perfil dos jogadores - tenho minhas cartas na manga, também.
Minha amiga voltou para cá e eu não entendi por que. Ela havia largado tudo e ido para Brasília, num infindável relatório de aventuras boas, do emprego, dos homens, dos programas... e mal respiramos 06 meses entre o ali e o agora, ela voltou, sem se anunciar.
Um dia abri o e-mail e lá estava: voltei. Apareça! e eu quase peguei um carro e saí voando até o Campo Grande só para entender o que era aquilo. Deve ser que o carnê de pagamento do preço da independência começou a ficar em atraso e dívida ficou insuportável. Gente fina minha amiga: só não lembro da última vez em que ela esteve sóbria numa festa...
Tenho amigas muito malucas - tudo a ver comigo, que sou louca mesmo e ainda me incomodo com gente arrogantemente sã. Nem penso no que há com ela agora: penso é que se eu for à Groove a gente se encontra e no domingo ela me liga para contar o que havia de especial com o cara mais bonito da festa, porque ela sempre fica com o cara mais bonito da festa - amiga poderosa!
Bonitinhos esses rótulos, não é? O cara mais bonito da festa; A Banda mais Bonita da Cidade; A melhor amiga; O homem da minha vida; O grande amor da minha vida;Os melhores anos; A mais linda declaração de amor...eu só tenho ressalvas com o tal do Melhor amigo e da melhor amiga...dói perceber que você não é o tal melhor amigo ou ouvir isso diretamente. Eis uma coisa que não se diz.
Ao dizer que alguém é o nosso melhor amigo a gente aponta uma hierarquia de consideração, de respeito e de afeto. É como dizer que a gente gosta mais de um do que de outro, que confia mais neste do que naquele, que um é mais importante que outro...coisa feia, não é?mas a gente acha que é bonito. Eu não acho. Acho porém que os meus amigos são os melhores, porque são meus amigos e com defeitos, brigas, discordâncias e críticas, somos amigos, sim.
E para fazer jus à imagem escolhida para referência a este Brasil e a todos os filhos da Pátria, ficaremos a pensar nos "filhos desta dama que você sabe como se chama"...ai, quem sabe um dia a Independência se fará...

Morar nesse país
É como ter uma mãe na zona
Você sabe que ela não presta
E ainda assim adora essa gatona
Não que eu tenha nada contra
Profissionais da cama,
Mas são os filhos dessa dama
Que você sabe como é que chama:
Filha da puta
É tudo filho da puta!
É uma coisa muito feia
E é o que mais tem por aqui
E sendo nós da Pátria filhos
Não tem nem como fugir
E eu não vi nenhum tostão
Da grana toda que ela arrecadou
Na certa foi parar na mão
De algum maldito gigolô
Filha da puta
É tudo filho da puta!
Vocês me desculpem o palavrão
Eu bem que tentei evitar
Mas não achei outra definição
Que pudesse explicar
Com tanta clareza
Aquilo tudo que agente sente
A terra é uma beleza
O que estraga é essa gente
Filha da puta!
(É tudo filha da puta - Ultraje a Rigor)

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