
"Os caçadores de mulheres podem facilmente ser divididos em duas categorias. Uns procuram em todas elas sua própria ideia de mulher, como lhes aparece em sonho, subjetiva e sempre a mesma. Outros são levados pelo desejo de tomar posse da infinita diversidade do mundo feminino objetivo.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão lírica: procuram a si próprios nas mulheres, procuram o seu ideal e são sempre e continuamente frustrados, porque, como sabemos, é impossível encontrar o que é ideal. Como a frustração que os leva de mulher em mulher dá à inconstância deles uma espécie de desculpa melodramática, muitas mulheres sentimentais acham comovente essa poligamia convicta.
A outra obsessão é uma obsessão épica, e as mulheres não vêem nisso nada de comovente: como o homem não projeta nelas um ideal subjetivo, tudo lhe interessa e nada pode decepcioná-lo. Essa incapacidade para a decepção tem qualquer coisa de escandaloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do épico não pode ser perdoada (porque não é resgatada pela decepção).
Como o sedutor lírico persegue o mesmo tipo de mulher, nem notamos que mudou de amantes; seus amigos estão sempre provocando mal-entendidos, pois não percebem a troca de companheiras e chamam todas pelo mesmo nome."
(KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser. Rio de Janeiro: Record, 1983, p. 202)
P.S.: Mais uma vez declarando que A insustentável leveza do ser é o livro da minha vida...
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