Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 12 de março de 2012

No meio do caminho


Meus amigos estão fazendo tatuagens tardias; outros deles estão formando bandas de rock; alguns, saindo do armário (e dane-se a mamãe!), uns tanto se divorciando... E eu não estou aqui para criticá-los. Antes tarde do que mais tarde ainda. O problema agora é comigo, que estou sendo forçada a fazer minhas reavaliações.
Ele, aquele que só volta a Feira de Santana em 2013, achou por bem colocar os pontos nos “is” – e em homenagem aos meus amigos da Lingüística, vou até estilizar: colocar os acentos gráficos nas semivogais – e, como infelizmente os homens inteligentes fazem observações inteligentes, veio questionar o futuro de nós dois. Não assim, como pareceria cabível, mas batendo forte contra o meu calcanhar de Aquiles, ou seja, minha decisão de não ser mãe.
Concluiu que eu acho que ser mãe é condenar alguém a viver, é jogar uma pessoa na vida e que, portanto, a vida para mim é um castigo.
Acertou em cheio, tanto quanto o meu amigo Chuck o fez, há um tempo.
Nunca escondi que acho a vida “dose para leão”. Acho a vida um fardo, um castigo... E tanto é assim que eu faço tudo para ser feliz, só para contrariar o óbvio.
Tenho medo da Eternidade, tenho medo de reencarnação, tenho medo de demorar a morrer, tenho pavor de qualquer coisa que me delongue no planeta. E se assim penso, não quero fazer isso com mais ninguém, não quero procriar.
Precisaria um motivo maior que a curiosidade genética ou a “vontade de ser como os outros” para eu ter um filho. Só mesmo um amor imenso, intenso, incomensurável para demover a minha convicção, mas o amor à ideia de ter um filho... E eu não tenho esse amor.
Como homem inteligente que ele é, sabe muito bem onde está se metendo... Eu é que já não sei se ele vai seguir em frente.
Em meados dos anos 90 eu estava entrando na universidade; ele estava se casando – e ainda tem isso, porque a ex dele é linda e eu nem chego aos pés da criatura, segundo meu espelho. E como ele discorda, tenho medo de que a visão turva dele seja conseqüência da paixão e que passe com o tempo e lhe venham as comparações.
Eu queria namorar o resto da vida.
A gente se conhece há tanto tempo...
Não queria estar pensando no futuro, seja o futuro que o calendário aponta como junho a agosto deste ano; seja qualquer ideia de futuro. Creio que ele ache que família só é família se houver filho – acho que há a curiosidade genética, que ele quer saber se nossos filhos seriam inteligentes, em que proporção se pareceriam com ele ou comigo...
Não quero casar com ninguém: isso nunca dá certo. O amor se incorpora à rotina, o Outro, tão especial, se torna uma presença indesejável, previsível, castradora... Mas também tenho medo de perder quem me é caro.
Ele é inimigo da ex, como nem suponho que poderia ser: ela o odeia muito e vice-versa. Não quero que isso aconteça com a gente. Não entendo essa transformação do amor em ódio; esse asco em olhar para a cara do outro, a ojeriza, o distanciamento... Casar é uma das piores formas de acabar o amor.
Ele não iria trazer uma cesta de pães após dois anos de união comigo.
A aproximação, com o tempo, iria tirar o brilho do convívio, o prazer da companhia, de compartilhar coisas...
Nem me importo tanto pela leitura cruel que ele fez de mim: conheço os defeitos dele; sei em que pontos ele é conservador...
Mas, enfim, já enrolei o bastante e agora estou contra a parede – só me resta enrolar mais um pouco para ganhar tempo, para vencer a batalha, porque está bom como está, exceto pela distância.
Ah, sei lá... acho que gosto de neuroticamente passar pela casa que era dele, de sonhar com a volta dele, gosto da espera e talvez seja esse o segredo para perdurar a emoção de estar juntos quando o estar juntos é tão ímpar.
Não suporto coisas eternas, mas gosto de boas coisas duráveis... a eternidade é tempo demais, um tempo irritante que não acaba nunca.. é, aliás, a terrível ausência do tempo e das transformações das coisas - não aguento isso, deixo isso para os normais!
Ele sabe que eu gosto de mordidas no pescoço e de sussurros no ouvido - ele sabe tudo, tudo sobre mim! e um dia ele colocou With ou without you, do U2, para tocar e cantou ao meu ouvido:

See the stone set in your eyes
See the thorn twist in your side
I wait for you

Sleight of hand and twist of fate
On a bed of nails she makes me wait
And I wait without you

With or without you
With or without you

Through the storm we reach the shore
You gave it all but I want more
And I'm waiting for you

With or without you
With or without you
I can't live
With or without you

And you give yourself away
And you give yourself away
And you give
And you give
And you give yourself away

My hands are tied, my body bruised
She's got me with
Nothing to win and
Nothing left to lose

And you give yourself away
And you give yourself away
And you give
And you give
And you give yourself away

With or without you
With or without you
I can't live
With or without you



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